O passado está entre nós

COMEÇA A chegar aos 20 e poucos anos uma geração diferente: a primeira que cresceu podendo ouvir tudo o que foi produzido de música na história da humanidade, na ponta dos dedos.
É claro que existe a questão da inclusão digital, ainda pequena, e também a questão da preguiça.
Muita gente, mesmo podendo ouvir qualquer música jamais feita, prefere o que "está tocando" ou "o que todo o mundo ouve".
Apesar disso, começam a aparecer os primeiros sinais musicais dessa geração.
Parte dela olhou para o passado e resolveu ficar com os anos 80. Não como uma referência direta (são muito jovens para terem vivido aqueles anos), mas como uma espécie de assombração, em que a melhor maneira de entender o que não viveram é reprocessar.
É o que fazem bandas como o Gayngs, uma das minhas atuais favoritas.
A banda surgiu de uma obsessão pela música "I'm Not in Love" do grupo 10cc (bit.ly/ZSaTw). A partir daí, recriou o lado mais "soft" dos anos 80, mas de um jeito torto. Vale a pena ouvir (bit.ly/9Jtfi0).
O mesmo acontece com o Twin Shadow, banda de um homem só comandada pelo bigodudo George Lewis Jr.
O melhor jeito de descrevê-lo é dizer que ele é fascinado por comerciais proibidos da Calvin Klein (bit.ly/c3wQd), que inspiraram seu primeiro vídeo (bit.ly/dugs4E). A partir daí, é anos 80 em clima de neon e intensidade emocional.
Por fim, vale mencionar a dupla Hurts, que se propõe a ser a reencarnação do Human League na sua fase mais baba.
O que impressiona é a total ausência de ironia. Querem ser iguais ao passado e ponto final. É até difícil de ouvir (parece que você está comendo colheres e mais colheres de açúcar refinado).
Com isso, pelo prisma desses representantes da geração pós-acesso-a-tudo, os anos 80 devem continuar como uma matriz importante para o pop.
Isso significa que, para o desespero de muitos, eles não vão embora tão cedo.

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