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Andrade, apesar de ser antitécnico, conduz Flamengo
Após ser efetivado, ex-volante que usa a retórica do boleiro melhorou o time com dois zagueiros e apostando em meias
Contra o Santos hoje, no Maracanã, clube carioca precisa de uma vitória para seguir sonhando com o seu quinto título do Brasileiro
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Os cariocas cultivam brincadeiras sobre o que seria identificação maior dos habitantes de
Juiz de Fora (MG) com o Rio de
Janeiro do que com o Estado
onde a cidade fica. Exemplo:
por que os prédios de Juiz de
Fora têm torneira na entrada?
Para os moradores tirarem a
areia ao voltar da praia.
Os endereços seriam tipo "av.
Brasil 100 mil", blague com a
via de acesso ao Rio. Foi por ela
que em 1974, na virada dos 16
para os 17 anos, Jorge Luís Andrade da Silva chegou de Juiz
de Fora para o Flamengo.
Se dentro de campo o ingresso de Petkovic foi decisivo para
a arrancada da equipe, antes insípida no Brasileiro, fora dele o
sal foi a promoção do antigo auxiliar Andrade, 52, a técnico.
Ele quebrou o paradigma de
três zagueiros (diminuiu para
dois) e ataque concentrado nos
laterais (apostou nos meias). O
Datafolha demonstra que a
grande evolução é defensiva.
Com Andrade no banco e Pet
voltando de suspensão, o Flamengo tenta alimentar hoje
seu fio de esperança no título
nacional, a partir das 18h30,
contra o Santos, no Maracanã.
O time está em sexto lugar,
com 51 pontos. "A princípio,
nosso objetivo é a Taça Libertadores. Mas, se nos derem oportunidade, vamos pensar no título", sonha Andrade.
Como tantos garotos de Minas, ele torcia para um clube
carioca na infância, o Botafogo,
antes de se encantar com o Flamengo. Seu pai era eletricista
da Rede Ferroviária Federal e a
mãe, dona de casa.
Jogava de meia-atacante.
Tornou-se meia defensivo e
celebrizou-se no time campeão
mundial de 1981 (bateu o Liverpool) liderado por Zico.
Como treinador, é o antitécnico. Se a bossa é falar difícil,
Andrade exibe a retórica de boleiro. Enquanto colegas urram
à beira do gramado e têm chilique nas entrevistas, nada abala
sua calma monástica.
Esquemas de marketing amparam os profissionais, ensinam-lhes a falar em público, e
Andrade se faz entender com a
dicção pouco desenvolta.
Em um ofício -o de técnico- de brancos no país de craques negros, ele contrasta também na cor.
Se os colegas ostentam frieza
dita profissional no entra e sai
dos clubes, Andrade chorou de
soluçar em uma vitória.
Foi no triunfo sobre o Santos,
sua primeira partida depois da
demissão do técnico Cuca, de
quem era auxiliar.
Ele passou anos no Flamengo tapando buraco. Não o efetivavam. Depois do 2 a 1 na Vila
Belmiro, a torcida gritou "Fica,
Andrade!". O velho ídolo ficou.
Outra característica sua pode
ser qualidade, jogo de cintura,
ou fraqueza, personalidade fraca: ele evita choques.
Sub de Cuca em 2005, o chefe
mandou-o ficar de "boneco"
em uma barreira, durante treino, a levar boladas. "Isso não
me diminuiu", minimiza. "Eu
estava ali para ajudar."
Neste ano, apitava uma pelada do time, e o goleiro Bruno
deu um piti devido a uma marcação. O jogador gritou que Andrade, dos maiores vencedores
de títulos brasileiros, não ganhou nada no futebol.
Na quarta, substituído na
derrota para o Barueri, que
quebrou série do Fla de dez jogos sem derrota, o lateral Juan
protestou. Logo desculpou-se.
"De fora, tenho que estar de cabeça fria para tomar as melhores soluções", diz Andrade.
Ele julga que o técnico com
quem mais aprendeu foi Cláudio Coutinho. O melhor volante, sua posição, que viu atuar foi
Carpegiani. Entre Palmeiras e
São Paulo, aposta no tricolor:
"Vejo o São Paulo mais aguerrido, um time mais de chegada".
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