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>>Álvaro Pereira Júnior
cby2k@uol.com.br
A Ilustrada, ou por que a gente é assim
LEIO, VIDRADO, EM CÓPIA emprestada de
um amigo, "Pós-Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada", o almanaque de aniversário do caderno cultural da Folha. Vou direto, é claro, às páginas que tratam dos anos
1980. Não há como descrever, a um leitor jovem, a importância da
Ilustrada para minha
geração. Lá escreviam
Paulo Francis e Pepe
Escobar. A Ilustrada
era o canal.
Francis era a metralhadora furiosa que
apresentou de tudo a
um monte de moleques com alguma aspiração intelectual, mas
que não vinham de nenhuma tradição artístico-literária. De Italo
Calvino a Gay Talese,
de Edmund Wilson a Norman Mailer, da "Esquire" à
"New York Review of Books" e à "New Yorker".
E Pepe trouxe erudição e inquietude à crítica brasileira de música pop, cinema e literatura. Um viajante
extremo, cosmopolita, amado e odiado em igual intensidade. Pepe é ouvido em "Pós-Tudo". Aliás, o único
entrevistado ao qual se fazem perguntas mais duras,
inclusive extrajornalísticas (como foi a briga com o
Nasi? e aquele soco numa festa?).
"Pós-Tudo" é um panegírico. Não se pode esperar
que aborde criticamente seu objeto. Ainda assim, a
meu ver, exagera na leveza. Inicia perguntas com frases do tipo "você foi possivelmente o maior cronista
de comportamento jovem dos anos 1980" (entrevista
com Angeli) e "você, que foi também um excelente
pauteiro da Ilustrada" (entrevista com Leão Serva).
A Ilustrada da minha época já como jornalista
(nunca trabalhei no caderno, mas era colaborador e
vizinho) praticamente inexiste em "Pós-Tudo". André
Forastieri e Carlos Rennó são citados uma só vez, e
nomes como Thales de Menezes e Marcos Smirkoff,
nem isso.
Por fim, o livro aborda como processo contínuo algo
que, a meu ver, representou na verdade uma forte ruptura. O relaxamento da atitude essencialmente crítica,
representada por gente como Pepe e Forastieri, para,
a partir dos anos 1990 de Érika Palomino, abraçar
também um tipo de jornalismo amigo e "construtivo",
participante de cena que cobre, ao menos na área pop.
Mas, enfim, cada geração com sua bronca. Essa é a
minha.
P.S.: Vá correndo à página 176, onde Pepe Escobar
escreve sobre o Clash.
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