São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Meninas liberadas

Diário de quatro adolescentes de NY, com maconha, bebidas e sexo, vira best-seller nos Estados Unidos; filme baseado no livro "100 Escovadas" estréia no fim do mês

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON

A idéia das quatro garotas de Nova York era muito simples: como iam começar o ensino médio (ou high school, em inglês, que dura quatro anos) e não iam se encontrar tanto quanto nos anos anteriores, decidiram fazer um diário coletivo.
Assim, uma escrevia o que estava se passando com ela e entregava para a primeira entre as outras três que encontrasse, que faria o mesmo. E foi assim que Sophie Pollitt-Cohen, Courtney Toombs, Julia Baskin e Lindsey Newman mantiveram a amizade acesa e a comunicação a mil de setembro de 2001 até junho de 2005.
E assim nasceu o livro "The Notebook Girls", lançado esse ano nos Estados Unidos (e sem editora no Brasil), que ficou três semanas na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times".
A escola que as quatro nova-iorquinas de classe média alta freqüentavam era a Stuyvesant High School, a escola pública mais prestigiosa de Nova York.
Elas eram boas alunas, de famílias ascendentes, mas estavam, como quase todos os adolescentes, experimentando tudo o que aparecia pela frente.
O "notebook", como elas chamavam o diário, era supersecreto. Ninguém podia ler, só as quatro amigas. Por isso, elas escreviam tudo o que vinha à cabeça, desde os detalhes das tardes em que fumavam maconha e passeavam sem rumo até as festas secretas, cheias de bebidas e garotos, na casa da mãe de uma delas, passando pelo sonho de transar com um menino que tinha namorada. "Se eu estivesse pensando em escrever mesmo um livro que seria publicado, jamais teria sido tão sincera. Talvez tivesse botado umas aventuras mais heróicas, menos tédio, mas a idéia era só fazer um diário", contou ao Folhateen Courtney Toombs.
A idéia de publicar o diário não partiu das garotas. Foi Randy Cohen, pai de Sophie e colunista da revista dominical do "The New York Times", e a mãe dela, Katha Pollitt, também jornalista, que tiveram a idéia. Eles não tinham lido o diário, mas achavam que poderia ser um relato interessante.
Então, convenceram a filha a mostrar o material para um agente literário amigo da família, que decidiu publicar. "Aí, tive de mostrar, finalmente, o diário para os meus pais, já que eu era menor de idade", contou Sophie ao Folhateen.
"Foi a coisa mais difícil que eu fiz na vida. Eles já sabiam que eu tinha transado e imaginavam que parte das outras coisas, como maconha e bebida, tinha passado pela minha vida, mas não sabiam detalhes nem conheciam o tom debochado do diário."
Em uma fase, uma das garotas, Julia Baskin, se apaixona por outra menina, e as duas namoram por alguns meses.
Já Sophie se apaixona por um garoto que não quer namorá-la, mas os dois ficam juntos sempre e chegam quase a transar (e o que acontece é descrito em palavras e desenhos). Ela é a única que perde a virgindade no curso do livro, com outro menino, e descreve em detalhes para as amigas (e para nós) tudo que rolou.
Por essas e outras, o livro causou polêmica quando foi lançado e vários pais de adolescentes proibiram os filhos de ler o livro. "Acho toda essa polêmica um absurdo. Só tem uma pessoa que transa nesse livro, e sou eu. Esperei o momento certo, usei camisinha e depois contei para a minha mãe, que me levou ao ginecologista para ele me receitar um anticoncepcional. Não é assim que todos deviam agir na primeira vez?", diz Sophie.
"Acho que o problema é que somos meninas, boas alunas e de famílias legais. As pessoas gostam de pensar que drogas, bebidas e garotos só fazem parte da vida de meninas perdidas, que não querem nada com nada", diz Courtney. "Nosso livro contradiz essa tese hipócrita, por isso assusta os puritanos."


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