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free way
Admirável Mundo Novo
GUSTAVO IOSCHPE
especial para a Folha
Das muitas diferenças entre
uma boa universidade americana e uma brasileira (já cursei as
duas), talvez a mais gritante seja
o uso da tecnologia. Computadores são hoje ferramenta tão
corriqueira quanto livros e cadernos, e quem não souber utilizá-los, especialmente a Internet, vai comer poeira.
O negócio já começa diferente: para a matrícula, nada
de ir assinar formulário ou
entrar em fila. Um site da faculdade apresenta as aulas disponíveis e seus horários, você
entra com seu número de identificação, o código da aula desejada e se encerra a fatura.
Chegando à aula, a tecnologia
também come solta. Em primeiro lugar, os professores têm uma
folha com o nome de todos os
alunos, mais seus dados biográficos (origem, escola, semestre
etc.) e, atenção para o requinte,
uma foto do indivíduo. (Foto
obtida por meio de uma câmera
digital que tira o retrato de todo
mundo no começo de cada ano
para a carteirinha da universidade e guarda a imagem num banco de dados. A carteirinha, por
sinal, contém um chip, que permite ao usuário depositar dinheiro virtual e usá-lo nas múltiplas máquinas de bebida, comida, xerox etc. espalhadas pelo
campus.)
Ainda na sala de aula, o professor tem uma lista com os e-mails
dos alunos e frequentemente os
usa para se comunicar com a
turma, mandando sugestões de
leitura, avisando sobre exames,
recomendando um website com
informações pertinentes à aula.
Grande parte dos professores
faz um site da aula, com todas as
informações sobre o curso, a lista de leituras para cada dia, os
deveres de casa e, muitas vezes,
também slides com suas aulas,
substituindo assim o quadro-negro. Os mais vaidosos também aproveitam para colocar sua foto ou, dependendo da feiúra, seu currículo e "papers" publicados.
Os mais entusiastas do mundo
cibernético usam a rede para
que os alunos entreguem os trabalhos, dispensando assim as pilhas de papel. Outro, tarado,
mandava planilhas eletrônicas a
serem resolvidas, que continham, escondidas, macros que
gravavam de quando a quando o
trabalho havia sido feito e qual
parte havia sido feita primeiro,
assim impossibilitando o aluno
de copiar o trabalho de um colega.
O uso da informática, claro,
não se restringe a professores,
virou parte fundamental também da vida dos alunos. Usa-se a
rede para trocar informações
com colegas; para comprar livros para a aula por meio de serviços on line, assim driblando a
livraria careira da faculdade; e
principalmente para fazer pesquisa. Poucos trabalhos saem
sem a ajuda da Internet, já que a
quantidade de informação é absolutamente espantosa.
Nem tudo, claro, é uma mar de
rosas. O mundo informatizado
implica um mundo impessoal,
distante, pra que ir falar com o
professor se você pode mandar
um e-mail? Perde-se assim grande parte da profundidade do ensino, mas, como pouca gente está aqui pra aprender, e sim pra
tirar notas boas que leve a bons
empregos, tudo bem.
O problema maior é ainda dos
contraventores da Net, que,
muito mais escolados que os velhos professores, tiram vantagem. Um colega meu simplesmente copiava textos da Net para seus trabalhos e depois ia a
um desses sites que vendem livros e colocava na sua bibliografia todos os títulos disponíveis
referentes a seu trabalho. Sempre tirava notas altas e se formou
sem ser pego. Se um puritano
desses fazia isso, só fica espaço
pra pensar a quantidade de malandragem a ser criada quando o
"cyberspace" definitivamente
invadir as terras tupiniquins.
Gustavo Ioschpe, 21, é escritor e estuda administração na Wharton School e ciência política na University of Pennsylvania, EUA, e-mail: desembucha@cyberdude.com
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