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Computador resgata a capacidade de pensar em rede
Ação simultânea pode ser boa
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algum tempo, a gente aprendia na escola que tudo tinha
que ter começo, meio e fim. Com
a chegada do computador, essa
história começou a ser reescrita
-ou melhor, digitada, em muitas
janelas que se abrem simultaneamente, ao sabor da curiosidade de
quem estiver interessado em lê-la.
"O cérebro funciona em rede,
como o computador. Antigamente, quando o conhecimento era
passado por meio do papel, era
preciso ter ordem, porque senão
se perdia o sentido. Agora, quando os nossos neurônios passam a
funcionar dentro desse novo suporte, o cérebro se liberta", diz
Léa Fagundes, professora emérita
da UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul) e pioneira
na pesquisa sobre o uso do computador na educação no Brasil.
A professora de pós-graduação
em educação da UFRGS Rosa
Maria Bueno Fischer, que vai participar neste mês da 4ª Cúpula
Mundial de Mídia para Crianças e
Adolescentes, no Rio de Janeiro,
já fez várias pesquisas com adolescentes. "Aqueles que têm computador em casa ficam "plugados"
em tudo: entram na internet, assistem à TV, ouvem música e falam ao celular ao mesmo tempo
em que fazem o dever de casa.
Eles sentem que estão vivendo o
seu tempo, fazendo parte do
mundo."
De fato, quem já nasceu na era
da informática "fala a língua digital sem sotaque", diz o professor
de filosofia da educação Eduardo
Chaves, consultor do Instituto
Ayrton Senna em um projeto que
busca melhorar o uso do computador nas escolas. Para ele, o fato
de os jovens fazerem várias coisas
ao mesmo tempo, é uma "habilidade valiosíssima". "A maior parte das pessoas bem-sucedidas faz
múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Já está provado que grande
parte do cérebro fica ociosa com a
maioria das atividades que a gente costuma fazer."
O filósofo afirma ainda que na
adolescência ocorre a maior janela de oportunidade para o aprendizado da informática, ou seja, é a
época em que o cérebro dos teens
apresenta as melhores condições
físico-químicas para desenvolver
a capacidade de pensar logicamente.
Desvantagens
Para o físico Cesar Nunes, 41,
coordenador do Laboratório Didático Virtual da Escola do Futuro
da USP, os jovens de hoje precisam aprender a fazer muitas coisas ao mesmo tempo por causa do
excesso de informações. "Com a
internet, eles perdem um pouco a
capacidade de concentração. Um
dos papéis da educação é conseguir que eles se concentrem."
O excesso de tempo em frente à
máquina também pode se tornar
um problema sério. Segundo a
psicóloga norte-americana Kimberly Young, uma das primeiras a
estudar os impactos da tecnologia
no comportamento humano, as
pessoas podem ficar dependentes
de acordo com o uso que fazem da
internet.
"Não há um limite de horas por
dia para diagnosticar a dependência, da mesma forma que não dá
para dizer se alguém é alcoólatra
em razão do número de doses que
a pessoa ingere. Depende de um
padrão de comportamento", diz.
Se a pessoa apresentar comportamento agressivo, anti-social ou
autodestrutivo, é bom procurar
ajuda.
(AK)
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