São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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Computador resgata a capacidade de pensar em rede

Ação simultânea pode ser boa

DA REPORTAGEM LOCAL

Há algum tempo, a gente aprendia na escola que tudo tinha que ter começo, meio e fim. Com a chegada do computador, essa história começou a ser reescrita -ou melhor, digitada, em muitas janelas que se abrem simultaneamente, ao sabor da curiosidade de quem estiver interessado em lê-la.
"O cérebro funciona em rede, como o computador. Antigamente, quando o conhecimento era passado por meio do papel, era preciso ter ordem, porque senão se perdia o sentido. Agora, quando os nossos neurônios passam a funcionar dentro desse novo suporte, o cérebro se liberta", diz Léa Fagundes, professora emérita da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e pioneira na pesquisa sobre o uso do computador na educação no Brasil.
A professora de pós-graduação em educação da UFRGS Rosa Maria Bueno Fischer, que vai participar neste mês da 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, no Rio de Janeiro, já fez várias pesquisas com adolescentes. "Aqueles que têm computador em casa ficam "plugados" em tudo: entram na internet, assistem à TV, ouvem música e falam ao celular ao mesmo tempo em que fazem o dever de casa. Eles sentem que estão vivendo o seu tempo, fazendo parte do mundo."
De fato, quem já nasceu na era da informática "fala a língua digital sem sotaque", diz o professor de filosofia da educação Eduardo Chaves, consultor do Instituto Ayrton Senna em um projeto que busca melhorar o uso do computador nas escolas. Para ele, o fato de os jovens fazerem várias coisas ao mesmo tempo, é uma "habilidade valiosíssima". "A maior parte das pessoas bem-sucedidas faz múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Já está provado que grande parte do cérebro fica ociosa com a maioria das atividades que a gente costuma fazer."
O filósofo afirma ainda que na adolescência ocorre a maior janela de oportunidade para o aprendizado da informática, ou seja, é a época em que o cérebro dos teens apresenta as melhores condições físico-químicas para desenvolver a capacidade de pensar logicamente.

Desvantagens
Para o físico Cesar Nunes, 41, coordenador do Laboratório Didático Virtual da Escola do Futuro da USP, os jovens de hoje precisam aprender a fazer muitas coisas ao mesmo tempo por causa do excesso de informações. "Com a internet, eles perdem um pouco a capacidade de concentração. Um dos papéis da educação é conseguir que eles se concentrem."
O excesso de tempo em frente à máquina também pode se tornar um problema sério. Segundo a psicóloga norte-americana Kimberly Young, uma das primeiras a estudar os impactos da tecnologia no comportamento humano, as pessoas podem ficar dependentes de acordo com o uso que fazem da internet.
"Não há um limite de horas por dia para diagnosticar a dependência, da mesma forma que não dá para dizer se alguém é alcoólatra em razão do número de doses que a pessoa ingere. Depende de um padrão de comportamento", diz. Se a pessoa apresentar comportamento agressivo, anti-social ou autodestrutivo, é bom procurar ajuda. (AK)


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