São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001

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Torcidas organizadas exigem saída de 5 atletas e do técnico Cabralzinho

Santos tem o CT invadido

Mauricio de Souza/Futura Press
Torcedores do Santos agridem segurança do clube após invadirem o CT Rei Pelé para cobrar respeito e empenho dos jogadores


FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Devido à derrota por 2 a 0 para o Corinthians no último domingo, um grupo de cerca de 50 integrantes de facções organizadas invadiu ontem o centro de treinamento do Santos para cobrar empenho e exigir a saída de jogadores e do treinador Cabralzinho.
Depois de entrar por um dos portões do CT Rei Pelé disparando rojões, uma parte dos torcedores correu em direção aos jogadores, e outra se dirigiu a um dos alambrados que separa os campos de treinos para pregar faixas.
Não houve agressão a atletas porque os manifestantes foram contidos pela segurança. Apesar disso, um dos seguranças caiu e recebeu socos e pontapés.
Os invasores ainda ameaçaram o repórter Vágner Lima, da TV Gazeta, que teve o microfone atirado no chão e foi impedido de entrevistar jogadores. Depois da chegada de uma guarnição da Polícia Militar, os torcedores começaram a deixar o CT.
O protesto envolveu integrantes de Santos e de São Paulo dos agrupamentos organizados Torcida Jovem, Sangue Jovem e Força Jovem. As faixas continham inscrições como "Vergonha mais uma vez!", "Se o Santos não se classificar, o bicho vai pegar" e pediam a saída de Cabralzinho e dos jogadores Viola, Paulo Almeida, Russo, Robert e Marcelo Silva.
"A torcida do Corinthians bateu neles, e eles foram campeões. Com a gente, sempre foi na paz. Agora, chega. Queremos respeito e empenho", disse Júnior Dias de Souza, da Torcida Jovem.
No momento do tumulto, a maioria dos titulares se encontrava na sala de musculação. Os jogadores Marcelo Silva, Preto, Galván, Fábio Costa e Válber, que estavam em um dos campos, além do auxiliar Serginho Chulapa, se dirigiram aos torcedores para apaziguar os ânimos.
"Fora de campo, eles podem fazer o que quiserem, mas no nosso local de trabalho, não. A gente não está aqui para ser agredido", afirmou o volante Marcelo Silva.
"Ninguém gosta de perder para o Corinthians. O torcedor pode se manifestar. Mas o caminho não é por aí", disse Serginho Chulapa.
O vice-presidente do Santos, Norberto da Silva, disse ter estranhado o fato de a manifestação ter ocorrido ontem, dois dias depois da partida. Ele relacionou o episódio à eleição para a presidência do clube, para a qual já existe pelo menos uma chapa de oposição.
"No domingo, depois do jogo, não houve protesto. É surpresa isso ocorrer a pouco mais de 30 dias de um processo eleitoral", disse.
Ex-jogador, Silva rechaçou a acusação dos torcedores, segundo a qual a falta de empenho dos atletas foi a causa da derrota. Para ele, houve "excesso de vontade".
"Todo excesso leva a uma falta de concentração. Para jogar futebol, você não pode estar nem além nem aquém. Tem de estar em equilíbrio", declarou.
Xingado de "incompetente" pelos torcedores, Cabralzinho reuniu os atletas no centro de um dos gramados para um "trabalho de recuperação emocional".
Para o técnico, o Santos "perdeu o embalo" após vencer o Atlético-MG por 1 a 0 fora de casa e permanecer duas semanas sem jogar antes do clássico com o Corinthians.
No momento do protesto, Viola, um dos alvos da manifestação, deixou o CT por um dos portões, contornou o quarteirão e entrou por outro portão, junto à sala de musculação. Ele também considerou que o protesto foi motivado por interesses eleitorais.
"É o momento político que o Santos vai atravessar. Então, vão querer atingir os principais jogadores para desestabilizar. Mas sabemos que os torcedores fiéis não fazem isso", afirmou.


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