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Livros
Diversões Bradbury
Atrações bizarras tomam cidade dos EUA
DAVI NOVO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um anão enlouquecido, um esqueleto
ambulante, um homem com o corpo
coberto de tatuagens macabras, uma bruxa do
pó e dois adolescentes de uma
pequena cidade do interior dos
EUA que ficam aterrorizados
com as atrações bizarras de um
parque de diversões itinerante.
Esse é o ponto de partida do
livro de terror "Algo Sinistro
Vem por Aí", de Ray Bradbury,
lançado recentemente aqui.
Mesmo que você ache a idéia
de parque do terror um pouco
batida, o livro se revela deliciosamente tenso. Não por causa
do final -que realmente não
prima pela originalidade-, mas
sim pela forma como é construído, com a competência que
só os grandes romancistas têm.
É preciso deixar claro que a
história foi publicada em 1962,
ano em que alguns dos escritores contemporâneos nem tinham nascido. Nessa época,
Bradbury já havia publicado
seu romance mais famoso, o futurista e apocalíptico "Fahrenheit 451" (1953), que se tornaria filme clássico do diretor
Francois Truffaut, em 1966.
Os 45 anos de "Algo Sinistro
Vem por Aí", contudo, não pesaram sobre a história. Os mais
desavisados talvez nem percebam que ela não seja atual.
É outubro, época atípica para
a visita de um parque de diversões. Movidos por curiosidade
e excitação, William Halloway
e Jim Nightshade, ambos com
13 anos, vão atrás da novidade,
sem saber que o parque talvez
não seja tão divertido assim.
Também, em um livro com
esse título (que reproduz um
trecho de "Macbeth", de Shakespeare), nada diferente poderia ser esperado.
Inicia-se então uma série de
acontecimentos ora bizarros,
ora tensos, e a partir daí fica difícil largar o livro até que a situação se resolva.
O estilo de Bradbury é melhor até que a própria história: a
exposição das fraquezas (mais
do que das potencialidades)
dos personagens é feita com tamanho domínio que é fácil de
se identificar com as características retratadas ali.
A coerência que as atitudes
dos personagens revelam reforça ainda mais essa identificação. Já a aproximação com a
realidade carrega o leitor para o
universo do livro, por mais distante e fantasioso que ele seja.
Mas é mesmo na construção
dos personagens (à exceção de
Charles Halloway, pai de William, que faz as vezes de chato
de plantão, trazendo o tom moralista e moralizante do livro)
que Ray Bradbury se sobressai.
Uma bronca na editora: a revisão do texto poderia ter sido
melhor, pois há vários erros de
ortografia e gramática, especialmente na primeira metade
do livro ("carrocel" com "c", na
página 133, não dá!).
ALGO
SINISTRO VEM
POR AÍ (1962)
Ray Bradbury
Bertrand Brasil
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