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DANÇA
Elenco de "Samwaad - Rua do Encontro" ensina mais do que dança
O futuro nas pontas dos pés
DA REPORTAGEM LOCAL
"Em vez de estudar como a personalidade molda o movimento, queremos investigar como o "movimento" pode construir a identidade do adolescente;
como o jovem, por meio do gesto e
apoiando-se no gesto, é capaz de se expressar, se desenvolver e se estabelecer
na sociedade."
Essa é a proposta do coreógrafo Ivaldo
Bertazzo, 54, apresentada no livro "Espaço e Corpo - Guia de Reeducação do Movimento" (ed. Sesc), que pode ser vista
materializada no espetáculo "Samwaad -
Rua do Encontro", em cartaz no Sesc Belenzinho.
O elenco, formado por 55 jovens de sete ONGs de São Paulo, a maioria com
menos de 20 anos, aprendeu mais do que
dançou nos oito meses de ensaio. Eles
passam por consultas médicas e odontológicas, têm aulas de lingüística, percussão e origami. É um atendimento holístico. "Um olhar de mãe", segundo a assistente social Cléo Regina Miranda, 55.
Bertazzo explica: "O nosso corpo já
tem as marcas da personalidade. Os jovens mais introvertidos têm um tipo específico de postura, já os muito extrovertidos abrem as pernas quando ficam em
pé, separam os braços do corpo. A gente
trabalha a construção do movimento
por uma outra via. Quando desenvolvemos a coordenação motora, estamos induzindo a rapidez de raciocínio."
O trabalho procura explorar e realizar
as potencialidades de cada perfil. "Com o
origami, o jovem mais extrovertido vai
trabalhar muito o aspecto psicológico, a
concentração. O mais introvertido precisa mais do trabalho de percussão, para
desenvolver uma expansão mais agressiva da sonoridade."
Com o trabalho, os jovens aprenderam, nos ensaios de terça a domingo, seis
horas por dia, a conviver melhor em grupo e a respeitar as diferenças. "Saber
aguardar cinco minutos para expressar
seus problemas é um aprendizado para o
resto da vida", acredita Bertazzo.
De fato, para quem assiste ao espetáculo, a sintonia transborda. É como se fosse
um só corpo -a chamada dança-coral.
Além da diversidade entre eles, os jovens tiveram outros tipos de encontro:
no espetáculo, elementos da cultura indiana convivem em harmonia com ritmos brasileiros como samba e o choro.
"O aprendizado é muito intenso. O objetivo não é formar bailarinos, mas, se
formar, ótimo. A sensibilidade, o feminino, devem permear todas as profissões."
Para Bertazzo, o que os meninos mais
aprenderam foi a escutar, em vários sentidos. E a dosar a própria emoção.
Para Márcio Greyk, 16, do Projeto Samaritano, foi aprender a se expressar
melhor com todo o corpo. Para Samara
Cristina das Neves Souza, 18, do Centro
de Educação Popular da Comunidade
Nossa Sra. Aparecida, foi ter mais responsabilidade. E mais respeito com os
outros. E superar obstáculos. Para José
Mario de Jesus Candido, 17, da Associação Sarambeque de Desenvolvimento
Cultural e Social, o mais importante foi
desenvolver a auto-estima. "Aprendi que
você nunca pode baixar a cabeça."
Todos pretendem levar os ensinamentos artísticos e de vida para as suas comunidades quando o espetáculo acabar.
"Uma hora ele vai acabar. Mas eu não
estou preocupada com o depois. Hoje
eles são", diz a assistente social. "Eles vão
multiplicar tudo isso. As pequenas coisas
que aprenderam serão as grandes coisas
para a vida deles."
(ALESSANDRA KORMANN)
SAMWAAD - RUA DO ENCONTRO. Espetáculo
com 55 jovens de sete ONGs de São Paulo,
dirigido por Ivaldo Bertazzo. Onde: Sesc
Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, São Paulo, tel.
0/xx/11/6602-3700). Quando: de qua. a dom., às
21h; até 27/6. De R$ 7 a R$ 20.
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