São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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Comece 2003 com muito skate na cabeça

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Pat Darrin/Associated Press
Tony Alva em cena do documentário "Dogtown and Z-Boys"


Quer começar o ano com o pé direito? Ou melhor, com o pé esquerdo também, mais uma tábua e quatro rodinhas embaixo?
Então saia atrás de "Dogtown and Z-Boys", ótimo documentário sobre as origens do skate como nós o conhecemos. E, por tabela, sobre as origens de todo um tipo de comportamento jovem.
Das gírias ao streeetwear, passando pelo conceito de "extremo", não é exagero dizer que toda a cultura jovem de hoje nasceu junto com a radicalização do skate mostrada em "Dogtown and Z-Boys".
O filme passou em 2002 no Brasil, nas mostras de cinema, em horários poucos e cruéis. A boa notícia é que já saiu, nos EUA, em VHS e em DVD. Peguei minha cópia numa viagem-relâmpago a Nova York, no ano passado.
Skatistas como Stacy Peralta, Tony Alva e Jay Adams são as estrelas. Peralta é também o diretor. Todo mundo, da minha geração pelo menos, lembra desses nomes.
Locais de Venice Beach, valhala "freak" nas cercanias de Los Angeles, eles não inventaram o skate. O esporte já existia, careta e família, como uma espécie de xerox do surfe, só que no asfalto. Não tinha manobras nem culturas próprias.
Coube a Alva, Peralta, Adams e outros pioneiros injetar adrenalina na história.
Em "Dogtown and Z-Boys", os pais do skate radical são rejeitados sociais. Dogtown era o nome da região litorânea podreira onde moravam (Z-Boys é por causa da Zephyr, equipe deles, originária do surfe).
Sem muito o que fazer, ficavam na praia pagando pau para o surfista Larry Bertleman, um negão em um esporte majoritariamente branco que se destacava pelo estilo extremamente original.
Algumas das melhores cenas mostram como as primeiras manobras de Peralta e companhia copiavam exatamente o que Bertleman fazia sobre as ondas.
E isso é o que mais impressiona no filme: o valor documental. Americano leva tudo a sério e tem muito acesso à tecnologia. Ou seja: mesmo um bando de doidos como os de Dogtown tinha consciência de que o que fazia era importante, então era o caso de filmar tudo.
Há imagens sensacionais da estiagem na Califórnia que secou as piscinas e deu origem ao estilo vertical, dominante no skate de hoje.
Existe até registro do dia em que Tony Alva, em um aéreo, tirou as quatro rodas do chão pela primeira vez.
O premiadíssimo "Dogtown and Z-Boys" foi filmado e editado sem firulas. Uma ou outra câmera no ombro, mais "nervosa", um ou outro depoimento apresentado em preto-e-branco, mas nada além disso.
O foco está nos documentos, nas imagens valiosas de pioneiros em ação. Não perca.



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