São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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SAÚDE

Mais aceitação

Para infectologista, preconceito começa pelo próprio indivíduo e precisa ser combatido

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O médico infectologista David Uip, diretor-executivo do Incor e professor livre docente da USP, acompanha de perto a história da Aids no Brasil. Ele participou dos primeiros diagnósticos da doença no país, em 1982.
Ele conta que a primeira geração de crianças que nasceram com o HIV morreu. "Hoje, é uma enorme satisfação pessoal acompanhar adolescentes que eu vi nascer. Vi essa doença mudar de rumo." Uip coordena o projeto de Cooperação Brasil/Angola na Luta Contra a Aids, que está reduzindo de 50% para menos de 2% o índice de transmissão vertical do HIV. (AK)

Folha - Como vive hoje um adolescente com HIV?
David Uip -
Hoje eles vivem mais e melhor. Mas há efeitos colaterais, como o aumento de colesterol, que leva a problemas cardíacos e cerebrais, como o derrame. Aumentou muito o número de jovens soropositivos com doenças coronárias. Também existem efeitos que atrapalham a estética do indivíduo, como a lipodistrofia. Estamos investindo para trazer de volta a beleza dessas pessoas, com um planejamento estético que vai do preenchimento no rosto até lipoaspiração nas costas e no abdômen.
Folha - Ainda há muito preconceito contra os soropositivos?
Uip -
É uma doença que ainda é estigmatizante. O preconceito começa no indivíduo, que não quer que ninguém saiba que ele tem a doença e acaba se sentindo isolado. Mas ele tem receio por conta da história, que mostra que a sociedade é preconceituosa. E sem razão, pois não há como transmitir sem ser via sangue ou sexo.
Folha - O que significa ter HIV na adolescência?
Uip -
Muitas vezes esse adolescente é órfão. Isso tem que ser bem trabalhado. O adolescente terá uma vida normal, mas com mais cuidados, como comer bem, dormir bem, praticar esporte e usar preservativo. O importante é que se sinta dentro do contexto e seja aceito. Ainda ouvimos dizer que alguns pais não querem que os filhos estudem com soropositivos. Essa ignorância tem que ser repudiada.


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