São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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02 NEURÔNIO

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Limbo olímpico

UMA DAS GRANDES tristezas do mundo é a falta de crença no próprio mundo. Não acreditamos mais em nada. Nem mesmo no Segredo de Fátima. Não acreditamos em um final pacífico de qualquer conflito, na boa vontade do ser humano, no fim da poluição, nem mesmo em um novo messias que surgirá do além dizendo: "Galera, vamos fugir por aqui!".
Apesar disso, em eventos como os Jogos Olímpicos, damos para acreditar em tudo. No espírito olímpico, no Brasil, na Jade Barbosa, num cavaleiro de quem não sabemos o nome. Acreditamos até mesmo no Dunga. E na salvação das almas pelo futebol, pelo voleibol e pela bocha. Acreditamos que uma medalha qualquer em um esporte bizarro terá um poder de transformação mágico em nossas vidas. E isso é ótimo. Delicioso.
Em épocas de olimpíadas nem nos lembramos de que, na vida real, odiamos esportes e de que a última competição que participamos foi handebol na terceira série. E perdemos. Também não levamos em conta que no Brasil ninguém apóia o esporte e que para conseguir uma medalha de ouro você precisa ter um "paitrocínio" e ir treinar no estrangeiro. E que, no resto do ano, achamos um saco quando passa um jogo de vôlei de praia na televisão e nem sabemos os números dos canais de esporte na TV. E aí a Olimpíada acaba. E nós, que estávamos indo dormir às quatro da manhã para ver um jogo de par ou ímpar, vamos parar no limbo.
O Limbo Olímpico. Uma espécie de purgatório com pessoas vagando tristes com suas medalhas de latão. Até uma semana atrás, bastava alguém subir no pódio para a gente chorar. Mesmo que fosse um atleta desconhecido de um país desconhecido. Mesmo não. Principalmente.
Agora o mundo voltou a ficar sem graça. E a gente, que acreditava em medalhas, precisa urgentemente acreditar em alguma outra bobagem.
Não vai ser em Deus nem em príncipe encantado. Dessas coisas já estamos vacinadas. Seguir um seriado de TV? Não gostamos mais, pois não é gente de verdade. Se empolgar com o show da Madonna? Não conseguimos, pois ela também não é gente de verdade. Huum, tivemos uma idéia. Vamos começar a fazer (de novo) campeonatos de Imagem e Ação. A gente pode até desenhar medalhas de papel. Topam?

Momento de histeria

O importante não é competir. É se enganar!


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