São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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Gênio do pop revela a fórmula do sucesso

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Lápis e papel na mão. Um dos maiores compositores pop, Mike Stock, vai dar a fórmula do sucesso (se você não for músico, paciência. Prometo que, nos parágrafos seguintes, o texto fica mais interessante).
Diz ele: "Se você estiver na escala de dó, comece em fá maior e aí finalize em dó. Depois de tocar o fá, suba o tom para sol, mas continue marcando o baixo em fá. Isso cria tensão -e a música já começa a atrair. Aí você cai para mi menor e depois para lá menor. No final, se for o caso, você vai para dó".
Quem toca algum instrumento sabe que existem uns 5 milhões de músicas com essa seqüência de acordes. Quando liguei para o músico, jornalista e brother desta coluna Cássio Leite Vieira, ele deu uma de João Gilberto e tocou várias para mim ao telefone. Como, então, fugir do lugar-comum? Voltamos a Mike Stock: "Uso muito esses acordes. A chave é como ser criativo dentro dos limites que eles me impõem".
Mike Stock é do trio Stock, Aitken e Waterman, que dominou o cenário pop nos anos 80. Mais ou menos como os Neptunes hoje.
Só duas descobertas de Stock, Aitken e Waterman já bastariam para justificar a presença deles no mundo: a dupla pop-new wave Bananarama e a deusa australiana Kylie Minogue. É deles, por exemplo, "I Should Be So Lucky", o primeiro sucesso grandioso de Kylie.
As dicas de Stock estão numa entrevista para a revista britânica de notícias científicas "New Scientist", que fez há algumas semanas um especial sobre música.
Os "insights" do cara são fortes.
"Noventa por cento de minhas canções começam com um título que resume a idéia por trás da música. Pode ser uma frase que ouvi, daquelas que pegam, instigam. Às vezes a própria frase já sugere um ritmo. Seria difícil compor "I Should Be So Lucky" como valsa."
"Para mim, só existem duas canções: as em que você está triste e as em que você está alegre. De saída, essas são as restrições. É tudo uma questão de reescrever o que é familiar, e essa imposição me torna mais criativo."
"Eu sinto quando estou diante de um sucesso. Quando escuto um pela primeira vez, já detecto padrões antes mesmo de notar o que diz a letra. Eu percebo padrões de notas e o ritmo das palavras. Fico arrepiado. Nem sei como é a letra, mas a canção me toca. É quase subliminar."
Por fim, Stock faz uma profissão de fé na ourivesaria pop.
"Eu me vejo como alguém que serve ao público, e não que tenta impor suas idéias. Com o Blur, ou com o Oasis, é o ouvinte que tem de entrar no mundo deles. Mas no meu mundo, que é puro pop, as canções é que vão ao encontro das pessoas. Profissionalmente, eu não tento compor de acordo com meu gosto, mas, sim, com o gosto do artista e de seu público. Passo o tempo todo pensando em como cativar as pessoas, dar prazer, entusiasmo, emoção."
Mike Stock, 53. Esse é o cara.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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