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COMPORTAMENTO
Antes à tarde do que nunca
Matinês de SP custam até R$ 50 e vão de "strip" a sorvete, ao som de funk
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Lucas Donas, 13, que diz que a chupeta é "estilo", na matinê da Eazy
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Luis Peixoto tem 35
anos, mas está ansioso
como um adolescente,
na porta da boate
Eazy, na Barra Funda (zona
oeste de SP). São 16h do sábado
e ele espera seu filho, Lucas, 13,
entrar em sua primeira matinê.
A Folha acompanhou a estreia de Lucas e foi a mais três
festas, que acabam até as 23h e
que não vendem bebida alcoólica. Há poucos maiores de 18
anos, mesmo naquelas em que
eles são permitidos.
De volta à fila. Lucas é obrigado a sacar um documento. O
segurança grita para todos:
"RG na mão, só [data de nascimento] de 1991 pra cima!"
A festa da Eazy é semanal e
só para a galera de pouca idade.
Mas com grana de gente grande: a entrada custa R$ 30, e
mais R$ 20 para ir ao camarote,
onde há rodízio de sorvetes.
É melhor se contentar com o
picolé, já que cigarros ficam na
porta. O cara atrás de Lucas na
fila teve seu maço confiscado.
Outras 51 carteiras de cigarro
saíram do bolso de teens e foram para o lixo, após a revista.
Fora a ausência de fumaça,
há tudo o que se espera de uma
festa: luzes piscantes e casais
recentes loteando as paredes.
E música. A atração da festa é
o show do funkeiro Mr. Catra,
com o hit "Vuco Vuco".
""Pancadão" é o que pega!",
diz Larissa Turolla, 16, dançando comportada. Bem diferente
das garotas da Circuito Bubbaloo, matinê mensal realizada
em casas do centro de SP.
Modernidade
Os dois postes de metal no
palco do Ocean's Club são sobras do tempo em que a casa, na
praça Roosevelt ofertava shows
eróticos. Eles continuam lá até
hoje pois ainda são úteis.
É lá que Dita*, 15, dança funk
e o pop de Britney Spears durante a festa.
Dita fala que é "profissional
em "pole dance" (dança do mastro)". Dependura-se na barra,
suspende o corpo ao flexionar a
perna esquerda e estica a perna
direita, apontando o pé para a
frente, que nem bailarina.
A galera admira da pista a
menina de pijama (tema dessa
edição da festa), mas ninguém a
toca -a não ser as amigas, de
shorts, que se juntam à dança.
"Rola [a dança nos postes],
mas é sem maldade. Ninguém
bebeu", diz o organizador da
festa, Rafael Calumby, 22.
Se as meninas vão de pouca
roupa e de pantufas, os garotos
optam por cuecas samba-canção. A camiseta é opcional.
Na pista, há casais de todas as
combinações possíveis entre
meninos e meninas, mas ninguém parece passar dos beijos.
"A gente vem para se divertir
sem que fiquem nos julgando",
sintetiza Juliana Hammy, 16.
Pelúcia
Já Bruna Cazé, 15, está louca
para ser julgada. Mas pelo que
veste. Ela anda pela matinê do
Cabral (zona leste de SP) com
um rinoceronte de pelúcia.
O bicho não é acessório de
criança para ninar ao som de
pagode na festa, em que pagou
R$ 5 para entrar. "É para verem
minha calça da [marca] Ecko,
que tem rinoceronte na etiqueta e que custou R$ 300!"
Debby Bonfim, 14, que leva
1h20 para chegar à festa, acha
que "as meninas se vestem como adultas. É tããão vulgar!".
Se ela pegasse mais dois ônibus, veria gente com bem menos roupa na Joy, que faz matinê de black music na Vila Madalena (zona oeste de SP).
Lá, oito garotos (dois sem camisa) e duas garotas (de top)
sobem no bar. Requebram até o
chão -no caso, balcão. A dança
termina quando começa uma
competição de break na pista.
Uma das garotas que dançava
no bar olha para o garoto que
beijará e, tímida, faz um coração, usando as duas mãos.
"Ai, saco, preciso ir!", queixa-se Keyla Gonçalves, 16. São 21h
do domingo e suas aulas voltam
às 7h15 da manhã seguinte.
* Nome fictício
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