UOL


São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O baterista Fabrizio Moretti revela os bastidores de "Room on Fire", segundo e aguardado CD dos Strokes

+ que famosos

Colin Lane/Divulgação
Da esq. para a dir., Nick Valensi, Julian Casablancas, Fabrizio Moretti, Nikolai Fraiture e Albert Hammond Jr., integrantes da banda nova-iorquina The Strokes


LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Vazou.
Vazou para a internet o aguardadíssimo segundo disco dos Strokes. O vazamento precoce é resultado do grau de excitamento da cena musical com o próximo passo da banda que devolveu graça ao rock há dois anos e abriu a porta para a insurgência de um sem-número de grupos e de cenas novas. Isso está na numerosa quantidade de páginas de revistas e de jornais musicais que já estampam com letras festivas o nome do quinteto nova-iorquino muitas semanas antes de o disco "real" chegar às lojas.
O rock começa a soltar a respiração com a aproximação de 28 de outubro, dia do lançamento em vários países de "Room on Fire", o sucessor do extrabadalado "Is This It". Inclua o Brasil nessa.
"Room on Fire" é a difícil sequência imediata para uma banda que estoura logo no primeiro disco. É o disco da afirmação. É a segunda gozada, como dizem (em inglês, "the second coming", fica mais sensual, menos rasteiro e mais exato). E é, pelo que as primeiras audições permitem concluir, tão espetacular quanto "Is This It".
Quando a Folha primeiro falou dos Strokes, segundos antes de a banda estourar, em abril de 2001, o quinteto nem álbum tinha. O título da reportagem foi "Quase Famosos". Era uma banda fresca na essência, cinco caras entre 20 e 22 anos que, mesmo sem o propósito, estava sacudindo o rock, excitando a moda com seus cabelos desarrumados e casacos e gravatas se desencontrando com calças jeans surradas.
Hoje, a maior banda de rock do planeta, já que o que o Radiohead faz escapa da compreensão roqueira, o título para a espera de seu segundo álbum de carreira seria "Insuportavelmente Famosos". Mas mesmo com milhões de dólares no bolso e a corda da pressão-do-segundo-disco no pescoço, a sonoridade do CD se manteve fiel à juvenília excitante que botou a banda há dois anos no pedestal que está, dentro da música jovem. E a roupa e os cabelos continuam os mesmos.
De Nova York , o baterista da banda Fabrizio Moretti, 23, falou à Folha sobre a dificuldade e o prazer de estar numa banda que é farol de uma geração boa e numerosa. E, claro, do ansiosamente esperado "Room on Fire".
Moretti, para quem não sabe, é carioca da gema. Nasceu no Rio e foi levado criança para os EUA. "Vamos fazer assim. Você pergunta em português, eu respondo em inglês. Me dá prazer ouvir a língua do meu país, que eu entendo. Mas respondo em inglês porque é como melhor eu me expresso."
E assim foi.
 

Folha - Você veio ao Rio no ano passado com sua namorada - a atriz "pantera" Drew Barrymore. Como foi a viagem?
Fabrizio Moretti -
Foi ótima. Fiquei no Rio visitando meus parentes por umas duas semanas. Drew chegou nos últimos dois, três dias da viagem. Ela desembarcou bem no dia da festa do Brasil pela conquista da Copa do Mundo. Foi uma coisa inacreditável para nós.

Folha - Sobre o disco novo, como você se sente com o fim do processo de gravação e produção desse segundo Strokes, tão esperado e já tão aclamado?

Moretti - Sinto-me como se o mundo tivesse saído das minhas costas. Espero que as pessoas gostem do disco. Mas disso eu não tenho certeza.

Folha - Você acha que as pessoas não vão gostar do CD?
Moretti -
É que gastamos tanto tempo em torno do disco, pensando em tantos detalhes, trabalhando cada segundo das músicas que eu preciso agora de um tempo longe desse disco para ter noção se ele é bom ou não. Se vai agradar ou não.

Folha - Tirando o estresse de estúdio, dá para dizer se a banda ficou satisfeita com o resultado final do álbum?
Moretti -
Como banda, como amigos, a sensação geral é que progredimos. Estamos cansados, mas felizes.

