São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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CINEMA

Sob nova direção

Munidos dos mais simples equipamentos de vídeo, adolescentes soltam a imaginação por trás de câmeras de vídeo e brincam de fazer cinema

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Danilo Godoy, 16, que já ganhou um prêmio no Festival do Minuto


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu quarto, Danilo Godoy, 16, tem uma coleção de filmes de fazer inveja a muito cinéfilo. São cerca de 200 títulos em DVD, incluindo todos os filmes vencedores do Oscar desde a primeira premiação da Academia.
O prazer em assistir a filmes se transformou em vontade de fazer os seus próprios. Danilo já dirigiu dois vídeos, escreveu dois roteiros para filmes de longa-metragem e um para um curta.
No precoce currículo de cineasta, o estudante do segundo ano do ensino médio tem até um prêmio, o do júri popular do Festival do Minuto, por "O Pequeno All", vídeo de animação que narra a história de um apaixonado casal de tênis All Star que tem um filhinho após uma noite de amor.
Gravado com uma simples câmera fotográfica digital, o vídeo consumiu três dias de trabalho, apesar de sua duração curtíssima, de um minuto. Cada imagem corresponde a uma foto.
Depois desse primeiro sucesso, Danilo dirigiu e editou também um vídeo para um trabalho escolar, baseado no livro "A Farsa de Inês Pereira", do escritor português do século 16 Gil Vicente. Na produção, a personagem virou uma prostituta que, cansada da vida no bordel, procura um marido para se casar.
Autodidata, Danilo nunca fez curso de cinema. Apenas pesquisou na internet, baixando roteiros de filmes (em sites como sfy.ru e scriptcrawler.net), e leu livros (como o "Manual do Roteiro", de Syd Field).
"O mais importante é assistir a muitos filmes e prestar atenção na linguagem dos diretores", diz o jovem cineasta.
Entre seus filmes favoritos, ele cita "Magnolia" (1999), de Paul Thomas Anderson, "Encontros e Desencontros" (2003), de Sofia Coppola, e "Cidade dos Sonhos" (2001), de David Lynch.
Também cinéfila, Ana Bia Crespo, 16, é capaz de assistir a até três filmes seguidos no mesmo dia, dos mais variados gêneros.
Ela já dirigiu cinco vídeos para trabalhos escolares e montou uma produtora com mais seis colegas da escola, a Oompa Loompa Filmes (www.oompaloompafil mes.cjb). Cada integrante tem uma função definida, como "diretor do departamento de arte", "produção" e até "contra-regra."
Fã de Sofia Coppola, Fernando Meirelles e Stanley Kubrick, Ana Bia dirige e escreve os roteiros dos projetos do grupo.
A técnica para editar e captar as imagens numa câmera digital, que ela ganhou quando fez 15 anos, Ana Bia aprendeu sozinha. "Eu uso o programa de edição mais básico que existe, o Windows Movie Maker, e aprendi mexendo, fuçando mesmo", diz.

Terror trash
Felippe Cordeiro, 20, contou com a ajuda da internet para divulgar seu primeiro filme, feito quando ele tinha 17. "Carnifissono" é um terror trash sobre um grupo de amigos que viaja para uma casa de campo e se depara com um serial killer.
Feito da maneira mais artesanal possível, o filme fez sucesso, ganhou comunidade no Orkut e chegou até a ser vendido em DVD para os amigos mais animados. A empolgação foi tanta que o curta ganhou uma continuação, "Carnifinsonia", que narra a volta do misterioso assassino para assombrar a turma de amigos.
Hoje cursando o terceiro ano da faculdade de rádio e TV, Felippe tem projetos mais ousados. Pretende rodar, ainda neste ano, um curta sobre a passagem da adolescência para a vida adulta, sob a ótica de um casal de ex-namorados.
O filme tem até orçamento, calculado em R$ 6.000, para dar conta do cachê dos atores e de alguns profissionais. "Não dá para ficar trabalhando só com os amigos. Para fazer um filme, é preciso uma relação mais séria, profissional", afirma.


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