São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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NA ESTRADA

Mayra Dias Gomes - mayradiasgomes@uol.com.br

Eu e o Freddy Krueger

Abri um guia de Los Angeles e me deparei com algo fantástico. Na noite seguinte, atravessaria a Hollywood Boulevard para conhecer o homem dos meus sonhos -Robert Englund, o Freddy Krueger, que estaria assinando sua biografia, "Hollywood Monster".
Quando nasci, em 87, já haviam sido lançados três dos filmes da saga "A Hora do Pesadelo". Minha mãe não entendia meu fascínio por um homem com o rosto queimado e facas no lugar de unhas, que assombrava o sonho das pessoas. Eu tentava defendê-lo: "Ele não escolheu ser assim! Sua mãe era uma freira e foi presa acidentalmente com criminosos nojentos, sendo estuprada dezenas de vezes! Aí nasceu Freddy!".
Complicado entender meu fervor na defesa de um monstro. Por anos, eu faria o mesmo com artistas como Marilyn Manson. Vejo que fiz uma importante descoberta aos oito anos: que as pessoas são afetadas por seus pais e pelo que acontece durante a infância. Para sempre eu amaria Freddy Krueger, e ali estava ele.
Entrei na fila e conversei com uma menina que iria tatuar a frase "Sweet dreams, bitch". Uma criança passou, não deu bola para Freddy. Comecei a questionar o que havia acontecido com a fama do personagem que acabou no fundo das prateleiras das locadoras. Acho que foi culpa dos produtores que tentaram fazer mil sequências. Pensei no remake de "A Hora do Pesadelo", que será lançado em abril de 2010. Nossa vez chegou.
Robert brincava com o cachorro de uma menina e mantinha um sorriso no rosto. Seus olhos azuis brilhavam. Ele se mostrava educado e conversava com todos. O homem e o personagem eram claramente opostos.
"Por que o senhor não está no remake? Ninguém pode substituí-lo!" Ele desconversou sobre o motivo e elogiou o novo elenco e diretor. Parecia distante da fase de "psicopata dos sonhos", mas se levantou para tirar uma foto, abrindo os dedos como se fossem garras e a boca como se soltasse um grito. "Freddy ama May", ele escreveu. "May" é um dos meus novos filmes preferidos.
Eu estava certa em não temer Freddy Krueger. Daquele momento em diante, riria de todos os filmes. Ensinaria meus filhos a gostar dele e faria questão de mostrar que tudo o que assustava e aterrorizava as crianças nada mais era do que trauma e maquiagem.


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