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ESTANTE
Carta do pai desconhecido transforma vida de um teen
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Vida de adolescente é confusa? Então, imagina um
adolescente de seus 15 anos, com família amorosa,
mãe meio neurótica mas legal, padrasto que é um paizão e adora cozinhar, com uma espécie de namorada
que toca numa banda de rock e com um amigo e colega
dos mais interessantes. Tudo isso no quadro de uma vida de classe média confortável, estudando em colégio
de bom nível. E que esse adolescente, Daniel, receba
correspondência inesperada de seu pai verdadeiro, que
ele nunca conheceu, porque o cara teve apenas um encontro fortuito com a mãe de Daniel, não quis ser pai e
caiu fora. Era fotógrafo e queria o mundo.
Na carta que recebe, Daniel ganha junto fotos feitas
pelo pai biológico, que está na Tailândia, fotografando
para um projeto chamado Antes Que o Mundo Acabe,
destinado a registrar as gentes deste pobre planeta que
correm o risco de se tornar uma coisa só e indefinida,
um shopping universal, por causa da globalização a
qualquer custo. O pai caiu, de malária, e resolveu rever
suas dívidas com o passado. Daí que escreve para o filhão, que não sabe quem e como ele é.
Daniel tem de lidar com uma bronca sem tamanho: o
que fazer com esse cara que de repente aparece? O que
fazer com as relações que ele foi fazendo miudamente,
com seu pai presente? E as coisas que seu pai biológico
fala são instigantes: no verso das fotos, vai anotando
coisas, observando o sentido de sua vida e o das vidas
que vai fotografando. Diz que não basta olhar, é preciso
empenho para divisar as singularidades da vida.
"Antes Que o Mundo Acabe", novela de Marcelo Carneiro da Cunha, bota tudo isso em ordem, numa narrativa sensacional, que mistura o ponto de vista de Daniel,
as cartas de seu pai e as fotos comentadas. Tem espaço
para dois subenredos: o de sua relação com a namorada, Mim, e o da trajetória de Lucas, aquele colega de escola, também filho adotado, que foi criança pobre, com
passagem por orfanato.
A novela é excelente sob todos os aspectos. E dá no leitor uma enorme vontade de ser fotógrafo, como aquele
pai é, como Daniel descobre que quer ser.
E-mail - lfischer@uol.com.br
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