São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOLHATEEN EXPLICA

Programa permite que aluno seja aprovado sem aprender direito

Especialistas criticam sistema que acabou com a repetência

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudar em uma escola em que não existe o perigo de repetir de ano não é ruim, o problema é passar de ano sem aprender. A conclusão é de especialistas em educação da USP, da Unicamp e da PUC-SP, que avaliaram os benefícios e os prejuízos do sistema de progressão continuada.
O sistema foi adotado pelas escolas do Estado de São Paulo em 98 e, segundo o Ministério da Educação, está implantado em 11% das escolas de ensino fundamental de todo o país.
Consiste em substituir a aprovação a cada série por uma avaliação baseada no acompanhamento constante do aluno até que ele atinja os objetivos de aprendizado. Um dos objetivos do sistema era eliminar a experiência da reprovação, considerada negativa.
Na progressão continuada, não há notas, os alunos são avaliados e recebem um conceito. A reprovação só ocorre na 4ª e na 8ª séries -anos finais dos dois ciclos em que foi dividido o ensino fundamental. Excesso de faltas levam à repetência em qualquer ano.
Na opinião dos pesquisadores, a progressão, concebida para promover a inclusão escolar, foi distorcida e se tornou um mecanismo sofisticado de exclusão. Como assim?
A principal crítica ao sistema implantado é a impossibilidade de oferecer o acompanhamento necessário para que, mesmo sem repetir de ano, o aluno aprenda. Com salas lotadas, quem tem dificuldades acaba excluído. As aulas de reforço, segundo pesquisa da PUC-SP, são dadas muitas vezes por professores despreparados e inexperientes.
Quando chegam ao ensino médio, os alunos se arrependem de não ter estudado mais sozinhos. "Passei direto sem saber nada", afirma Ricardo Alexandre Marcelino, 21, que fez o ensino fundamental no sistema de progressão e hoje está no segundo ano do ensino médio, depois de ser reprovado três vezes por falta. Ele diz que não é "santo" e que deveria ter estudado mais. "Quero ser advogado ou fazer computação. Com meu estudo, minhas chances são mínimas."
O secretário da Educação, Gabriel Chalita, 33, afirma que é o primeiro a admitir os erros e problemas do sistema estadual e que está trabalhando para realizar os ajustes necessários. "Não é fácil. Mas dizer que o aluno não aprende porque não repete é o mesmo que dizer que ele não aprende porque não apanha."
"O que está ruim é o ensino e a aprendizagem, não a progressão. Ela é um grande caminho para minimizar a exclusão social, já que evita que o aluno abandone a escola por uma série de repetências", defende.



Texto Anterior: Internotas
Próximo Texto: Estante: Uma história emocionante, feita para quem é par ou ímpar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.