São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2008

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Confidências on-line

Por medo de enfrentar o julgamento de amigos reais, teens se abrem com jovens que conhecem só virtualmente

Alex Almeida/Folha Imagem
Jonas só pede conselhos sentimentais para o seu amigo da internet

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ponto de encontro é a internet, as conversas são digitadas no teclado do computador, e o máximo de expressão que cada revelação provoca são carinhas amarelas de emoticons.
O cenário pode parecer esquisito, mas é justamente nesse ambiente frio e virtual que muitos adolescentes se sentem à vontade para trocar confidências, falar sobre assuntos íntimos e até pedir e dar conselhos sentimentais. E o mais importante: com pessoas que nunca viram pessoalmente, que só conhecem pelo computador.
Foi na intimidade de seu MSN que Jaqueline Ávila dos Santos, 16, conheceu seu melhor amigo, Pedro Henrique Rago, 17. Ela mora em São Paulo; ele, em Recife.
Eles foram apresentados no MSN por outro amigo de Jaqueline, Guilherme, que ela conhece pessoalmente. "Fiquei amiga do Pedro quando eu estava pensando em terminar o meu namoro. Ele acompanhou todo o processo, o rompimento, o outro garoto de quem eu fiquei a fim", conta Jaqueline, que conversa com Pedro de uma a três horas por dia.
A cada decisão, ela consultava Pedro, e ele sempre tinha um conselho na manga. "Ele falou para eu não "entrar de cabeça" na história do novo garoto. Não consegui seguir o conselho, e me dei mal. Agora ele está me consolando", lamenta a garota.
Pedro, por sua vez, também recorre a Jaqueline para resolver questões sentimentais. Quando está a fim de uma garota, pede dicas à amiga virtual.
Para eles, a vantagem de uma amizade a distância é que os riscos de as confidências trocadas chegarem aos ouvidos das pessoas envolvidas é praticamente nulo. "Ela não conhece nenhuma das pessoas de quem eu falo. Não tem como espalhar, fazer fofoca", conta Pedro.
"Geralmente, os amigos da vida real têm segundas intenções, por isso é bom ter um amigo que você não encontra, mas com quem sabe que pode contar", diz Jaqueline.
Para Jonas Amorim, 16, há outras vantagens nas amizades virtuais. "Às vezes você fala uma coisa chata e, pelo MSN, não precisa olhar para a cara da pessoa e ver a reação", opina.
Certos assuntos, Jonas só consegue conversar com Felipe, seu melhor amigo virtual. Paqueras, por exemplo, são temas constantes dos papos no MSN. "Não falo com os meus amigos "reais" sobre essas coisas, rola muita fofoca", conta.
"Como o Felipe é mais velho [tem 20 anos], conta para mim sobre os problemas de trabalho, fala das brigas da família e me dá bons conselhos", diz.

Precaução
Vinicius Coimbra, 17, já evitou que um amigo virtual fizesse uma loucura. "Ele queria fugir de casa, disse que tinha juntado dinheiro para passar uns dias num hotel. Ele achava que, quando voltasse, a família iria respeitá-lo mais", diz.
Prudente, Vinicius desencorajou o garoto a fugir. "Fiquei argumentando, dizendo que não iria adiantar nada, que fugir só iria piorar as coisas, e ele desistiu", diz, orgulhoso. As amizades virtuais, no entanto, não são o forte de Vinicius. Atualmente, ele é muito cuidadoso. "Acho perigoso. Há desde casos de pedofilia até pessoas que dizem ser o que não são."


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