|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLHATEEN EXPLICA
Líderes mundiais se reúnem na África do Sul para levar a teoria à prática
Rio +10 discute formas de salvar o planeta
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO
Apesar de parecer óbvio, muita gente ainda
não entendeu por que a Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável se chama
Rio +10. Então, vamos lá. A Eco-92, que se realizou no Rio de Janeiro em 1992, estabeleceu
conceitos e princípios para salvar o planeta.
Dez anos depois, é hora de traduzir tudo isso
em metas, direitos e deveres. A Rio +10 vem
para transformar o teórico em prático.
É aí que a porca torce o rabo. Enquanto todo
mundo discutia a importância de salvar as florestas, os rios, o ar, a terra e as pessoas, quem
iria discordar? Mas, agora, é preciso dizer como, onde e com que recursos. Porque tudo isso custa uma grana!
Foi assim que os países ricos ficaram de um
lado, os países pobres ficaram do outro, todos
com maquininhas de somar e diminuir à mão.
O líder dos ricos, claro, são os Estados Unidos,
que têm um velho discurso preservacionista e
uma prática nem tanto -são responsáveis,
por exemplo, por quase um quarto do dióxido
de carbono que polui e mata o ar do planeta
todo dia um pouco.
E o líder dos pobres -ou "em desenvolvimento", como diplomatas e chiques preferem
chamar- é o Brasil. O país pode não ter muita importância quando as reuniões são sobre
finanças, comércio. Mas é importantíssimo
quando o tema é biodiversidade.
O motivo é simples: trata-se do país com
maior biodiversidade do planeta. Ninguém
bate o Brasil em espécies de plantas, bichos e
microrganismos. Só a Amazônia já diz tudo. E
acrescentou dois trunfos a esse, digamos, natural: tem o nariz em pé de quem sediou a
Eco-92 no Rio, com sucesso, e desde então
tem evoluído muito na defesa do ambiente.
Sei que você vai dizer: "Como?!" Mas é verdade. A Amazônia queima, os rios estão poluídos e há muita coisa para fazer -especialmente contra a miséria. Mas os ambientalistas
brasileiros são respeitados no mundo todo.
Além de termos talentos individuais, o governo federal vem caprichando na implementação de políticas preservacionistas. Alguns governos estaduais, como o do Acre, também.
O resultado desse movimento, que envolve
governo e organizações não-governamentais,
reflete-se em outros setores: a própria sociedade está ligada em temas ambientais. Ou, pelo menos, muito mais do que há dez anos. E os
empresários sempre privilegiam os lucros, como a gente sabe, mas hoje é crescente o número deles, de empresas e de setores que se dedicam seriamente à defesa do ambiente. Até
porque é também uma questão econômica.
"Environment is business" é o que dizem
por aqui. Significa que cuidar do ambiente
também é negócio. Pode significar perder um
pouco de dinheiro em investimentos de conservação a curto prazo e ganhar muito quando
eles começam a fazer efeito. E o mundo lucra!
Exemplo: um empresário pode cortar sua
madeira toda de forma predatória e lucrar
muito agora, mas, daqui a algum tempo, cadê
a madeira? Ou pode fazer um planejamento
de desenvolvimento sustentável, com reflorestamento, seleção de espécies, cotas etc.
E o que os EUA querem? Que os países "em
desenvolvimento" não façam a mesma coisa,
não usem nada, preservem tudo. Ótimo! Mas
como irão desenvolver-se? A chave é: com o
desenvolvimento sustentável, dosando, medindo consequências, pensando no futuro.
Para isso, precisam de recursos e de tecnologia. Essa é a grande discussão aqui em Johannesburgo, África do Sul, onde os ricos tentam
fechar a mão para os grandes programas e
dourar a pílula despejando verbas para programas pontuais.
Para o Brasil, isso não passa de "filantropia"
e a responsabilidade pela preservação do planeta é muito mais sofisticada e séria do que isso. Pena que George W. Bush não esteja nem
vá estar por aqui. Ele não gosta desses assuntinhos chatos e menores, sabe, gente?
Texto Anterior: Internotas Próximo Texto: Estante: Livro reúne teatro, fotos e memórias de aventuras dentro de um barril Índice
|