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música
Outubro e os meninos em guerra
Álbuns clássicos do U2 são relançados em edições especiais com CDs e livros
PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Católicos e protestantes fizeram da Irlanda uma praça de
guerra, dividindo famílias, cindindo
amizades e ceifando vidas.
Conflitos internos e externos
criaram o cenário sombrio de
onde emergiria, afiada como lâmina, uma das maiores bandas
de todos os tempos. Injetando
reflexão e religiosidade no surrado trinômio sexo, drogas e
rock'n'roll, o U2 transcendeu a
esfera do entretenimento e se
firmou como um dos grupos
mais influentes do seu tempo.
É por isso que, ávidos por
quantidade e qualidade, seus
fãs são brindados com este relançamento primoroso de seus
três primeiros álbuns.
Com a crise do CD, o surpreendente aumento das vendas do vinil e a escalada desordenada da música digital, as
gravadoras se voltam para o
clássico. "Boy", "October" e
"War" ressurgem em pequenas
caixas com dois CDs, um original e um outro com versões ao
vivo e lados B, livro com fotos
inéditas, letras e textos de renomados jornalistas.
Remasterizados por The Edge, os álbuns ressurgem frescos
(no bom sentido), modernos,
ungidos da veemência e sinceridade que se tornaria a marca
do U2, mas sem o refinamento
quase erudito que, pouco tempo depois, Brian Eno e Daniel
Lanois imprimiriam às texturas de "Unforgettable Fire".
Produzidos por Steve Lillywhite, estes primeiros trabalhos marcariam o mundo com
hits como "I Will Follow",
"Sunday Bloody Sunday" e
"New Year's Day", pavimentando o caminho para o posto
de maior banda de rock do planeta, que se confirmaria com
"The Joshua Tree".
O bom gosto da primeira capa e da seguinte, com o menino
Radar, também recheiam os livretos, que reproduzem capas
dos singles que nós, brasileiros,
não tivemos oportunidade de
conhecer graças aos oráculos
de nossa indústria fonográfica.
O U2 anunciou seu novo CD
para breve. Num mundo onde
Hannah Montana reina suprema, estes lançamentos reacendem nossa fé no bom e velho
rock. Ainda hoje não me conformo com a perda das maravilhosas e lúdicas capas do vinil.
O iPod pode armazenar bytes
de música, mas não substitui o
prazer de manusear uma bela
edição como essa. Ou talvez eu
apenas esteja ficando velho.
PAULO RICARDO É MÚSICO
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