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Gênio do pop revela a fórmula do sucesso
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Lápis e papel na mão. Um dos maiores compositores pop, Mike Stock, vai dar a fórmula do sucesso (se você não for músico, paciência. Prometo que, nos parágrafos seguintes, o
texto fica mais interessante).
Diz ele: "Se você estiver na escala de dó, comece em fá maior e aí finalize em dó. Depois
de tocar o fá, suba o tom para sol, mas continue marcando o baixo em fá. Isso cria tensão
-e a música já começa a atrair. Aí você cai
para mi menor e depois para lá menor. No final, se for o caso, você vai para dó".
Quem toca algum instrumento sabe que
existem uns 5 milhões de músicas com essa
seqüência de acordes. Quando liguei para o
músico, jornalista e brother desta coluna Cássio Leite Vieira, ele deu uma de João Gilberto e
tocou várias para mim ao telefone. Como, então, fugir do lugar-comum? Voltamos a Mike
Stock: "Uso muito esses acordes. A chave é
como ser criativo dentro dos limites que eles
me impõem".
Mike Stock é do trio Stock, Aitken e Waterman, que dominou o cenário pop nos anos
80. Mais ou menos como os Neptunes hoje.
Só duas descobertas de Stock, Aitken e Waterman já bastariam para justificar a presença
deles no mundo: a dupla pop-new wave Bananarama e a deusa australiana Kylie Minogue.
É deles, por exemplo, "I Should Be So Lucky",
o primeiro sucesso grandioso de Kylie.
As dicas de Stock estão numa entrevista para a revista britânica de notícias científicas
"New Scientist", que fez há algumas semanas
um especial sobre música.
Os "insights" do cara são fortes.
"Noventa por cento de minhas canções começam com um título que resume a idéia por
trás da música. Pode ser uma frase que ouvi,
daquelas que pegam, instigam. Às vezes a
própria frase já sugere um ritmo. Seria difícil
compor "I Should Be So Lucky" como valsa."
"Para mim, só existem duas canções: as em
que você está triste e as em que você está alegre. De saída, essas são as restrições. É tudo
uma questão de reescrever o que é familiar, e
essa imposição me torna mais criativo."
"Eu sinto quando estou diante de um sucesso. Quando escuto um pela primeira vez, já
detecto padrões antes mesmo de notar o que
diz a letra. Eu percebo padrões de notas e o ritmo das palavras. Fico arrepiado. Nem sei como é a letra, mas a canção me toca. É quase
subliminar."
Por fim, Stock faz uma profissão de fé na ourivesaria pop.
"Eu me vejo como alguém que serve ao público, e não que tenta impor suas idéias. Com
o Blur, ou com o Oasis, é o ouvinte que tem de
entrar no mundo deles. Mas no meu mundo,
que é puro pop, as canções é que vão ao encontro das pessoas. Profissionalmente, eu não
tento compor de acordo com meu gosto, mas,
sim, com o gosto do artista e de seu público.
Passo o tempo todo pensando em como cativar as pessoas, dar
prazer, entusiasmo,
emoção."
Mike Stock, 53. Esse
é o cara.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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