São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMPORTAMENTO

Saiômetro

A patrulha da roupa curta vai além da Uniban; o Folhateen foi a sete faculdades conferir o que se usa (e o que se fala) em dia de aula

Foto Galeria ExperiÉncia
Estudante do Mackenzie, na última sexta-feira

DA REPORTAGEM LOCAL

E não é que, passadas quase cinco décadas da invenção da minissaia, as pernas de fora ainda são motivo para saia justa?
Após o já clássico episódio que correu a internet na semana passada, em que uma garota foi às aulas na Uniban (em São Bernardo do Campo) com um vestido curto e saiu de lá escoltada pela polícia sob xingamentos de outros alunos, o comprimento das saias e dos shorts das colegas se tornou assunto obrigatório em qualquer rodinha universitária. Como, aliás, acontece todos os dias.
Na Faap, por exemplo. "Aqui, pelo menos, as meninas se vestem bem. Mas tem uma menina que é meio "vaga". Na verdade, acho que ela tem problemas. Ela usa "sainha" de ir à praia para vir à escola", dizia Daise Davanzo, 22, estudante de economia, na noite de sexta-feira.
Carolina Fôlego, 25, que faz arquitetura na Uninove, acha "ridículo tamanho de saia ser assunto" no ambiente universitário. "O pior é que, se aparece uma menina crente, de saia no pé, também ridicularizam. As pessoas se preocupam demais com os outros. Estamos aqui para estudar."
Na mesma noite de sexta, o Folhateen visitou FGV-SP, Mackenzie, Faculdades Oswaldo Cruz, PUC-SP, USP, Uninove e Uniban. Em geral, os estudantes (inclusive os da Uniban) afirmaram que condenam a atitude dos colegas da estudante xingada, mas as opiniões deixam claro que o excesso de vigilância não é exclusivo daqueles alunos de São Bernardo.
No curso de direto da USP, no Largo São Francisco, Maira Pinheiro, 19, se ofendeu com o tratamento dado a uma aluna, dois anos atrás. "Ela foi de short a um debate sobre a eleição do centro acadêmico e uma pessoa da oposição teve a pachorra de perguntar se ela foi de short para ganhar mais voto", relata, indignada.
Ana Carolina Aggio, 19, do curso de artes cênicas da USP, diz que ali esse tipo de piada ou ofensa coletiva não aconteceriam. "Lá no departamento [na Escola de Comunicações e Artes], a gente sempre toma banho de mangueira, ficamos só de sutiã. Se isso [discriminação] acontecesse aqui, seria na Poli [Escola Politécnica]."
Marcelo Canovas, 20, e Adonis Maitino, 20, do curso de engenharia de produção, estrilaram com o comentário e disseram que os futuros engenheiros são respeitosos e tolerantes "com a diversidade".
Rita Catunda, 19, estudante de cinema na Faap, combinava na sexta-feira meia-calça roxa e short jeans. "No meu trabalho, já fui discriminada por causa deste short", conta. "Me aconselharam a ir mais vestida no dia seguinte, em tom de brincadeira. É mais que roupa. Conta também o lugar e, mais ainda, o comportamento."
Sobre o caso da Uniban, muitos estudantes falaram em "linchamento" e "covardia" de pessoas que se tornam agressivas quando estão protegidas pelo anonimato da multidão.
"É como no "bullying" da escola. Quem tem coragem de começar? Ninguém. Mas, depois que um fala, todo mundo vai atrás. Na hora em que a polícia quiser saber, ninguém vai assumir quem começou. Com o apoio coletivo, veem que não vão se ferrar sozinhos", diz Fernanda Naresi, 19, da publicidade do Mackenzie.
(CHICO FELITTI, DANIEL BERGAMASCO, JAMES CIMINO e TARSO ARAÚJO)


Texto Anterior: Fale com a gente
Próximo Texto: Internets - Ronaldo Lemos: Meganicho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.