São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

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Livros

Diversões Bradbury

Atrações bizarras tomam cidade dos EUA

DAVI NOVO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um anão enlouquecido, um esqueleto ambulante, um homem com o corpo coberto de tatuagens macabras, uma bruxa do pó e dois adolescentes de uma pequena cidade do interior dos EUA que ficam aterrorizados com as atrações bizarras de um parque de diversões itinerante.
Esse é o ponto de partida do livro de terror "Algo Sinistro Vem por Aí", de Ray Bradbury, lançado recentemente aqui.
Mesmo que você ache a idéia de parque do terror um pouco batida, o livro se revela deliciosamente tenso. Não por causa do final -que realmente não prima pela originalidade-, mas sim pela forma como é construído, com a competência que só os grandes romancistas têm.
É preciso deixar claro que a história foi publicada em 1962, ano em que alguns dos escritores contemporâneos nem tinham nascido. Nessa época, Bradbury já havia publicado seu romance mais famoso, o futurista e apocalíptico "Fahrenheit 451" (1953), que se tornaria filme clássico do diretor Francois Truffaut, em 1966.
Os 45 anos de "Algo Sinistro Vem por Aí", contudo, não pesaram sobre a história. Os mais desavisados talvez nem percebam que ela não seja atual.
É outubro, época atípica para a visita de um parque de diversões. Movidos por curiosidade e excitação, William Halloway e Jim Nightshade, ambos com 13 anos, vão atrás da novidade, sem saber que o parque talvez não seja tão divertido assim.
Também, em um livro com esse título (que reproduz um trecho de "Macbeth", de Shakespeare), nada diferente poderia ser esperado.
Inicia-se então uma série de acontecimentos ora bizarros, ora tensos, e a partir daí fica difícil largar o livro até que a situação se resolva.
O estilo de Bradbury é melhor até que a própria história: a exposição das fraquezas (mais do que das potencialidades) dos personagens é feita com tamanho domínio que é fácil de se identificar com as características retratadas ali.
A coerência que as atitudes dos personagens revelam reforça ainda mais essa identificação. Já a aproximação com a realidade carrega o leitor para o universo do livro, por mais distante e fantasioso que ele seja.
Mas é mesmo na construção dos personagens (à exceção de Charles Halloway, pai de William, que faz as vezes de chato de plantão, trazendo o tom moralista e moralizante do livro) que Ray Bradbury se sobressai.
Uma bronca na editora: a revisão do texto poderia ter sido melhor, pois há vários erros de ortografia e gramática, especialmente na primeira metade do livro ("carrocel" com "c", na página 133, não dá!).

ALGO SINISTRO VEM POR AÍ (1962)
Ray Bradbury
Bertrand Brasil


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