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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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Ao vivo, novas canções hipnotizam a platéia

JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

Faz tempo que o Radiohead entra em campo com o jogo ganho. Mas o show em Londres, a uma semana do lançamento de "Hail to the Thief", foi ainda mais fácil. Tocar para fãs que madrugaram na frente de um computador à espera do momento certo para comprar o bilhete -as entradas só estavam disponíveis on-line- é covardia.
Todos os ingressos para essa última data da curta turnê pelo Reino Unido evaporaram há meses. Mesmo assim, centenas de pessoas fizeram fila, na esperança de que alguma entrada devolvida fosse colocada à venda.
Para quem tinha muita grana, bastava desembolsar as 100 libras (cerca de R$ 500) pedidas pelos cambistas. Na porta, com a carteira vazia, a estudante Rachel Campbell, 17, resolveu improvisar. "Sou fã, tenho pouco dinheiro e PRECISO entrar!", escreveu em um cartaz. "Espero uma boa alma me ajudar", disse.
Os fãs que conseguiram entrar foram submetidos a duas horas de muito "Kid A", "Amnesiac" e "Hail to the Thief".
Quem acompanha a trajetória do grupo sabe que, desde "Kid A", de 2000, o Radiohead deixou de seguir as regras básicas do pop-rock. Por isso, não surpreende o fato de os dois guitarristas começarem o show tocando percussão.
Os improvisos não pararam por aí. Jonny Greenwood e Ed O'Brien, excelentes guitarristas, revezaram-se entre sintetizadores, computador, guitarra, teclado, efeitos de pedal, piano e um pequeno xilofone. Até Phil Selway saiu de trás da bateria para soltar bases pré-gravadas de música eletrônica. O único que permaneceu fiel ao seu instrumento foi o baixista Colin Greenwood. Mas a estrela foi mesmo Thom Yorke.
Até quando o cantor perguntava se alguém tinha pesadelos sobre enchentes (antes de "Piramid Song"), falava mal de George Bush (em várias partes do show), entrava em transe com sua dança frenética ou esquecia a letra de uma música, ele era carismático.
Durante algumas canções novas, o silêncio dava a impressão de que o público estava entediado. Pelo contrário, a explosão de aplausos ao final das músicas revelava que os fãs estavam mesmo era hipnotizados.
Desde que enveredou por experimentações, o som que a banda de Thom Yorke criou parecia perfeito para afugentar os adolescentes. Afinal, quem curte murmúrios, quebras de ritmo, baterias meio-jazz e poucas guitarras, normalmente, é o pessoal mais velho. Mas a regra não se aplica ao Radiohead. "Sou um fã novo. Comecei a curtir o grupo quando "Amnesiac" foi lançado. Prefiro a fase recente, mas também gosto dos CDs antigos", disse após o show, Will Tonks, 16.
Will e seu amigo Nick Whant, 15, baixaram as novas músicas na internet. "São excelentes, mas prefiro os primeiros álbuns", revelou Nick. A respeito da performance ao vivo, os dois concordam: "Foi sensacional!"



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