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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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Novatos usam experiência de irmãos mais velhos como lição

RICARDO LISBÔA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

De repente quem é mais velho fica mais novo porque depois da oitava vem o primeiro. Não, não é um enigma egípcio ou coisa parecida, é simplesmente o que acontece com milhões de adolescentes no mundo inteiro todos os anos: a passagem para o ensino médio.
Sair da oitava série é descobrir um mundo novo de mais "responsabilidade e autonomia", como dizem dez entre dez educadores.
"Na sétima e na oitava séries o professor passava o trabalho e ficava em cima. No primeiro ano, a gente tem de organizar o tempo. A autonomia é bem maior", afirma Antonio Marianno, 16, estudante do segundo ano do ensino médio.
Os alunos costumam ficar agoniados com a multiplicação das matérias que aparecem na nova fase: "Acho que vou ter de estudar muito mais. Estou apavorada com química", diz a estudante do primeiro ano do ensino médio Marina Morelli, 15.
Outros, como Fernando Franco, 15, estudante do segundo ano do ensino médio, ficaram com um pé atrás por entrarem em um mundo desconhecido, onde, muitas vezes, precisam fazer novos amigos e ganhar a confiança de desconhecidos. "Eu fiquei mais recolhido, não achei que fui preparado o suficiente para essa mudança. Mas, depois de um tempo, você se solta e fica mais fácil", diz.
Os que estudam em escolas com ensino baseado na autonomia ainda têm de lidar com outro ingrediente novo nessa receita de novidades: a liberdade. Elisa Verdi, 15, estudante do primeiro ano do ensino médio, parece já estar bem inserida no novo contexto: "Tem dias em que você sabe que, se ficar na sala de aula, só vai conversar e atrapalhar o professor. É melhor sair para o pátio".
Guilherme Saguia, 15, também do primeiro ano, concorda com as normas da escola de não liberar os alunos para a rua: "Não tem nem o que fazer do lado de fora às 8h da manhã".

Ajuda fraterna
A fama de desbravadores e de cobaias das experiências familiares dos irmãos mais velhos é comprovada quando o assunto é escola.
"Ter um irmão que já passou pelo ensino médio ajuda muito porque já se sabe antes pelo que vai se passar", afirma a estudante do terceiro ano do ensino médio Sofia Reinach, 17. Ela lembra que sua mãe mudou o comportamento com ela e com o irmão quando eles acabaram o ensino fundamental: "Ela começou a passar mais responsabilidade para a gente. Eu pude decidir melhor o que eu quero fazer sem precisar pedir permissão para tudo".
Para Thaís Bilenky, 16, que faz o segundo ano do ensino médio e tem irmãos mais velhos, a relação com os pais muda depois que se entra no ensino médio, mas não por causa da escola. Segundo ela, "a gente só tem mais liberdade porque a nossa idade permite".
Do outro lado, na pele de mais velho, Mathias Fingermann, 16, no terceiro ano do ensino médio, possui o agravante de ter passado de uma escola com método ultraformal para uma de regime menos convencional. "Na escola em que eu estava, a relação com os professores era a mais fria possível, eles não nos ouviam. Não havia diálogo. A gente era bombardeado com informações que não podiam ser contestadas. Na nova escola, elas são oferecidas e a gente escolhe se quer pegar."


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