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O baterista Fabrizio Moretti revela os bastidores de "Room on Fire", segundo e aguardado CD dos Strokes
+ que famosos
Colin Lane/Divulgação
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Da esq. para a dir., Nick Valensi, Julian Casablancas, Fabrizio Moretti, Nikolai Fraiture e Albert Hammond Jr., integrantes da banda nova-iorquina The Strokes |
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Vazou.
Vazou para a internet o aguardadíssimo segundo disco dos Strokes. O vazamento precoce é resultado do grau de excitamento da cena musical com o próximo passo da banda que devolveu graça
ao rock há dois anos e abriu a porta para
a insurgência de um sem-número de
grupos e de cenas novas. Isso está na numerosa quantidade de páginas de revistas e de jornais musicais que já estampam com letras festivas o nome do quinteto nova-iorquino muitas semanas antes de o disco "real" chegar às lojas.
O rock começa a soltar a respiração
com a aproximação de 28 de outubro,
dia do lançamento em vários países de
"Room on Fire", o sucessor do extrabadalado "Is This It". Inclua o Brasil nessa.
"Room on Fire" é a difícil sequência
imediata para uma banda que estoura logo no primeiro disco. É o disco da afirmação. É a segunda gozada, como dizem
(em inglês, "the second coming", fica
mais sensual, menos rasteiro e mais exato). E é, pelo que as primeiras audições
permitem concluir, tão espetacular
quanto "Is This It".
Quando a Folha primeiro falou dos
Strokes, segundos antes de a banda estourar, em abril de 2001, o quinteto nem
álbum tinha. O título da reportagem foi
"Quase Famosos". Era uma banda fresca
na essência, cinco caras entre 20 e 22
anos que, mesmo sem o propósito, estava sacudindo o rock, excitando a moda
com seus cabelos desarrumados e casacos e gravatas se desencontrando com
calças jeans surradas.
Hoje, a maior banda de rock do planeta, já que o que o Radiohead faz escapa
da compreensão roqueira, o título para a
espera de seu segundo álbum de carreira
seria "Insuportavelmente Famosos".
Mas mesmo com milhões de dólares no
bolso e a corda da pressão-do-segundo-disco no pescoço, a sonoridade do CD se
manteve fiel à juvenília excitante que botou a banda há dois anos no pedestal que
está, dentro da música jovem. E a roupa e
os cabelos continuam os mesmos.
De Nova York , o baterista da banda
Fabrizio Moretti, 23, falou à Folha sobre
a dificuldade e o prazer de estar numa
banda que é farol de uma geração boa e
numerosa. E, claro, do ansiosamente esperado "Room on Fire".
Moretti, para quem não sabe, é carioca
da gema. Nasceu no Rio e foi levado
criança para os EUA. "Vamos fazer assim. Você pergunta em português, eu
respondo em inglês. Me dá prazer ouvir
a língua do meu país, que eu entendo.
Mas respondo em inglês porque é como
melhor eu me expresso."
E assim foi.
Folha - Você veio ao Rio no ano passado
com sua namorada - a atriz "pantera"
Drew Barrymore. Como foi a viagem?
Fabrizio Moretti - Foi ótima. Fiquei no
Rio visitando meus parentes por umas
duas semanas. Drew chegou nos últimos
dois, três dias da viagem. Ela desembarcou bem no dia da festa do Brasil pela
conquista da Copa do Mundo. Foi uma
coisa inacreditável para nós.
Folha - Sobre o disco novo, como você se
sente com o fim do processo de gravação e
produção desse segundo Strokes, tão esperado e já tão aclamado?
Moretti - Sinto-me como se o mundo tivesse saído das minhas costas. Espero
que as pessoas gostem do disco. Mas disso eu não tenho certeza.
Folha - Você acha que as pessoas não vão
gostar do CD?
Moretti - É que gastamos tanto tempo
em torno do disco, pensando em tantos
detalhes, trabalhando cada segundo das
músicas que eu preciso agora de um tempo longe desse disco para ter noção se ele
é bom ou não. Se vai agradar ou não.
Folha - Tirando o estresse de estúdio, dá
para dizer se a banda ficou satisfeita com o
resultado final do álbum?
Moretti - Como banda, como amigos, a
sensação geral é que progredimos. Estamos cansados, mas felizes.
