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FOLHATEEN EXPLICA
Programa permite que aluno seja aprovado sem aprender direito
Especialistas criticam sistema que acabou com a repetência
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudar em uma escola em que não existe o
perigo de repetir de ano não é ruim, o problema é passar de ano sem aprender. A conclusão é de especialistas em educação da USP,
da Unicamp e da PUC-SP, que avaliaram os
benefícios e os prejuízos do sistema de progressão continuada.
O sistema foi adotado pelas escolas do Estado de São Paulo em 98 e, segundo o Ministério da Educação, está implantado em 11% das
escolas de ensino fundamental de todo o país.
Consiste em substituir a aprovação a cada
série por uma avaliação baseada no acompanhamento constante do aluno até que ele
atinja os objetivos de aprendizado. Um dos
objetivos do sistema era eliminar a experiência da reprovação, considerada negativa.
Na progressão continuada, não há notas, os
alunos são avaliados e recebem um conceito.
A reprovação só ocorre na 4ª e na 8ª séries
-anos finais dos dois ciclos em que foi dividido o ensino fundamental. Excesso de faltas
levam à repetência em qualquer ano.
Na opinião dos pesquisadores, a progressão, concebida para promover a inclusão escolar, foi distorcida e se tornou um mecanismo sofisticado de exclusão. Como assim?
A principal crítica ao sistema implantado é
a impossibilidade de oferecer o acompanhamento necessário para que, mesmo sem repetir de ano, o aluno aprenda. Com salas lotadas, quem tem dificuldades acaba excluído.
As aulas de reforço, segundo pesquisa da
PUC-SP, são dadas muitas vezes por professores despreparados e inexperientes.
Quando chegam ao ensino médio, os alunos se arrependem de não ter estudado mais
sozinhos. "Passei direto sem saber nada",
afirma Ricardo Alexandre Marcelino, 21, que
fez o ensino fundamental no sistema de progressão e hoje está no segundo ano do ensino
médio, depois de ser reprovado três vezes por
falta. Ele diz que não é "santo" e que deveria
ter estudado mais. "Quero ser advogado ou
fazer computação. Com meu estudo, minhas
chances são mínimas."
O secretário da Educação, Gabriel Chalita,
33, afirma que é o primeiro a admitir os erros e
problemas do sistema estadual e que está trabalhando para realizar os ajustes necessários.
"Não é fácil. Mas dizer que o aluno não aprende porque não repete é o mesmo que dizer que
ele não aprende porque não apanha."
"O que está ruim é o ensino e a aprendizagem, não a progressão. Ela é um grande caminho para minimizar a exclusão social, já que
evita que o aluno abandone a escola por uma
série de repetências", defende.
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