São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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Após confirmar o doping, Daiane tem defesa fraca

Ginasta afirma que estava inelegível para se submeter a exame por causa do afastamento dos treinos e da seleção

Confederação de ginástica diz desconhecer que atleta, que alega fazer tratamento para gordura localizada, usava substância proibida

DA REPORTAGEM LOCAL

O caso da ginasta Daiane dos Santos é um exemplo do desconhecimento por parte dos atletas e dirigentes brasileiros das regras que regem o esporte quando o assunto é doping.
Após o anúncio da Federação Internacional de Ginástica, ontem, de que a ginasta brasileira testara positivo para o diurético furosemida -o 26º caso de doping no país no ano-, Daiane, seu advogado Cristian Rios, uma junta médica e os dirigentes do Esporte Clube Pinheiros discutiram qual seria a estratégia de defesa em uma reunião.
A atleta alega que, após duas cirurgias no joelho, comunicou, por meio de carta oficial de seu clube, acompanhada de diagnóstico do médico Wagner Castropil, o seu afastamento dos treinos e competições.
Assim, no entendimento da defesa, Daiane não estaria apta para se submeter a exames.
"Com base nessas informações, a Confederação Brasileira de Ginástica excluiu Daiane da seleção brasileira permanente, em 23 de outubro de 2008, data que a atleta se tornou inelegível para a realização de exames antidopings", comunicou ontem o Pinheiros. "Cumpria à confederação, também, notificar a Federação Internacional de Ginástica sobre o histórico e a situação da atleta", seguiu a nota.
Mas o fato de a atleta estar fora da seleção brasileira não a torna inelegível. Isso ocorre só em caso de aposentadoria.
"Não procede [ela estar inelegível]. Ela poderia apresentar, por meio de laudo médico, uma isenção de uso terapêutico à confederação e à federação", afirma o advogado Thomaz Mattos de Paiva, da agência antidoping da Confederação Brasileira de Atletismo.
"A Daiane conhece bem as regras e não pode alegar que desconhecia a substância", diz Eliane Martins, que supervisionou a ginasta de 2002 a 2008.
A atual presidente da CBG, Maria Luciene Resende, declara que a entidade não foi informada do uso do diurético. "É triste. E espero que não seja verdade nem denigra a imagem dela. Sabíamos das cirurgias, mas não dessa medicação."
O advogado de Daiane diz que a atleta, no dia do exame, informou que estava fazendo uso de medicação. "A federação não flagrou Daiane. Só confirmou o que ela disse a eles."
Segundo Diego Hypólito, ele, Daiane e Jade Barbosa foram testados no mesmo dia, em julho. "Coletaram só urina. Eu estava na academia, a Jade, no Flamengo, e a Daiane, em São Paulo. O estranho foi terem feito exame na Daiane, que não competia. Ela não fez para se dopar, tenho certeza disso."
Ingenuidade ou não, a atleta admite ter usado a substância em tratamento estético que faz, com médicos particulares, para reduzir gordura localizada.
Ela tem até o dia 13 para apresentar sua defesa. Segundo o regulamento, pode ser punida com até dois anos de suspensão. "A carta do Pinheiros poderá ser apresentada em sua defesa e servir como um atenuante", afirmou Paiva.
Neste primeiro momento, a ginasta goza de privilégio. No último mês, o Pinheiros rompeu contrato com a triatleta Mariana Ohata, que foi à Olimpíada de Pequim-2008, após ter sido flagrada com a mesma substância. (JOSÉ EDUARDO MARTINS E CRISTIANO CIPRIANO POMBO)


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