São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Líderes mundiais se reúnem na África do Sul para levar a teoria à prática

Rio +10 discute formas de salvar o planeta

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Apesar de parecer óbvio, muita gente ainda não entendeu por que a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável se chama Rio +10. Então, vamos lá. A Eco-92, que se realizou no Rio de Janeiro em 1992, estabeleceu conceitos e princípios para salvar o planeta. Dez anos depois, é hora de traduzir tudo isso em metas, direitos e deveres. A Rio +10 vem para transformar o teórico em prático.
É aí que a porca torce o rabo. Enquanto todo mundo discutia a importância de salvar as florestas, os rios, o ar, a terra e as pessoas, quem iria discordar? Mas, agora, é preciso dizer como, onde e com que recursos. Porque tudo isso custa uma grana!
Foi assim que os países ricos ficaram de um lado, os países pobres ficaram do outro, todos com maquininhas de somar e diminuir à mão. O líder dos ricos, claro, são os Estados Unidos, que têm um velho discurso preservacionista e uma prática nem tanto -são responsáveis, por exemplo, por quase um quarto do dióxido de carbono que polui e mata o ar do planeta todo dia um pouco.
E o líder dos pobres -ou "em desenvolvimento", como diplomatas e chiques preferem chamar- é o Brasil. O país pode não ter muita importância quando as reuniões são sobre finanças, comércio. Mas é importantíssimo quando o tema é biodiversidade.
O motivo é simples: trata-se do país com maior biodiversidade do planeta. Ninguém bate o Brasil em espécies de plantas, bichos e microrganismos. Só a Amazônia já diz tudo. E acrescentou dois trunfos a esse, digamos, natural: tem o nariz em pé de quem sediou a Eco-92 no Rio, com sucesso, e desde então tem evoluído muito na defesa do ambiente.
Sei que você vai dizer: "Como?!" Mas é verdade. A Amazônia queima, os rios estão poluídos e há muita coisa para fazer -especialmente contra a miséria. Mas os ambientalistas brasileiros são respeitados no mundo todo. Além de termos talentos individuais, o governo federal vem caprichando na implementação de políticas preservacionistas. Alguns governos estaduais, como o do Acre, também.
O resultado desse movimento, que envolve governo e organizações não-governamentais, reflete-se em outros setores: a própria sociedade está ligada em temas ambientais. Ou, pelo menos, muito mais do que há dez anos. E os empresários sempre privilegiam os lucros, como a gente sabe, mas hoje é crescente o número deles, de empresas e de setores que se dedicam seriamente à defesa do ambiente. Até porque é também uma questão econômica.
"Environment is business" é o que dizem por aqui. Significa que cuidar do ambiente também é negócio. Pode significar perder um pouco de dinheiro em investimentos de conservação a curto prazo e ganhar muito quando eles começam a fazer efeito. E o mundo lucra!
Exemplo: um empresário pode cortar sua madeira toda de forma predatória e lucrar muito agora, mas, daqui a algum tempo, cadê a madeira? Ou pode fazer um planejamento de desenvolvimento sustentável, com reflorestamento, seleção de espécies, cotas etc.
E o que os EUA querem? Que os países "em desenvolvimento" não façam a mesma coisa, não usem nada, preservem tudo. Ótimo! Mas como irão desenvolver-se? A chave é: com o desenvolvimento sustentável, dosando, medindo consequências, pensando no futuro.
Para isso, precisam de recursos e de tecnologia. Essa é a grande discussão aqui em Johannesburgo, África do Sul, onde os ricos tentam fechar a mão para os grandes programas e dourar a pílula despejando verbas para programas pontuais.
Para o Brasil, isso não passa de "filantropia" e a responsabilidade pela preservação do planeta é muito mais sofisticada e séria do que isso. Pena que George W. Bush não esteja nem vá estar por aqui. Ele não gosta desses assuntinhos chatos e menores, sabe, gente?



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