|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ao vivo, novas canções hipnotizam a platéia
JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
Faz tempo que o Radiohead entra em
campo com o jogo ganho. Mas o show
em Londres, a uma semana do lançamento de "Hail to the Thief", foi ainda
mais fácil. Tocar para fãs que madrugaram na frente de um computador à espera do momento certo para comprar o
bilhete -as entradas só estavam disponíveis on-line- é covardia.
Todos os ingressos para essa última
data da curta turnê pelo Reino Unido
evaporaram há meses. Mesmo assim,
centenas de pessoas fizeram fila, na
esperança de que alguma entrada devolvida fosse colocada à venda.
Para quem tinha muita grana, bastava
desembolsar as 100 libras (cerca de R$
500) pedidas pelos cambistas. Na porta,
com a carteira vazia, a estudante Rachel
Campbell, 17, resolveu improvisar. "Sou
fã, tenho pouco dinheiro e PRECISO entrar!", escreveu em um cartaz. "Espero
uma boa alma me ajudar", disse.
Os fãs que conseguiram entrar foram
submetidos a duas horas de muito "Kid
A", "Amnesiac" e "Hail to the Thief".
Quem acompanha a trajetória do grupo sabe que, desde "Kid A", de 2000, o
Radiohead deixou de seguir as regras básicas do pop-rock. Por isso, não surpreende o fato de os dois guitarristas começarem o show tocando percussão.
Os improvisos não pararam por aí.
Jonny Greenwood e Ed O'Brien, excelentes guitarristas, revezaram-se entre sintetizadores, computador, guitarra, teclado,
efeitos de pedal, piano e um pequeno xilofone. Até Phil Selway saiu de trás da bateria para soltar bases pré-gravadas de
música eletrônica. O único que permaneceu fiel ao seu instrumento foi o baixista Colin Greenwood. Mas a estrela foi
mesmo Thom Yorke.
Até quando o cantor perguntava se alguém tinha pesadelos sobre enchentes
(antes de "Piramid Song"), falava mal de
George Bush (em várias partes do show),
entrava em transe com sua dança frenética ou esquecia a letra de uma música,
ele era carismático.
Durante algumas canções novas, o silêncio dava a impressão de que o público
estava entediado. Pelo contrário, a explosão de aplausos ao final das músicas revelava que os fãs estavam mesmo era
hipnotizados.
Desde que enveredou por experimentações, o som que a banda de Thom Yorke criou parecia perfeito para afugentar
os adolescentes. Afinal, quem curte murmúrios, quebras de ritmo, baterias meio-jazz e poucas guitarras, normalmente, é
o pessoal mais velho. Mas a regra não se
aplica ao Radiohead. "Sou um fã novo.
Comecei a curtir o grupo quando "Amnesiac" foi lançado. Prefiro a fase recente,
mas também gosto dos CDs antigos",
disse após o show, Will Tonks, 16.
Will e seu amigo Nick Whant, 15, baixaram as novas músicas na internet.
"São excelentes, mas prefiro os primeiros álbuns", revelou Nick. A respeito da
performance ao vivo, os dois concordam: "Foi sensacional!"
Texto Anterior: Ás vezes eles voltam: 2 + 2 = 5 Próximo Texto: Panorâmica: Percepção visual e games Índice
|