São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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SEXO & SAÚDE

Só informação não dá conta do recado!

JAIRO BOUER

Recebi na última semana um e-mail de uma leitora atenta aos textos da coluna e observadora do comportamento dos jovens da sua escola. Vale a pena ler alguns trechos desse texto:
"Apesar de tanta informação bem-intencionada, muitos dos comportamentos e situações de risco seguem acontecendo. Na minha escola, agora mesmo, há umas oito garotas grávidas, de 14 a 16 anos, e uma menina que se assumiu homossexual e é ridicularizada e excluída dos grupos."
"Sabe? Você pensa que, depois que a escola abriu espaço para discussão de temas que antes eram tabus, principalmente no que diz respeito a sexo, agora que você pode ligar a sua televisão, comprar uma revista, ler uma coluna de jornal e encontrar alguém falando ou escrevendo sobre Aids, gravidez na adolescência, preconceito, sexo tântrico etc., o comportamento não vai acontecer do mesmo jeito que acontecia antes. Engano!"
"Parece que existe um fosso entre o discurso e a ação. E o que é pior: que o foco de tanta informação acaba sendo a informação por ela mesma. Eu quero dizer: ela não chega realmente às pessoas. Até porque, por mais que se tenha democratizado os espaços para dar informação, não se fez o mesmo com o tempo. As pessoas correm demais na ânsia de ter coisas, consumir, sobreviver. Com isso, vão fazendo de conta que escutam, que entenderam a mensagem, mas..."
E digo mais: além da falta de tempo para prestar atenção às mensagens, muitas vezes, o tal fosso entre discurso e ação se deve às complexas emoções que habitam as pessoas. Tanto sentimentos negativos (problemas de auto-estima, tristeza, sensação de exclusão) como sentimentos supostamente positivos (paixão, alegria, autoconfiança) podem deixar o jovem mais vulnerável e exposto ao risco.
É como se a emoção fechasse os olhos da lógica e da razão. Fica a pergunta: será que não dá para juntar tudo no mesmo barco? A gente não pode viver uma emoção (boa ou má) e, ao mesmo tempo, se cuidar e evitar problemas? Lógico que sim! Se só a informação não basta, cabe a cada um de nós aprender a lidar com nossas emoções e a administrar a forma como a informação é usada!
Em tempo, está disponível na internet, desde hoje, um questionário do Instituto de Psicologia da USP que busca entender o perfil do consumidor do ecstasy, para tentar traçar uma política realista de redução de danos. Se você já usou ou usa a droga, pode colaborar com essa pesquisa pelo site www.psicofarmacousp.psc.br.


Jairo Bouer, 38, é médico. Se você tem dúvidas sobre saúde, escreva para o Folhateen ou para jbouer@uol.com.br

simpósio
O quê: "Club Drugs": As Drogas da Era Moderna"
Quando: 7 de agosto
Organização: Grea (Grupo de Estudos de Álcool e Drogas da USP)
Informações: tel. 0/xx/11/3069-6960



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