Folha - A maioria das bandas que ganha
fama já no primeiro disco tem medo do segundo, que é a hora de provar se o grupo é
bom mesmo. Aconteceu com o Oasis, o Radiohead, o Coldplay e o Nirvana. Vocês
sentiram muita pressão?
Moretti - O diabinho do segundo álbum
estava no estúdio com a gente, dava para
ver. Mas a verdadeira pressão que a gente
sentia era interna. Da nossa própria cobrança. E era muito. Nós não ligamos para pressões externas.
Folha - Como você o descreveria?
Moretti - Acho que é uma coleção de
canções que são muito diferentes uma
das outras, mas que tem uma consistência e um sentido que as une. Isso decorre
do fato de sermos os mesmos músicos do
álbum anterior, só que um pouco mais
desenvolvidos por causa de tudo o que
nos ocorreu em tão pouco tempo. Acho o
disco inspiradíssimo por causa das lindas
composições do Julian [Casablancas, o
vocalista e letrista] e de guitarristas como
o Nick [Valensi] e o Albert [Hammond
Jr.]. Acho que funcionamos bem como
banda.
Folha - E como você compararia "Room
on Fire" a "Is This It"?
Moretti - Poderia dizer que são álbuns
"amantes". Eles se completam e têm uma
química melódica que os une. A gente sabe que nunca vamos chegar ao disco que
consideramos ideal para nós, mas esses
dois estão próximos do que acreditamos.
Folha - O que houve de errado para vocês
demitirem o produtor do Radiohead, o Nigel Godrich? Ele queria transformar o som
dos Strokes em algo "viajante'?
Moretti - O que aconteceu foi que éramos duas instâncias bem separadas dentro do estúdio. Era a banda de um lado e
ele de outro. Tínhamos idéias muito diferentes. Sabíamos que este tinha de ser um
álbum especial, então o procuramos por
causa de suas idéias especiais, diferentes.
Mas acabou sendo um período de tentativas, que ajudou de algum modo no resultado final do disco, embora ele tenha
saído bem diferente do que ele gostaria.
Folha - De 2001 para cá, dos porões nova-iorquinos à atração principal do gigantesco Reading Festival, como a vida de vocês
ficou diferente em dois, três anos?
Moretti - Algumas coisas importantes
mudaram em nossas vidas, mas somos as
mesmas pessoas, saímos com os mesmos
amigos, vamos aos mesmos lugares. Nenhuma mudança incrivelmente grande
aconteceu em nossas vidas com a repercussão do nosso trabalho até agora.
Folha - Os Strokes trouxeram um excitamento especial ao rock, quando surgiram e
lançaram o primeiro disco. Agora que o segundo está saindo, como vocês encontram
esse estado atual da música?
Moretti - Eu não sei. Nunca fui de prestar atenção nessa coisa de cena, não sou
de ler o que os críticos escrevem. Existem
bandas novas de que eu gosto. Existem
outras de que eu não gosto. Eu não acho
que o rock mudou por causa dos Strokes.
Folha - O que você gosta de ouvir hoje?
Moretti - Duas bandas com as quais eu
fico excitado quando escuto são o Radiohead e o Kings of Leon. Cara, eu gosto
muito do Kings of Leon.
Folha - Os Strokes parecem ser uma banda de grandes amigos, sempre. Já aconteceu alguma briga entre vocês que poderia
ter influenciado no futuro da banda.
Moretti - Não tão sério. Já houve casos
de algumas brigas feias, xingamentos,
durante o final da última parte da turnê
americana do "Is This It". Mas era só o
esgotamento do final da turnê. Precisávamos de um tempo longe daquilo, de nós
mesmos. Mas somos "tipo" melhores
amigos e nada vai se impor entre nós.
Folha - No final do mês vamos ter no Rio
um festival cuja escalação inclui White
Stripes, Rapture, The Streets, Erol Alkan. O
que você acha dessa lista.
Moretti - Maravilhosa. Gostaria muito
de estar aí.
Folha - Os Strokes não chegaram a ser
convidados para tocar nesse Tim Festival?
Moretti - Não tenho idéia. Nós temos de
fazer primeiro essas turnês que arranjam
para a gente em mercados como o americano e o europeu. Mas definitivamente
vamos tocar no Brasil no ano que vem.
Vou fazer isso acontecer, nem se formos
em um período de nossas folgas.
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