São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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educação

Estudo demais

A busca por um ensino mais puxado leva estudantes a migrarem para escolas notoriamente difíceis; veja o que mudou na vida deles

Patricia Stavis/Folha Imagem
Carol, 14, tem pelo menos três lições de casa por dia

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Preocupados com o futuro profissional e em entrar em uma boa faculdade, muitos jovens deixam escolas consideradas mais fáceis e menos exigentes em busca de outras mais rigorosas.
Mas a transição nem sempre é fácil. Para se adaptar à nova rotina de estudos, com novos professores, médias mais altas, mais lição de casa e provas mais difíceis, muitos alunos enfrentam dificuldades, vêem seu rendimento escolar despencar e correm até o risco até de perder o ano.
É isso que está preocupando Ana Carolina de Cillos, 15. Ela mudou para uma escola mais rígida neste ano e, por conta das notas baixas no primeiro semestre, vai pegar recuperação em matemática, português, história, geografia e ciências.
Para dar conta dos estudos, ela largou o treino de vôlei e começou a fazer aulas particulares das disciplinas em que está com dificuldades.
"Eu queria ser jogadora profissional, mas é difícil ser atleta. Penso no meu futuro, por isso quero fazer um bom colegial e uma boa faculdade ", explica.
Kauane Ribas Vasconcelos, 13, também mudou para uma escola mais "puxada". "Na escola anterior eu tinha duas lições de casa por dia, agora são quatro. Além disso, se eu chegar atrasada, perco ponto, se fizer bagunça, também", lamenta a estudante.
O resultado: as notas de português e de matemática caíram de seis e meio e sete, no ano passado, para dois e dois e meio, neste ano. "Estou estudando mais, e minhas notas estão piores", conta a garota, que substituiu as tardes em frente à televisão e ao computador por aulas particulares.
Já Sofia Casella, 16, deixou uma escola convencional para fazer o ensino médio em uma escola técnica. Entre as dificuldades, ela relata três novas disciplinas técnicas e salas de aulas com mais alunos.
"É mais difícil prestar atenção na aula, porque tem mais distração e mais gente disputando a atenção dos professores. Às vezes, chega a ter fila para tirar dúvida", diz.
Do total de 15 matérias ela está abaixo da média em sete, incluindo disciplinas em que sempre foi bem, como história.
Carol Sayeg, 14, está na oitava série e se mudou neste ano para uma instituição bastante conhecida por seu ensino rígido e exigente.
"Quero fazer uma boa faculdade, reconhecida no Brasil e no mundo, e ser bem-sucedida em minha profissão", esclarece. "Minha escola atual tem em seu histórico muitos alunos que passaram com boas posições no vestibular."
Enquanto o futuro não chega, ela se esforça para dar conta do presente. "Minha rotina ficou mais corrida, agora somos bem mais cobrados", afirma. Carol tem pelo menos três lições de casa por dia, e faz todas elas para não ficar para trás. "A lição acaba sendo boa porque obriga a estudar", explica.
Para Tatiane, 14, a transição de um colégio para o outro foi radical. "Na minha escola antiga não tinha nem prova. Eles só olhavam se a lição de casa estava feita e se não fazíamos farra na classe", relata. "Agora as minhas provas têm umas 13 páginas! Para cada matéria!"
A garota mudou-se na quinta série, seguindo os passos das primas mais velhas. "No começo fiquei com medo, mas as minhas primas já sabiam como era o esquema e me ajudaram".
Hoje, ela vê algumas vantagens na escola atual.
"É superliberal, lá os alunos podem comer onde quiserem", avalia. "A outra era mais rigorosa: só podíamos comer em um dos pátios", diz Carol.
Felipe Alves Guia, 14, foi para uma escola mais exigente porque tanto ele quanto seus pais consideravam o ensino do colégio anterior muito fraco. "Eles ficavam bravos porque eu nunca tinha lição de casa e viam que eu não precisava me esforçar para passar."
Para Felipe, a mudança de escola se refletiu diretamente em suas notas. Acostumado a tirar sempre médias próximas de nove, o garoto, que se mudou neste ano, passou a tirar por volta de seis e até pegou recuperação em uma matéria. "Eu nunca tinha ficado na vida", conta o estudante, que está na oitava série.
Para adaptar-se às dificuldades da nova instituição, Felipe teve que sair da academia de ginástica, que freqüentava diariamente, e se dedicar exclusivamente aos estudos.
"Antes, eu só abria o caderno em véspera de prova", diz. "Agora, estudo todos os dias e não tenho mais tempo para outras atividades".


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