São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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Andrade, apesar de ser antitécnico, conduz Flamengo

Após ser efetivado, ex-volante que usa a retórica do boleiro melhorou o time com dois zagueiros e apostando em meias

Contra o Santos hoje, no Maracanã, clube carioca precisa de uma vitória para seguir sonhando com o seu quinto título do Brasileiro

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Os cariocas cultivam brincadeiras sobre o que seria identificação maior dos habitantes de Juiz de Fora (MG) com o Rio de Janeiro do que com o Estado onde a cidade fica. Exemplo: por que os prédios de Juiz de Fora têm torneira na entrada? Para os moradores tirarem a areia ao voltar da praia.
Os endereços seriam tipo "av. Brasil 100 mil", blague com a via de acesso ao Rio. Foi por ela que em 1974, na virada dos 16 para os 17 anos, Jorge Luís Andrade da Silva chegou de Juiz de Fora para o Flamengo.
Se dentro de campo o ingresso de Petkovic foi decisivo para a arrancada da equipe, antes insípida no Brasileiro, fora dele o sal foi a promoção do antigo auxiliar Andrade, 52, a técnico.
Ele quebrou o paradigma de três zagueiros (diminuiu para dois) e ataque concentrado nos laterais (apostou nos meias). O Datafolha demonstra que a grande evolução é defensiva.
Com Andrade no banco e Pet voltando de suspensão, o Flamengo tenta alimentar hoje seu fio de esperança no título nacional, a partir das 18h30, contra o Santos, no Maracanã.
O time está em sexto lugar, com 51 pontos. "A princípio, nosso objetivo é a Taça Libertadores. Mas, se nos derem oportunidade, vamos pensar no título", sonha Andrade.
Como tantos garotos de Minas, ele torcia para um clube carioca na infância, o Botafogo, antes de se encantar com o Flamengo. Seu pai era eletricista da Rede Ferroviária Federal e a mãe, dona de casa.
Jogava de meia-atacante. Tornou-se meia defensivo e celebrizou-se no time campeão mundial de 1981 (bateu o Liverpool) liderado por Zico.
Como treinador, é o antitécnico. Se a bossa é falar difícil, Andrade exibe a retórica de boleiro. Enquanto colegas urram à beira do gramado e têm chilique nas entrevistas, nada abala sua calma monástica.
Esquemas de marketing amparam os profissionais, ensinam-lhes a falar em público, e Andrade se faz entender com a dicção pouco desenvolta.
Em um ofício -o de técnico- de brancos no país de craques negros, ele contrasta também na cor.
Se os colegas ostentam frieza dita profissional no entra e sai dos clubes, Andrade chorou de soluçar em uma vitória.
Foi no triunfo sobre o Santos, sua primeira partida depois da demissão do técnico Cuca, de quem era auxiliar.
Ele passou anos no Flamengo tapando buraco. Não o efetivavam. Depois do 2 a 1 na Vila Belmiro, a torcida gritou "Fica, Andrade!". O velho ídolo ficou.
Outra característica sua pode ser qualidade, jogo de cintura, ou fraqueza, personalidade fraca: ele evita choques.
Sub de Cuca em 2005, o chefe mandou-o ficar de "boneco" em uma barreira, durante treino, a levar boladas. "Isso não me diminuiu", minimiza. "Eu estava ali para ajudar."
Neste ano, apitava uma pelada do time, e o goleiro Bruno deu um piti devido a uma marcação. O jogador gritou que Andrade, dos maiores vencedores de títulos brasileiros, não ganhou nada no futebol.
Na quarta, substituído na derrota para o Barueri, que quebrou série do Fla de dez jogos sem derrota, o lateral Juan protestou. Logo desculpou-se. "De fora, tenho que estar de cabeça fria para tomar as melhores soluções", diz Andrade.
Ele julga que o técnico com quem mais aprendeu foi Cláudio Coutinho. O melhor volante, sua posição, que viu atuar foi Carpegiani. Entre Palmeiras e São Paulo, aposta no tricolor: "Vejo o São Paulo mais aguerrido, um time mais de chegada".


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