São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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música

A última dos ingleses

Hype? Piada? Conheça o Towers of London, grupo cheio de energia e laquê

MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

Q uando marquei uma entrevista com Donny Tourette, esperava que ele aparecesse trocando as pernas. Afinal, o cara que a Inglaterra conhece é um loiro de calças justas que pulou o muro do "Big Brother" inglês no início do ano, após passar 48 horas bêbado em rede nacional.
Estreando genialmente no mercado de celebrities, Donny usou um artifício pedante para trazer sua banda Towers of London para o olho da mídia. Depois de sua fuga, o ibope do programa despencou 4 pontos e singles do único disco da banda, "Blood, Sweat And Towers", de 2006, voltaram às paradas.
Em um momento de obsessão pelo dia-a-dia banal de celebridades famosas por fazerem nada, o Towers só podia ganhar com a superexposição de seu vocalista, não é?
Pois foi depois de sua aparição televisiva que sua banda virou tanto um hype quanto uma piada para a crítica.
Quando a porta se abriu para o cabelo com laquê de Tourette, senti sua vibração. O visual retrô, o humor cômico, a atitude de um punk, a extravagância de um glam-rocker e a inconstância de um geminiano.
Sem paciência para ser entrevistado e mais preocupado em pegar uma garrafa de 51 do meu estoque, Donny mostrou seu propósito: festejar e irritar. Seu comportamento é puro material de entretenimento e deixa a música da banda -lotada de progressões simples de acordes e ingredientes imbatíveis- em segundo plano.
Já com a cachaça descendo a garganta, o cigarro aceso em lugar fechado e os olhos no meu decote, remeteu-me à figuras como Nikki Sixx, do Motley Crue, e ainda cantou "na boquinha da garrafa".
Eu estava tentando escrever sobre como é ter uma banda sincera no mercado musical atual, mas acabei capturando outra coisa. Os que irão remexer a cena com sujeira e fúria ainda não chegaram, mas, enquanto seu lobo não vem, temos ótimas celebrações de uma época em que isso existia.
Os Towers são personagens de si mesmos, uma retrospectiva, mas têm energia e atitude. Talvez precisem brigar menos, não mudar de formação, ficar longe da cadeia e perder um pouco da pose. De repente é por isso que gostamos deles. Não resistimos aos bad boys.


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