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Novatos usam experiência de irmãos mais velhos como lição
RICARDO LISBÔA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
De repente quem é mais velho fica mais
novo porque depois da oitava vem o
primeiro. Não, não é um enigma egípcio
ou coisa parecida, é simplesmente o que
acontece com milhões de adolescentes
no mundo inteiro todos os anos: a passagem para o ensino médio.
Sair da oitava série é descobrir um
mundo novo de mais "responsabilidade
e autonomia", como dizem dez entre dez
educadores.
"Na sétima e na oitava séries o professor passava o trabalho e ficava em cima.
No primeiro ano, a gente tem de organizar o tempo. A autonomia é bem maior",
afirma Antonio Marianno, 16, estudante
do segundo ano do ensino médio.
Os alunos costumam ficar agoniados
com a multiplicação das matérias que
aparecem na nova fase: "Acho que vou
ter de estudar muito mais. Estou apavorada com química", diz a estudante do
primeiro ano do ensino médio Marina
Morelli, 15.
Outros, como Fernando Franco, 15, estudante do segundo ano do ensino médio, ficaram com um pé atrás por entrarem em um mundo desconhecido, onde,
muitas vezes, precisam fazer novos amigos e ganhar a confiança de desconhecidos. "Eu fiquei mais recolhido, não achei
que fui preparado o suficiente para essa
mudança. Mas, depois de um tempo, você se solta e fica mais fácil", diz.
Os que estudam em escolas com ensino baseado na autonomia ainda têm de
lidar com outro ingrediente novo nessa
receita de novidades: a liberdade. Elisa
Verdi, 15, estudante do primeiro ano do
ensino médio, parece já estar bem inserida no novo contexto: "Tem dias em que
você sabe que, se ficar na sala de aula, só
vai conversar e atrapalhar o professor. É
melhor sair para o pátio".
Guilherme Saguia, 15, também do primeiro ano, concorda com as normas da
escola de não liberar os alunos para a rua:
"Não tem nem o que fazer do lado de fora às 8h da manhã".
Ajuda fraterna
A fama de desbravadores e de cobaias
das experiências familiares dos irmãos
mais velhos é comprovada quando o assunto é escola.
"Ter um irmão que já passou pelo ensino médio ajuda muito porque já se sabe
antes pelo que vai se passar", afirma a estudante do terceiro ano do ensino médio
Sofia Reinach, 17. Ela lembra que sua mãe
mudou o comportamento com ela e com
o irmão quando eles acabaram o ensino
fundamental: "Ela começou a passar
mais responsabilidade para a gente. Eu
pude decidir melhor o que eu quero fazer
sem precisar pedir permissão para tudo".
Para Thaís Bilenky, 16, que faz o segundo ano do ensino médio e tem irmãos
mais velhos, a relação com os pais muda
depois que se entra no ensino médio,
mas não por causa da escola. Segundo
ela, "a gente só tem mais liberdade porque a nossa idade permite".
Do outro lado, na pele de mais velho,
Mathias Fingermann, 16, no terceiro ano
do ensino médio, possui o agravante de
ter passado de uma escola com método
ultraformal para uma de regime menos
convencional. "Na escola em que eu estava, a relação com os professores era a
mais fria possível, eles não nos ouviam.
Não havia diálogo. A gente era bombardeado com informações que não podiam
ser contestadas. Na nova escola, elas são
oferecidas e a gente escolhe se quer pegar."
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