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EU VIVI (MAS NÃO GOSTEI)
"Ela te mostrou a prova, né?", eu ouvia
LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
Quem tem irmão
costuma repetir
uma espécie de
mantra: "Só eu posso falar
mal dele". O mesmo vale
para pai e mãe.
Cresci seguindo esse,
digamos, código de ética
familiar. E saber que minha mãe seria, naquele
ano, a professora de história da quinta série B foi como ser intimada a ficar
em alerta constante.
Para começar, me vi me
questionando como deveria chamar a minha...mãe!
Professora? Cristina?
Mãe é tão mais natural...
E o estado de alerta que
não passa? E sempre tinha algum colega para
contribuir: "Olha lá, o Fulano está fazendo gracinha com ela" ou "A Sicrana falou mal". Opa, pera
lá. É minha mãe!
Perdi a conta de
quantos entraram para a
minha lista negra...
E a culpa que dá, acredite, de tirar notas boas (!).
Bastava eu receber uma
prova corrigida para alguns colegas se juntarem
e emendarem: "Filha da
professora, né?" ou "Ela te
mostrou a prova, né?".
É como se pintassem
um "X" na sua testa. Qualquer atraso, aula cabulada, briga ou brincadeira
podia virar assunto na sala dos professores ou ser
emendado com um "sua
mãe sabe?". Se não sabia,
ela ficava sabendo. Saco!
Mas as coisas podiam
ser piores. Um colega era
filho do professor de física
mais temido da escola.
Deve ter sofrido bem mais
do que eu.
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