São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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Sexo & Saúde

Jairo Bouer - jbouer@uol.com.br

Elas escondem; eles se exibem

"Já faz uns dois meses que estou com sentimento de culpa e arrependimento. Tudo aconteceu em uma festa: eu e minha amiga bebemos um pouco e um garoto da minha idade (20 anos) ficou comigo. Acabei meio que "atacando" o garoto. No final, estávamos eu e ele, encostados em uma parede da festa, masturbando-nos mutuamente. Não vejo problemas em transar com um desconhecido (já fiz isso antes; é claro que com camisinha). O que me atormenta foi o local nem um pouco discreto do nosso ato. Agora me sinto como se todos estivessem olhando e me julgando: "que menina fácil". Às vezes penso que, se eu fosse do sexo masculino, não ia me sentir tão mal. Parece que as atitudes mais agressivas sempre foram características do homem e não da mulher, que é vista como um ser puro, que se resguarda para o momento certo e romântico. Errar é humano, mas porque o erro tem que ser tão doloroso assim?"

PARA COMEÇAR: será que o que você fez na festa está errado mesmo? Será que seguir desejos e colocar algumas das nossas fantasias em prática são sinônimos de comportamentos reprováveis? Será que, em uma festa como a que você estava, essas situações não são mais comuns do que se imagina? Será que a mulher que age dessa maneira está cometendo um erro?
Da mesma forma que um garoto pode ficar com uma garota em uma festa e "avançar" um pouco o sinal, uma mulher, a rigor, tem exatamente o mesmo direito. Talvez se os dois tivessem bebido menos, se ficassem em um lugar mais reservado, se tudo tivesse acontecido de uma forma mais discreta, essas questões todas não estariam incomodando tanto nesse momento.
Mas não foi bem assim que aconteceu! E, agora, você está se sentido exposta, com medo da avaliação dos outros. Será que ele está assim também? Pouco provável! É bem possível que, no dia seguinte, ele tenha ligado para os amigos para relatar tudo o que rolou.
Então, por que em pleno século 21 as atitudes masculinas e femininas ainda são tão diferentes? Garotas e garotos começam a vida sexual praticamente com a mesma idade, os dois têm múltiplas experiências de "ficar" e transar, mas, na hora de falar, de dividir, de contar, elas ainda se escondem e eles se exibem! Será que fazer aquilo que a gente quer tem que gerar tanta vergonha?
Bem-vinda à vida adulta, onde você tem que se responsabilizar pelo que fez. Bebeu um pouco demais, passou da conta, se expôs mais do que gostaria! Agora, assuma o que rolou, sem se sentir culpada ou envergonhada. Enquanto esse tipo de atitude não mudar, essa diferença absurda do que homens e mulheres podem fazer vai continuar a existir. E você não vai querer alimentar esse preconceito, não é mesmo?


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