Folha - A maioria das bandas que ganha fama já no primeiro disco tem medo do segundo, que é a hora de provar se o grupo é bom mesmo. Aconteceu com o Oasis, o Radiohead, o Coldplay e o Nirvana. Vocês sentiram muita pressão?
Moretti -
O diabinho do segundo álbum estava no estúdio com a gente, dava para ver. Mas a verdadeira pressão que a gente sentia era interna. Da nossa própria cobrança. E era muito. Nós não ligamos para pressões externas.

Folha - Como você o descreveria?
Moretti -
Acho que é uma coleção de canções que são muito diferentes uma das outras, mas que tem uma consistência e um sentido que as une. Isso decorre do fato de sermos os mesmos músicos do álbum anterior, só que um pouco mais desenvolvidos por causa de tudo o que nos ocorreu em tão pouco tempo. Acho o disco inspiradíssimo por causa das lindas composições do Julian [Casablancas, o vocalista e letrista] e de guitarristas como o Nick [Valensi] e o Albert [Hammond Jr.]. Acho que funcionamos bem como banda.

Folha - E como você compararia "Room on Fire" a "Is This It"?
Moretti -
Poderia dizer que são álbuns "amantes". Eles se completam e têm uma química melódica que os une. A gente sabe que nunca vamos chegar ao disco que consideramos ideal para nós, mas esses dois estão próximos do que acreditamos.

Folha - O que houve de errado para vocês demitirem o produtor do Radiohead, o Nigel Godrich? Ele queria transformar o som dos Strokes em algo "viajante'?
Moretti -
O que aconteceu foi que éramos duas instâncias bem separadas dentro do estúdio. Era a banda de um lado e ele de outro. Tínhamos idéias muito diferentes. Sabíamos que este tinha de ser um álbum especial, então o procuramos por causa de suas idéias especiais, diferentes. Mas acabou sendo um período de tentativas, que ajudou de algum modo no resultado final do disco, embora ele tenha saído bem diferente do que ele gostaria.

Folha - De 2001 para cá, dos porões nova-iorquinos à atração principal do gigantesco Reading Festival, como a vida de vocês ficou diferente em dois, três anos?
Moretti -
Algumas coisas importantes mudaram em nossas vidas, mas somos as mesmas pessoas, saímos com os mesmos amigos, vamos aos mesmos lugares. Nenhuma mudança incrivelmente grande aconteceu em nossas vidas com a repercussão do nosso trabalho até agora.

Folha - Os Strokes trouxeram um excitamento especial ao rock, quando surgiram e lançaram o primeiro disco. Agora que o segundo está saindo, como vocês encontram esse estado atual da música?
Moretti -
Eu não sei. Nunca fui de prestar atenção nessa coisa de cena, não sou de ler o que os críticos escrevem. Existem bandas novas de que eu gosto. Existem outras de que eu não gosto. Eu não acho que o rock mudou por causa dos Strokes.

Folha - O que você gosta de ouvir hoje?
Moretti -
Duas bandas com as quais eu fico excitado quando escuto são o Radiohead e o Kings of Leon. Cara, eu gosto muito do Kings of Leon.

Folha - Os Strokes parecem ser uma banda de grandes amigos, sempre. Já aconteceu alguma briga entre vocês que poderia ter influenciado no futuro da banda.
Moretti -
Não tão sério. Já houve casos de algumas brigas feias, xingamentos, durante o final da última parte da turnê americana do "Is This It". Mas era só o esgotamento do final da turnê. Precisávamos de um tempo longe daquilo, de nós mesmos. Mas somos "tipo" melhores amigos e nada vai se impor entre nós.

Folha - No final do mês vamos ter no Rio um festival cuja escalação inclui White Stripes, Rapture, The Streets, Erol Alkan. O que você acha dessa lista.
Moretti -
Maravilhosa. Gostaria muito de estar aí.

Folha - Os Strokes não chegaram a ser convidados para tocar nesse Tim Festival?
Moretti -
Não tenho idéia. Nós temos de fazer primeiro essas turnês que arranjam para a gente em mercados como o americano e o europeu. Mas definitivamente vamos tocar no Brasil no ano que vem. Vou fazer isso acontecer, nem se formos em um período de nossas folgas.


Texto Anterior: Música: Como os nossos pais
Próximo Texto: Confira o faixa-a-faixa de "Room on Fire"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.