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Guitarrista e assassino, Billy Corgan mata o rock and roll
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha
"O formato do rock and roll está esgotado. Como músico, tenho
a obrigação de buscar novos caminhos, novas saídas."
A morte do rock como nós o
conhecemos já foi anunciada
centenas de vezes (várias delas
nesta coluna), mas, agora, o coveiro merece especial atenção: é
Billy Corgan, líder dos Smashing
Pumpkins, uma das bandas mais
famosas e cultuadas do mundo.
Corgan fez o anúncio fúnebre
em entrevista a Howard Stern, o
radialista que há mais de dez
anos domina as manhãs americanas com seu humor cortante e
muitas vezes grosseiro.
O programa de Stern tem também uma versão para a TV, que
passa no canal "E!", aqui dos
EUA. E foi essa emissora que
apresentou na semana passada a
entrevista com Corgan.
Nem era coisa recente. Tratava-se de uma reprise da época em
que os Pumpkins estavam lançando o álbum "Adore", de 1998.
Mais um ponto para Corgan,
que prova ser capaz de enxergar
longe.
Tudo começou quando Stern,
depois de passar várias cantadas
na namorada do músico, a fotógrafa ucraniana Yelena, perguntou o que Corgan achava dos fãs.
O guitarrista se disse decepcionado, sentindo falta de apoio do
público, que parecia não aceitar
que o rock do tipo grunge, capitaneado por bandas como os próprios Pumpkins e o Nirvana, nada mais tinha a dizer.
Um ouvinte ligou xingando, e
Corgan disparou: "Em 1988, ninguém, ninguém mesmo, tocava
pesado, exceto nós e as bandas de
Seattle. Todo mundo dizia que
éramos loucos, que estávamos
querendo ressuscitar o Led Zeppelin e aquilo não ia levar a lugar
nenhum. Só que, logo depois, o
grunge explodiu, e provamos que
estávamos certos. Pois agora estou dizendo que o rock está esgotado, e chegou a hora de buscar
outros rumos".
Com o apoio de Stern, que normalmente não deixa seus convidados falar muito, Billy Corgan
lembrou que, no fim dos anos 60,
Chuck Berry já falava da estagnação do rock, até que os Beatles
chegaram, elevando a coisa a um
outro plano. Na opinião do líder
dos Smashing Pumpkins, seguiu-se, então, uma nova fase de letargia, quebrada pelo Led Zeppelin,
que foi sucedido por mais pasmaceira, até a vinda do punk, que
mudou tudo de novo etc. etc.
Para ele, os sons realmente inovadores vêm, hoje, da música eletrônica. "Mas, como meu negócio é rock, acho que é meu papel
tentar trazer novidades para o tipo de música de que eu gosto."
Também podemos entender as
palavras de Corgan como um grito desesperançado contra os fãs
conservadores.
Por irônico que pareça, a grande massa dos fãs de rock, um tipo
de música normalmente associado a rebelião e inconformismo, é
incrivelmente apegada a seus
gostos e não quer saber de mudança nem de críticas a seus deuses de vinil.
Na semana passada, por exemplo, "Escuta Aqui" comentou
uma lista dos cem momentos
mais ridículos da história do
rock, segundo a revista inglesa
"Q". Tinha desde o cantor cristão
Pat Boone virando metaleiro (51º
lugar) até o inaudível álbum
"Metal Machine Music", de Lou
Reed (13º).
Havia, claro, várias menções a
grandes nomes do rock progressivo, o que foi suficiente para disparar a ira de fãs do gênero.
Um deles me enviou um longo
tratado sobre a "genialidade" do
tecladista Rick Wakeman, contemplado com a segunda colocação, por um show de 1975, no estádio de Wembley, em Londres,
com uma orquestra completa,
coral de 48 pessoas e 26 figurantes vestidos de cavaleiros do rei
Artur.
Segundo esse inconformado
leitor, o tal concerto nada teve de
ridículo e representou na verdade o ápice da carreira do artista.
O curioso é que a "Q" traz um
comentário do próprio "gênio"
Rick Wakeman sobre o show
que o fã brasileiro levou tão a sério. Diz Wakeman: "Fazia um
frio desgraçado, mas ainda bem
que tínhamos bebido tanto que
nem deu para sentir nada".
No Brasil, terra em que os variados ritmos locais têm muita força e dominam as paradas, ser
"roqueiro" implica uma certa
dose de esquisitice. O "roqueiro"
é o revoltado, o cara bem louco.
Engraçado, mas aqui nos EUA
não rola nada disso, pela boa razão de que o rock impera, e, portanto, todo mundo é "roqueiro":
do tiozinho da casa em frente ao
skatista doidão que passa de cabelo azul e camiseta do NOFX.
Acima do Equador, o rock das
massas não tem nada de rebelde.
Álvaro Pereira Júnior, 37, é jornalista e
mora em San Francisco. E-mail:
cby2k@uol.com.br.
cd player
"Sweet Surrender",
Bellatrix
Saudade dos Sundays? Não aguenta
mais esperar pelo
novo do Portishead? Então,
acalme-se com este compacto
do quinteto islandês Bellatrix
(quatro meninas e um cara),
agora baseado em Londres.
Docinho e moderno, para baixar em MP3 e dar de presente.
"Nothing as It
Seems", Pearl Jam
A nova balada do
Pearl Jam já toca
nas rádios, depois
de muito mistério. De novo,
uma canção naquele tom desesperado que é a marca do PJ
nos últimos anos. Bonito, mas
parece vir de um passado que
não quer dizer mais nada. Para saudosistas.
Los Hermanos
e seus fãs
Difícil apontar o
que é pior: se os fãs
de Los Hermanos,
que só querem saber de "Anna
Júlia", ou se a própria banda,
que tem certeza de que o restante do álbum é hardcore.
Devo ser uma das únicas pessoas no mundo que ouviu
aquilo inteiro. Não dá.
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