São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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COMPORTAMENTO

Antes à tarde do que nunca

Matinês de SP custam até R$ 50 e vão de "strip" a sorvete, ao som de funk

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Lucas Donas, 13, que diz que a chupeta é "estilo", na matinê da Eazy

CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luis Peixoto tem 35 anos, mas está ansioso como um adolescente, na porta da boate Eazy, na Barra Funda (zona oeste de SP). São 16h do sábado e ele espera seu filho, Lucas, 13, entrar em sua primeira matinê.
A Folha acompanhou a estreia de Lucas e foi a mais três festas, que acabam até as 23h e que não vendem bebida alcoólica. Há poucos maiores de 18 anos, mesmo naquelas em que eles são permitidos.
De volta à fila. Lucas é obrigado a sacar um documento. O segurança grita para todos: "RG na mão, só [data de nascimento] de 1991 pra cima!"
A festa da Eazy é semanal e só para a galera de pouca idade. Mas com grana de gente grande: a entrada custa R$ 30, e mais R$ 20 para ir ao camarote, onde há rodízio de sorvetes.
É melhor se contentar com o picolé, já que cigarros ficam na porta. O cara atrás de Lucas na fila teve seu maço confiscado.
Outras 51 carteiras de cigarro saíram do bolso de teens e foram para o lixo, após a revista.
Fora a ausência de fumaça, há tudo o que se espera de uma festa: luzes piscantes e casais recentes loteando as paredes.
E música. A atração da festa é o show do funkeiro Mr. Catra, com o hit "Vuco Vuco".
""Pancadão" é o que pega!", diz Larissa Turolla, 16, dançando comportada. Bem diferente das garotas da Circuito Bubbaloo, matinê mensal realizada em casas do centro de SP.

Modernidade
Os dois postes de metal no palco do Ocean's Club são sobras do tempo em que a casa, na praça Roosevelt ofertava shows eróticos. Eles continuam lá até hoje pois ainda são úteis.
É lá que Dita*, 15, dança funk e o pop de Britney Spears durante a festa.
Dita fala que é "profissional em "pole dance" (dança do mastro)". Dependura-se na barra, suspende o corpo ao flexionar a perna esquerda e estica a perna direita, apontando o pé para a frente, que nem bailarina.
A galera admira da pista a menina de pijama (tema dessa edição da festa), mas ninguém a toca -a não ser as amigas, de shorts, que se juntam à dança.
"Rola [a dança nos postes], mas é sem maldade. Ninguém bebeu", diz o organizador da festa, Rafael Calumby, 22.
Se as meninas vão de pouca roupa e de pantufas, os garotos optam por cuecas samba-canção. A camiseta é opcional.
Na pista, há casais de todas as combinações possíveis entre meninos e meninas, mas ninguém parece passar dos beijos.
"A gente vem para se divertir sem que fiquem nos julgando", sintetiza Juliana Hammy, 16.

Pelúcia
Já Bruna Cazé, 15, está louca para ser julgada. Mas pelo que veste. Ela anda pela matinê do Cabral (zona leste de SP) com um rinoceronte de pelúcia.
O bicho não é acessório de criança para ninar ao som de pagode na festa, em que pagou R$ 5 para entrar. "É para verem minha calça da [marca] Ecko, que tem rinoceronte na etiqueta e que custou R$ 300!"
Debby Bonfim, 14, que leva 1h20 para chegar à festa, acha que "as meninas se vestem como adultas. É tããão vulgar!".
Se ela pegasse mais dois ônibus, veria gente com bem menos roupa na Joy, que faz matinê de black music na Vila Madalena (zona oeste de SP).
Lá, oito garotos (dois sem camisa) e duas garotas (de top) sobem no bar. Requebram até o chão -no caso, balcão. A dança termina quando começa uma competição de break na pista.
Uma das garotas que dançava no bar olha para o garoto que beijará e, tímida, faz um coração, usando as duas mãos.
"Ai, saco, preciso ir!", queixa-se Keyla Gonçalves, 16. São 21h do domingo e suas aulas voltam às 7h15 da manhã seguinte.


* Nome fictício


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