São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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música

Outubro e os meninos em guerra

Álbuns clássicos do U2 são relançados em edições especiais com CDs e livros

PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Católicos e protestantes fizeram da Irlanda uma praça de guerra, dividindo famílias, cindindo amizades e ceifando vidas. Conflitos internos e externos criaram o cenário sombrio de onde emergiria, afiada como lâmina, uma das maiores bandas de todos os tempos. Injetando reflexão e religiosidade no surrado trinômio sexo, drogas e rock'n'roll, o U2 transcendeu a esfera do entretenimento e se firmou como um dos grupos mais influentes do seu tempo.
É por isso que, ávidos por quantidade e qualidade, seus fãs são brindados com este relançamento primoroso de seus três primeiros álbuns.
Com a crise do CD, o surpreendente aumento das vendas do vinil e a escalada desordenada da música digital, as gravadoras se voltam para o clássico. "Boy", "October" e "War" ressurgem em pequenas caixas com dois CDs, um original e um outro com versões ao vivo e lados B, livro com fotos inéditas, letras e textos de renomados jornalistas.
Remasterizados por The Edge, os álbuns ressurgem frescos (no bom sentido), modernos, ungidos da veemência e sinceridade que se tornaria a marca do U2, mas sem o refinamento quase erudito que, pouco tempo depois, Brian Eno e Daniel Lanois imprimiriam às texturas de "Unforgettable Fire".
Produzidos por Steve Lillywhite, estes primeiros trabalhos marcariam o mundo com hits como "I Will Follow", "Sunday Bloody Sunday" e "New Year's Day", pavimentando o caminho para o posto de maior banda de rock do planeta, que se confirmaria com "The Joshua Tree".
O bom gosto da primeira capa e da seguinte, com o menino Radar, também recheiam os livretos, que reproduzem capas dos singles que nós, brasileiros, não tivemos oportunidade de conhecer graças aos oráculos de nossa indústria fonográfica.
O U2 anunciou seu novo CD para breve. Num mundo onde Hannah Montana reina suprema, estes lançamentos reacendem nossa fé no bom e velho rock. Ainda hoje não me conformo com a perda das maravilhosas e lúdicas capas do vinil. O iPod pode armazenar bytes de música, mas não substitui o prazer de manusear uma bela edição como essa. Ou talvez eu apenas esteja ficando velho.


PAULO RICARDO É MÚSICO



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