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GAMES
Console transforma mancadas de uma partida de videogame em punição física
Painstation oferece jogadas de alto risco
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Toda partida de videogame termina do
mesmo jeito. Depois de o jogador dar
tudo de si no comando do joystick, quem
se dá mal mesmo é o protagonista do jogo -a Lara Croft da vez-, que cai, apanha, se machuca e morre. "Game over".
Isso era regra até uma dupla de estudantes alemães criar o Painstation
-uma paródia do Playstation, o popular console da Sony, que substitui o termo "play" (jogar) por "pain" (dor)- e
transformar o hábito de jogar videogames em algo bem menos seguro da tela
para fora.
Trata-se de um grande console em forma de mesa que só pode ser jogado em
duplas, um jogador contra o outro, cara
a cara. No centro da tal mesa há uma tela,
e os jogadores devem se posicionar um
de cada lado dela com a mão direita no
controle do joystick e a esquerda apoiada
em um dispositivo apelidado de PEU
("Pain Execution Unit" ou, na tradução
literal, unidade de execução de dor).
A cada erro, no lugar de perder pontos,
o jogador recebe uma punição real aplicada pela PEU, que queima, dá choques
elétricos ou detona uma sessão de chibatadas no dorso de sua mão. Foi-se o tempo em que o prejuízo de uma partida era
apenas moral. É praticamente impossível sair ileso do Painstation.
Pong
O jogo que integra o Painstation é baseado no Pong, da primeira geração de
jogos para PC, no qual cada jogador comanda verticalmente uma barrinha que
deve rebater para o oponente uma bola.
Perder a bola aqui é não apenas frustrante mas também muito doloroso. E a
partida só termina quando um dos jogadores decide que já está machucado demais para continuar. Se o jogador errar e
não aguentar a dor, tirando a mão da
PEU, também dança. "Game over", sem
choro nem vela (mas talvez com um poquinho de mertiolate e alguns band-aids).
"O mais engraçado é que, ao contrário
do que se imagina, o Painstation torna
mais difícil a desistência do jogador.
Quando se está jogando na frente de uma
galera, ninguém quer jogar a toalha", explica Tillman Reiff, um dos autores do estranho console.
Reiff conta que já viu gente terminar o
jogo com as mãos sangrando só para não
dar o gostinho da vitória a seu adversário.
Gameart?
O Painstation nasceu na Universidade
de Colônia, na Alemanha, a partir de um
projeto desenvolvido por Reiff e por seu
colega da faculdade de artes da mídia
Volker Morawe.
"A maioria dos games depende de gráficos perfeitos e de efeitos surpreendentes. Queríamos ultrapassar essa limitação
e criar novas formas de regenerar o universos dos jogos. Além disso, é claro, queríamos transformar uma partida de videogame em uma experiência mais física, em algo mais realístico", explica Reiff.
Para quem imaginava que "experiência
realística" fosse usar aqueles controles
que tremem, a invenção de Reiff e Morawe é, literalmente, um choque.
Durante a fase de desenvolvimento do
Painstation, quando adaptava os níveis
de dor a serem aplicados aos jogadores, a
dupla alemã fez papel de ratos de laboratório e testou qual era o limite de intensidade do calor, dos choques e da força das
chicotadas.
Depois de pronto, o Painstation passou
a ser exposto regularmente ao público
em shows e conferências. Enquanto uns
o chamam de geringonça tecnológica, há
quem defenda que o console é, na verdade, um objeto de arte, uma vez que propõe a discussão do conceito por trás dos
videogames. Ele coloca em xeque a evolução frenética dos gráficos cada vez mais
próximos de uma imagem real e mostra
que isso não vem acompanhado de uma
experiência física que de alguma forma se
assemelhe ao que rola na tela. Para Reiff e
Morawe, os joysticks que tremem nas
mãos dos jogadores são brincadeira para
criança. Eles querem mais.
Sony
É bastante improvável que um instrumento de "diversão" como o Painstation
passe de curiosidade a produto comercializado. Seria preciso coragem e muitas
brigas na Justiça para ser possível lançar
no mercado um videogame que faz seus
jogadores sangrarem. Pipocariam processos de lesão corporal para cima do fabricante e da dupla alemã, que já tem sido
chamada de violenta, sádica, masoquista
e sem ética.
Mas a polêmica em torno do Painstation reside já em seu nome. Quando lançado, seu logotipo era idêntico ao do
Playstation da Sony. "Assim que a novidade começou a ser comentada, recebemos uma carta do advogado da Sony",
conta Reiff. "Enquanto o Painstation não
for um produto comercializado, poderemos manter o nome, mas tivemos de
mudar o logo", lamenta.
Enquanto a dupla prepara novas incursões para ligar a tecnologia de games ao
mundo real, você acha que está preparado para ampliar o envolvimento físico
com os games que costuma jogar?
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