São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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comportamento

conexão cortada

Ser obrigado pelos pais a ficar trancado no quarto há tempos não é mais uma punição; resultado, surgem os terríveis e "injustos" neocastigos

Danilo Verpa/Folha Imagem
Quando Guilherme, 12, é malcriado, perde o computador

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ficar trancado no quarto é castigo? Só se for no século passado. Afinal, em tempos de internet, iPod e celular, o mundo todo está ao alcance dos adolescentes dentro do quarto. Resultado: os pais estão se adaptando e criando novas formas de repreender seus filhos. Guilherme Octávio Elói de Melo, 12, sabe muito bem o que é isso. Ele já teve que ficar semanas longe do videogame, do computador e até da câmera digital. "Quando eu respondo malcriado para minha mãe, ela proíbe as coisas que eu mais gosto." Para ele, o pior de tudo é ficar sem computador.
"Minha casa fica longe da escola; meus amigos normalmente não podem vir aqui", conta. "Por isso, nós jogamos on-line e ficamos no MSN. Quando estou de castigo, fico isolado."
Tomás de Sampaio Góes Martins Costa, 15, já chegou a ficar dois meses sem jogar no PC por ter tirado notas baixas. "Tive que agüentar até passar na recuperação", reclama. "O Orkut e o MSN eles liberaram para não terem uma surpresa ruim com a conta de telefone."
Na casa de Eduardo Kiel, 13, a punição passa pela TV a cabo. "Sempre que faço algo errado, meus pais não me deixam ver meus canais preferidos", diz. "Só me deixam assistir History Channel." Para ele, o método é injusto. "Mas, se fosse com meu irmão, eu diria que foi justo."
Bruna Diniz Knoepfelmacher, 13, é mais taxativa em sua posição quanto à injustiça de castigos desse tipo. "Esse não é um jeito de eles nos educarem", diz. "Não vou fazer isso com meus filhos, mesmo se eles passarem dos limites." Os pais da estudante costumam proibi-la de usar o iPod, o computador ou de ver televisão por algum tempo quando ela briga muito com os irmãos.
No caso dela, ficar longe do Orkut é a pior parte. "Quando isso acontece, ligo para as minhas amigas e peço para elas entraram na minha página e lerem todos os meus scraps para mim", diz. "As mais próximas têm até a minha senha."
Felipe Diniz Knoepfelmacher, 15, irmão de Bruna, concorda que o Orkut é o que mais faz falta. Como a irmã, ele apela para os amigos para saber como está sua página de recados.
Apesar disso, Felipe garante que hoje depende menos do PC do que antes. "Prefiro passar o dia tocando violão ou guitarra", diz. "O problema é que eu preciso da internet para pegar as cifras", lamenta.

Hacker em casa
A vencedora do concurso de mangás do Folhateen, Fernanda de Nóbrega Gonçalves, 15, já deu uma de hacker na sua própria casa para não ficar longe do computador. Para controlar o acesso da filha à máquina, que julgavam excessivo, seus pais colocaram uma senha que ela desconhecia. "Na época, eu era viciada em internet e não descansei até descobri-la."
Quando os pais perceberam que a senha não era o suficiente para manter a filha longe do cyberespaço, apelaram para um método mais radical: esconderam a CPU do PC.
Mas nem isso deteve Fernanda. Em pouco tempo, ela encontrou a peça e remontou o computador.
"Sabia que eles escolheriam um lugar onde eu não mexo nunca para esconder a CPU. Não deu outra: ela estava no guarda-roupa do meu pai".
Depois disso, os pais voltaram a usar o método da senha, dessa vez sem a dica das perguntas que ajudam a lembrá-la em caso de esquecimento. A insistente garota não teve outro remédio senão desistir de bancar a detetive. Mas ela garante que foi melhor assim. "Eu ficava no computador a tarde inteira e esquecia da vida. Já estava virando vício", diz. "Agora só entro na internet no final de semana. Durante a semana aproveito para estudar, desenhar ou tocar violão."
Mariana Broggi, 12, também acredita que, em seu caso, ter sido proibida de passar a tarde inteira em frente à tela gerou resultados positivos. "Eu era capaz de ficar o dia inteiro no MSN. Aí minha mãe decidiu que eu só podia teclar durante uma hora por dia", lembra. "Com isso, ela me obrigou a fazer a lição de casa, já que eu não tinha nada para fazer."
Hoje, as duas chegaram a um acordo. Mariana já não usa tanto o computador por livre e espontânea vontade, e a mãe não precisa mais impor regras quanto ao tempo de acesso da filha. "Castigo é bom porque a gente aprende", afirma a garota. "Mas agora já não preciso mais dele."


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