São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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crítica

Remake dá medo pelos motivos errados

CARLOS PRIMATI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mundo vai acabar. De novo. O clássico "A Profecia", lançado em 76, inspirou-se na Bíblia para explicar como o Anticristo surgiria para acabar com o mundo. Trinta anos depois, a nova versão assusta, mas pelos motivos errados.
O filme se vale praticamente do mesmo roteiro do original, novamente escrito por David Seltzer, mas banaliza grande parte das situações. Infiltrado na família do embaixador americano em Roma, Damien é o capeta em forma de guri.
Coisas realmente preocupantes começam a acontecer, incluindo o espetacular suicídio da babá, que se enforca no meio da festa de aniversário do pirralho.
Entra em cena a Sra. Baylock, a nova babá, uma dissimulada serva de Satã disposta a proteger o Anticristo com sua própria vida.
A narrativa de "A Profecia" tem a marca de histeria do diretor irlandês John Moore, responsável por "Atrás das Linhas Inimigas".
Toda a sutileza apavorante da versão feita por Richard Donner em 1976 vai por água abaixo num espetáculo pirotécnico. Também pouco colabora o toque de classe na fotografia -toda em tons pastéis e sempre com um objeto vermelho em destaque.
Porém, a maior fraqueza está no péssimo elenco. Liev Schreiber vive um diplomata fracote, que só sabe choramingar a todo momento, num papel que na versão original coube a Gregory Peck, num dos grandes desempenhos de sua carreira.
Julia Stiles está fofinha no papel da jovem e inocente mamãe, mas não é mais do que meramente decorativa.
Salva-se a grande sacada de ter Mia Farrow escalada como a babá satânica. A atriz ficou marcada pelo papel da infeliz que dá à luz o filho do Diabo em "O Bebê de Rosemary" (68), de Roman Polanski. Então, é apropriado que ela cuide do pimpolho agora. Seu desempenho contido e assustador quase salva o filme da desgraça.
Essa nova versão pode agradar a quem desconhece o filme original, principalmente pelas criativas cenas de mortes, que parecem coisas de "Premonição 2", como o acidente com o caminhão-tanque e a decapitação.
Mas seus exageros, beirando a fantasia pura, minam qualquer possibilidade de relação com a realidade e são incapazes de causar medo.


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