São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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comportamento

Cidade maravilhosa

Não se trata do Rio de Janeiro! Qualquer amontoado de concreto seduz estes urbanóides

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela prefere ficar presa em um congestionamento a passar um fim de semana no campo. A poluição das cidades grandes também não a incomoda: "Sinto falta do ar poluído; ar puro não combina comigo". Já a violência urbana, para ela, é o preço pago por quem mora em uma metrópole cheia de programas acessíveis e quer usufruir das comodidades que a vida moderna oferece.
Com esse discurso, que para muitos pode soar absurdo, a estudante Amanda Yasmim Tavano Borges, 17, defende a vida urbana. "Em São Paulo há coisas para fazer; você nunca fica sem programas. Além disso, tudo é muito acessível. Lugar sossegado não serve para mim."
Também não serve para o estudante Felipe Ventura, 16, urbanóide assumido e apreciador da boa gastronomia que só São Paulo tem. "Eu odeio areia. Quando vou à praia, entro rapidamente no mar, me benzo com a água e volto correndo para a piscina", conta Felipe, que nem na natureza do parque Ibirapuera se sente à vontade.
Mas, segundo ele, pior que a areia da praia grudada pelo corpo é andar descalço. "Uso sandália sempre, tenho medo que entre uma farpa no meu pé."
Curiosamente, odiar andar sem sapatos parece ser algo comum entre os jovens urbanóides, como é o caso de Débora Bettine Nóia, 17. "Faz tanto tempo que eu não fico descalça que nem me lembro de quando foi. Sou daquelas paulistas de pé branco", revela a estudante, que, por incrível que pareça, foi bandeirante durante um ano.
"Não agüentei. Além de não gostar de respeitar a hierarquia, tive de acampar, montar barraca e cozinhar na fogueira. Essa vida não era para mim."
Nem para Aline Varnovitzky, 17, que se sente bem mesmo no conforto dos shoppings paulistanos -vai a algum no mínimo uma vez por semana, conta.
"Não sou uma pessoa da natureza, odeio insetos e tenho pânico de sapo. Acampar, então, nem pensar, é exatamente o tipo de coisa que não gosto de fazer", afirma, sem hesitar.
Ela tampouco se vê morando em cidade pequena. "Não conseguiria viver em um lugar onde todo mundo se conhece e que só tem um lugar para sair."
São Paulo, Aline só trocaria pela ainda mais agitada Nova York. "Estive lá e gostei muito das luzes e de toda a movimentação. Logo bateu uma identificação com a cidade. É lá onde todas as coisas acontecem", diz.
Caso deixasse São Paulo, Nova York também seria o destino da estudante de fotografia Ana Beatriz Cavalcante Elorza, 20, pelo fato de ela gostar dessa "coisa urbana" que está por toda a metrópole dos EUA. "A paisagem urbana me atrai. Como observadora, vejo mais detalhes, presto mais atenção no que estou vendo."
Sua impaciência com a vida rural a fez largar um acampamento na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. "Não estava conseguindo nem dormir. Gosto de ir para a cama tarde, então era impossível ficar na barraca de manhã, pelo calor. Além disso, o camping estava lotado e aquela gente alegre e feliz de manhã me deixava bem irritada."


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