São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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Álvaro Pereira Júnior

Ficar adulto, jamais

Faço 43 anos nesta semana, o que seria motivo de certa vergonha para alguém que ainda se interessa por cultura jovem, escreve em um caderno para adolescentes e ainda usa tênis All Star.
Mas, graças a uma reportagem recente da revista "New York", posso, pelo menos, dizer: "Não estou sozinho". A reportagem fala do fenômeno dos "grups" (forma reduzida de "grown-ups", adultos). São pessoas casadas, a maioria com filhos e algum dinheiro no banco. Mas que compram roupas em lojas bacanas para jovens, passam o dia com o iPod plugado nos ouvidos, baixaram a nova canção dos Yeah Yeah Yeahs e se recusam a trabalhar em escritórios e usar calças de pregas.
Muitos atingiram estabilidade financeira com empregos "normais". Mas hoje, em torno dos 40, decidiram pular fora do triturador corporativo. Não têm vergonha de ficar na primeira fila de um show de uma banda supernova e, muitas vezes, até tocam nessa banda supernova.
Adam Sternbergh, o autor do texto, argumenta que o século 21 marca, de certo modo, o fim do tal conflito de gerações (em inglês, "generation gap"). Segundo ele, essa seria a primeira vez na história da música pop que pais e filhos têm o mesmo gosto. Exemplo: o filho gosta de Interpol, que soa exatamente igual ao Joy Division, que era a banda de que seu pai gostava nos anos 80. O pai, portanto, gosta de Interpol também.
Um executivo do canal musical VH1 declara: "Estive no festival de Coachella no ano passado e as duas bandas que o pessoal mais curtiu foram Gang of Four e New Order". O repórter conclui: "Não é de admirar que os "grups" de hoje gostem de música indie: ela é exatamente igual à música indie de 20 anos atrás".
O roteirista de humor Michael Raunch, 38, resume a história: "Vejo uns moleques que parecem ter uns 12 anos, e a gente assiste aos mesmo filmes, vê os mesmos programas de TV e escuta as mesmas músicas. Não sei se isso é mais assustador para eles ou para mim".
Confira: http://newyorkmetro.com/news/features/16529/index.html
Tchau, envelheço na cidade. Só não sei em qual.

PLAY - "Ceremony", New Order
Hoje, revival dos anos 80. Primeiro trabalho do New Order depois que o Joy Division acabou. Essencial para a minha geração.

PLAY - "Pornography", The Cure
Caos e desesperança, no melhor álbum do Cure e o mais representativo dos anos 80.

PLAY - "The Queen is Dead", The Smiths
Os leitores da revista americana "Spin" votaram nesse disco, de 1986 como o melhor de todos os tempos.


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