São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Spa alemão

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Schumacher comemorou ontem dez anos de sua primeira vitória na F-1, obtida na mesma Spa em que corre pela vitória neste final de semana -aparentemente adaptado ao sistema Ferrari de competir, já reclamou para si a vitória de amanhã, a décima da temporada, um novo recorde na categoria.
Sucesso que poderá também isolar o alemão como maior vencedor nas estradas da floresta das Ardenas, superando outro que tinha predileção pelo circuito belga, Senna -ambos têm cinco.
E se a Michelin não atrapalhar -dos dez primeiros ontem, apenas as duas Ferraris calçavam a concorrente-, Schumacher hoje pode quebrar mais uma escrita, a de nunca ter conquistado uma pole em Spa, único circuito do calendário que o pentacampeão jamais largou da ponta.
(Sennistas fiquem tranquilos, apesar do placar já ser de 47 a 65, o alemão, pela média da carreira e também pela na Ferrari, não deve alcançar o brasileiro.)
Enfim, um importante final de semana para Schumacher, mas também para a escuderia que o transformou em pilar fundamental de um projeto sem igual na história da F-1. Desde o GP da Malásia de 1999, a Ferrari coloca pelo menos um de seus pilotos entre os três primeiros de cada corrida. Amanhã pode ser a 50ª vez.
Mais do que um número redondo ou cheio, esse pódio servirá como uma espécie de mapa para quem quer entender o sucesso ferrarista. Naquele GP em Sepang, Schumacher voltava a correr após convalescer de seu pior acidente, uma perna quebrada em Silverstone, fazendo pole e dando de bandeja a vitória ao então companheiro Irvine, que lutava pelo título com Hakkinen. Limitado, o irlandês não conseguiria depois evitar o bicampeonato do rival.
Talvez Schumacher tenha perdido aquele campeonato para a própria perna. Talvez todo esse atraso tenha feito a Ferrari gastar mais dinheiro. Talvez um companheiro mais competente, Barrichello chegaria em 2000, fosse a peça que faltava. O fato é que a partir daquele GP a Ferrari não parou de colocar gente no pódio, de fazer poles, de vencer. Fez até o que parecia impossível, produzir um pentacampeoão mundial.
Fez mais, transformou a F-1 em um jogo totalmente previsível, escolhendo até quem deve vencer. Isso é ruim para a categoria, mas é obviamente um mérito da escuderia. Qualquer time gostaria de alcançar tamanho domínio. Poucos conseguiram ou conseguirão isso. Nenhum como a Ferrari, que apostou centenas de milhões de dólares em um único sujeito, um piloto fora de série, talvez não o melhor de todos os tempos, mas de longe um dos mais singulares, capaz de produzir tantos recordes como polêmicas. Goste-se ou não, a era Schumacher deve durar enquanto o sujeito tiver disposição.
Ávidos em fabricar um novo rival -já fizeram isso com Hill-, os ingleses apostam em Raikkonen como antídoto, como já apostaram em Montoya e em Ralf. O problema é que o finlandês não tem uma Ferrari nas mãos. E se Schumacher um dia foi conhecido como devorador de companheiros de equipe, agora já alcançou estágio mais avançado: o alemão devora qualquer um que não tenha um carro igual ao dele.
A verdade é que Schumacher faria um bem danado à concorrência se resolvesse ir cuidar das crianças e dos cachorros. Pior, para a maioria é a única esperança.

Genética
À frente dos boxes da Ferrari na Bélgica, uma faixa escrita em alemão pendurada nas arquibancadas faz uma homenagem um tanto estranha ao pentacampeão: "Corinna, quero ter um filho seu". Como se sabe, Corinna é a mãe dos filhos de Schumacher.

Verticalização
Dizem que existe um comprador de peso interessado nas ações da Ferrari, lançadas recentemente nas Bolsas de Valores. A SLEC, a holding criada por Ecclestone para gerenciar a F-1.

Outro lado
A cervejaria Foster's, responsável pela propaganda pintada nos asfaltos em Hungaroring e em Spa, promoveu uma reunião com os chefes de equipe para tranquilizá-los. Segundo a empresa, foi utilizada uma tinta especial que não provocará alterações de aderência na pista mesmo que a Bélgica seja submetida a um dilúvio.

E-mail mariante@uol.com.br



Texto Anterior: O que é, o que é?: Torneio acontece a cada 4 anos e está na 2ª edição
Próximo Texto: Basquete: Brasileiros vencem no último segundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.