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MÚSICA
No PFL que virou o BRock, o Ira! é cada vez mais necessário
Vivendo e não aprendendo
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
A melhor banda do rock nacional
(o Ira!), com o melhor guitarrista
do rock nacional (Edgard Scandurra) e o vocalista mais honesto do
rock nacional (Nasi), lança um de
seus melhores CDs, o "Acústico
MTV Ira!". É simples assim.
Mas nem tão simples assim.
Conheci o Ira! em 1985 (OK, confesso que não sou tão "teen" quanto
este caderno), ano de "Mudança de
Comportamento", quando assisti a
um dos vários "shows-coletâneas"
que rolavam naquela década. Era
assim: produtores sem dinheiro
juntavam bandas idem e com isso
viabilizavam a apresentação.
Esta de que falo aconteceu no falecido teatro Bandeirantes (antes um
templo do rock, hoje um templo da
Igreja Universal), ali na avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo. Desde então, o Ira! faz o mesmo
tipo de som -atenção, não o mesmo som, o que faria deles uma peça
de museu, mas o mesmo tipo.
Eles têm o que os norte-americanos chamam de "reliability", a capacidade de um experimento manter
o mesmo resultado em repetidas
tentativas. Em português claro
adaptado para o rock, a qualidade
de não trair seus ouvintes.
Nesse grande PFL que virou o
rock brasileiro, o Ira! desempenha o
mesmo papel que Luciana Genro,
Heloísa Helena e Babá tiveram em
relação ao PT: chegaram lá mas não
se deslumbraram, seguiram fiéis a
seus princípios. São autênticos.
Mas os caras, dirá você, são tão
autênticos assim e lançam logo um
Acústico MTV? O fato de eles terem
gravado no formato faz mais bem
ao Acústico do que mal ao Ira!, pois
devolve ao projeto sua dignidade
original, que começou lá em 1991,
quando Paul McCartney gravou o
primeiro "Unplugged" da história.
Basta ouvir a bela "O Girassol",
que passou meio batida no CD "7
(Sete)", de 96, e é um exemplo perfeito do rock simples e direto da
banda. Que outro grupo poderia fazer de versos aparentemente banais
como "Você é meu sol/ Um metro e
sessenta e cinco de sol" e "Como eu
sou um girassol/ Você é meu sol"
uma poderosa declaração de amor?
Eis a outra qualidade de Scandurra,
além da poderosa canhota: como
um sábio poeta japonês, ele tira beleza de bobagens do cotidiano
("Você me ligou naquela tarde vazia/ E me valeu o dia", de "Tarde
Vazia", ou ainda "Meus amigos, minha rua/ As garotas da minha rua",
de "Envelheço na Cidade").
Ou conjuga "uppercuts" como
"Se meu filho nem nasceu/ Eu ainda
sou o filho", da clássica "Dias de Luta", e "Quanta gente já ultrapassou/
A linha entre o prazer e a dependência", da nova "Flerte Fatal".
Tanto tempo depois, ficamos todos um pouco mais bundões; o Ira!
não, e ouvi-lo nos lembra de que
nem tudo está perdido.
Avaliação:
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