ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

"Escuta Aqui" recebe toneladas de correspondência ofensiva, mas um e-mail da leitora Maria Eugenia Tomazini, de São Paulo, bateu o recorde de virulência e originalidade. Ela disse que faz cursinho e, de tanto que odeia a coluna, está pensando em prestar jornalismo, só para tomar meu lugar no Folhateen, ganhando a metade (a história, na verdade, é meio estranha. Ninguém faz cursinho em início de ano. Mas vale registrar)!
É uma influência ao contrário, coisa que nunca imaginei possível. No extremo oposto, alguns leitores já me escreveram dizendo que decidiram ser jornalistas de tanto que gostam de "Escuta Aqui". Mas optar por uma faculdade por puro ódio... Essa eu desconhecia.
Falando em ódio, é impressionante como a relação com os leitores mudou desde que meu e-mail começou a ser publicado. No início, confesso, até respondia a algumas críticas. Mas, depois, seguindo os conselhos de um chefe, passei a ignorar. Leio umas três, quatro linhas (o suficiente para saber exatamente qual tipo de mensagem será) e apago o e-mail.
É por isso que parei de fazer colunas com correspondência de leitores. Só deixo mensagens simpáticas (ou críticas bem-argumentadas) na caixa postal. E uma coluna inteira só com elogios seria ridícula.
Graças ao correio eletrônico, fiz alguns amigos (o que seria muito mais difícil por carta), recebi dicas legais (às vezes de coisas que acontecem aqui em San Francisco e eu não sabia), repensei a coluna e, infelizmente, me acostumei aos nomes de (poucos, ainda bem) doentes obsessivos que escrevem semanalmente longos tratados de crítica à coluna.
O mais decepcionante nesses ataques a "Escuta Aqui" é que, mesmo os que começam bem (como o da leitora Maria Eugênia, a que faz cursinho), em poucas linhas revelam sua verdadeira origem. Na imensa maioria dos casos, são de fãs de artistas criticados por "Escuta Aqui". Maria Eugênia é fã do Radiohead, e não se conforma de eu ter escrito que o novo disco da banda foi a "decepção do ano".
Pouco importa que eu já tenha elogiado o mesmo grupo dezenas de vezes e até, exageradamente, chamado seu álbum anterior, "OK Computer", de "o melhor da década de 90" (esqueci de "Nevermind", do Nirvana).
Essa é outra lição importante: não importa o que você escreve, o leitor lê o que ele bem entende. Se for fã de Rush, Frank Zappa e Iron Maiden, pior ainda.



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