São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000 |
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ESCUTA AQUI Polícia esmaga rave em San Diego, cidade linda num país sem graça
Álavaro Pereira Júnior
Não era um atentado do grupo radical islâmico Hezbollah, nem o exército Zapatista tinha praticado
mais um de seus ataques.
Não era nada disso, mas parecia, e aconteceu sábado
retrasado.
A polícia montada atacava as pessoas na praia. Um
cordão de isolamento mantinha o povo afastado em
um raio de dois quarteirões. Banhistas furiosos atiravam latas nos policiais, os cavalos se assustavam com as
vaias da multidão. Esse tumulto generalizado não teve
lugar em nenhum fim-de-mundo em estado de conflagração, mas na rica, bela e civilizada Mission Beach, San
Diego, sul da Califórnia.
Chegando a San Diego depois de dois dias em Tijuana, do outro lado da fronteira com o México, eu tinha
de esperar algumas horas até a saída de meu avião de
volta para casa. Sem muitas opções, fui à praia matar o
tempo. Era o primeiro dia do feriado prolongado de 4
de julho (Dia da Independência dos Estados Unidos), e
os hormônios estavam em alta em San Diego.
Num determinado trecho de Mission Beach, onde as
casas ficam bem perto da praia, uma cooperativa de DJs
(www.bustydjs.com) fazia uma festa, voltando as caixas de som para a areia. Fim de tarde, tecno alto, cerveja
a rodo. Por um momento, pensei que teria de rever minha tese de que a Califórnia andava meio monótona.
Parecia uma rave, em clima de Carnaval brasileiro.
Mas a alegria não durou cinco minutos. Policiais a cavalo acabaram com a festa, sabe-se lá por imposição de
qual regra, entre as milhões que governam a vida americana. O som foi desligado e a cerveja, proibida. Tipos
"suspeitos" passaram a tomar dura das autoridades.
Dizem que um dos lemas dos puritanos que colonizaram os EUA era "if you are having fun, you will be punished" (se você está se divertindo, será punido). Ou,
simplificando, em bom português: é proibido ser feliz.
Claro que este país oferece um outro tipo de felicidade: aquela da estabilidade econômica, das infinitas
oportunidades, de um futuro seguro, ao preço de uma
vida sem sabor. Improvisos e imprevistos estão fora de
cogitação. É tudo rigidamente planejado.
Já longe da praia, andando pelas limpíssimas ruas
americanas, voltei mentalmente no tempo, para a empoeirada e caótica Tijuana, no México. Que tem todos
os defeitos do mundo, mas é muito mais viva do que a
asséptica San Diego. |
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