O mundo não gira em torno do Sol, gira em torno do meu umbigo. Escrevo neste jornal abusando da subjetividade, envolvendo-me desavergonhadamente em cada reportagem, alimentando a ilusão de que sou a pessoa mais importante do mundo. O mundo, naturalmente, está dentro do meu computador.
Todos os meus amigos estão dentro de uma tela: no Facebook, no Orkut, no MySpace. O Twitter narra minha vida e o Fotolog a ilustra. Meu narcisismo é moderno e celebrado.
Esta semana fez com que eu celebrasse o início do novo século ao me juntar à mais nova rede social do momento, Formspring.me (.eu, eles querem dizer).
Sugeriram-me que eu aderisse à nova febre, e resolvi experimentá-la para escrever esta coluna.
É uma ideia extremamente simples e aparentemente inútil, mas todos adoram uma inutilidade como o Twitter. Essa nova página, porém, vai ainda mais longe quando se trata de egocentrismo.
Permite que anônimos, protegidos pela invisibilidade, façam perguntas ao narcisista em questão, que escolhe aquilo que lhe interessa responder como se realmente fosse interessante para alguém e espera aplausos para validar sua existência.
As respostas não fazem diferença, é claro. O que realmente importa é a superexposição desnecessária. Na internet, precisamos ser onipresentes -quanto mais lugares exibirem perfis nossos, melhor.
Inimigos, carreguem suas metralhadoras! O Form spring.me acaba de criar o espaço perfeito para atacar aquela garota que ficou com seu namorado, aquela de quem você secretamente morre de inveja ou aquele ex que merece ouvir algumas poucas e boas.
Ainda, quem sabe, se você tiver sorte, dirá algumas verdades dolorosas -aquelas que você precisa ouvir para cair do seu cavalinho.


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