São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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SEXO & SAÚDE

Jairo Bouer - jbouer@uol.com.br

Trote é para cavalo

Para muita gente que entrou nas universidades públicas, o ano escolar começa hoje. Para outros, principalmente os das faculdades particulares, as aulas engrenam de vez agora em março.
Na última semana, mais um trote violento -ocorrido na cidade de Barretos (interior de São Paulo)-, que provocou queimaduras em sete calouros, voltou a ganhar os noticiários da TV e as páginas dos jornais.
Afinal de contas, por que é necessário esse rito antiquado e inadequado de entrada no ensino superior? Depois de tanto esforço com estudos, cursinho, provas inacabáveis e tremenda concorrência, não terão nossos calouros pago o suficiente por essa difícil fase da vida? Por que resta ainda essa conta salgada com os veteranos?
Há quem diga que o objetivo final do trote é a confraternização, a comemoração do sucesso da aprovação, o cartão de entrada para uma nova fase da vida. Mas será que isso combina com humilhação, violência, desrespeito e imposições? A meu ver, definitivamente não!
Não consigo enxergar o menor sentido ou ver a menor graça em fazer as pessoas tomarem banho de lama, serem obrigadas a raspar ou cortar cabelos, passar horas no sol pedindo dinheiro nos semáforos, tudo isso para ter acesso ao "clubinho" de quem já entrou na faculdade. Não existe uma maneira mais inteligente e solidária de comemorar tudo isso?
Há sempre algum veterano (em geral movido pelo excesso de bebida) que "perde a mão" e acaba sendo mais violento, mais agressivo e acaba expondo os calouros a riscos absolutamente desnecessários.
A própria palavra trote já traz uma conotação negativa ("zombarias impostas aos calouros, troça, indiscrição", segundo o dicionário Aurélio). Por que e para que, então, ele deve existir? Muitas instituições proibiram nos últimos anos os trotes violentos, mas, em muitos lugares, eles continuam a ocorrer, até fora das faculdades.
Não há como dar certo uma fórmula que impõe humilhação e ameaça de violência a grupos de jovens, feitas por outros grupos de jovens. E não venham com a história de que, porque os veteranos já passaram por isso, todos os calouros devem passar também. Tremenda bobagem! Está na hora de virar esse jogo e festejar o ingresso na faculdade valorizando os calouros!


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