São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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GAMES

Console transforma mancadas de uma partida de videogame em punição física

Painstation oferece jogadas de alto risco

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Toda partida de videogame termina do mesmo jeito. Depois de o jogador dar tudo de si no comando do joystick, quem se dá mal mesmo é o protagonista do jogo -a Lara Croft da vez-, que cai, apanha, se machuca e morre. "Game over".
Isso era regra até uma dupla de estudantes alemães criar o Painstation -uma paródia do Playstation, o popular console da Sony, que substitui o termo "play" (jogar) por "pain" (dor)- e transformar o hábito de jogar videogames em algo bem menos seguro da tela para fora.
Trata-se de um grande console em forma de mesa que só pode ser jogado em duplas, um jogador contra o outro, cara a cara. No centro da tal mesa há uma tela, e os jogadores devem se posicionar um de cada lado dela com a mão direita no controle do joystick e a esquerda apoiada em um dispositivo apelidado de PEU ("Pain Execution Unit" ou, na tradução literal, unidade de execução de dor).
A cada erro, no lugar de perder pontos, o jogador recebe uma punição real aplicada pela PEU, que queima, dá choques elétricos ou detona uma sessão de chibatadas no dorso de sua mão. Foi-se o tempo em que o prejuízo de uma partida era apenas moral. É praticamente impossível sair ileso do Painstation.

Pong
O jogo que integra o Painstation é baseado no Pong, da primeira geração de jogos para PC, no qual cada jogador comanda verticalmente uma barrinha que deve rebater para o oponente uma bola.
Perder a bola aqui é não apenas frustrante mas também muito doloroso. E a partida só termina quando um dos jogadores decide que já está machucado demais para continuar. Se o jogador errar e não aguentar a dor, tirando a mão da PEU, também dança. "Game over", sem choro nem vela (mas talvez com um poquinho de mertiolate e alguns band-aids).
"O mais engraçado é que, ao contrário do que se imagina, o Painstation torna mais difícil a desistência do jogador. Quando se está jogando na frente de uma galera, ninguém quer jogar a toalha", explica Tillman Reiff, um dos autores do estranho console.
Reiff conta que já viu gente terminar o jogo com as mãos sangrando só para não dar o gostinho da vitória a seu adversário.

Gameart?
O Painstation nasceu na Universidade de Colônia, na Alemanha, a partir de um projeto desenvolvido por Reiff e por seu colega da faculdade de artes da mídia Volker Morawe.
"A maioria dos games depende de gráficos perfeitos e de efeitos surpreendentes. Queríamos ultrapassar essa limitação e criar novas formas de regenerar o universos dos jogos. Além disso, é claro, queríamos transformar uma partida de videogame em uma experiência mais física, em algo mais realístico", explica Reiff.
Para quem imaginava que "experiência realística" fosse usar aqueles controles que tremem, a invenção de Reiff e Morawe é, literalmente, um choque.
Durante a fase de desenvolvimento do Painstation, quando adaptava os níveis de dor a serem aplicados aos jogadores, a dupla alemã fez papel de ratos de laboratório e testou qual era o limite de intensidade do calor, dos choques e da força das chicotadas.
Depois de pronto, o Painstation passou a ser exposto regularmente ao público em shows e conferências. Enquanto uns o chamam de geringonça tecnológica, há quem defenda que o console é, na verdade, um objeto de arte, uma vez que propõe a discussão do conceito por trás dos videogames. Ele coloca em xeque a evolução frenética dos gráficos cada vez mais próximos de uma imagem real e mostra que isso não vem acompanhado de uma experiência física que de alguma forma se assemelhe ao que rola na tela. Para Reiff e Morawe, os joysticks que tremem nas mãos dos jogadores são brincadeira para criança. Eles querem mais.

Sony
É bastante improvável que um instrumento de "diversão" como o Painstation passe de curiosidade a produto comercializado. Seria preciso coragem e muitas brigas na Justiça para ser possível lançar no mercado um videogame que faz seus jogadores sangrarem. Pipocariam processos de lesão corporal para cima do fabricante e da dupla alemã, que já tem sido chamada de violenta, sádica, masoquista e sem ética.
Mas a polêmica em torno do Painstation reside já em seu nome. Quando lançado, seu logotipo era idêntico ao do Playstation da Sony. "Assim que a novidade começou a ser comentada, recebemos uma carta do advogado da Sony", conta Reiff. "Enquanto o Painstation não for um produto comercializado, poderemos manter o nome, mas tivemos de mudar o logo", lamenta.
Enquanto a dupla prepara novas incursões para ligar a tecnologia de games ao mundo real, você acha que está preparado para ampliar o envolvimento físico com os games que costuma jogar?



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