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SAÚDE
Doenças que comprometem a fertilidade podem aparecer durante a adolescência
Cuide-se agora para poder ter filhos no futuro
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de se preocuparem com a prevenção da gravidez, os adolescentes devem ficar atentos a problemas mais comuns que podem comprometer a fertilidade no futuro. Alguns se manifestam já
na puberdade e, quanto mais rápido forem o diagnóstico e o tratamento, menos
prejuízo haverá no sistema reprodutor.
Os garotos devem ficar atentos, por
exemplo, à varicocele, uma doença que
provoca dilatação das veias dos testículos. Com o tempo, isso prejudica a qualidade seminal. Hoje, essa doença é a principal causa de infertilidade no homem.
Um estudo feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 30
adolescentes concluiu que o problema é
mais comum do que se imagina: 50% deles apresentavam a doença e, desses, 40%
tinham problemas de fertilidade.
Segundo o urologista Rodrigo Pagani,
os garotos devem checar se um testículo
é maior do que o outro, ou se há diminuição dos mesmos, ou ainda se existem
nódulos ou aumento no volume do escroto. "O primeiro e mais importante
passo é descobrir se os dois testículos
realmente se encontram no saco escrotal. Parece uma coisa banal, mas muitos
adolescentes chegam ao consultório sem
nunca terem sido examinados pelos seus
pais e médicos", diz.
Para o urologista Agnaldo Cedenho,
chefe do serviço de reprodução humana
da Unifesp, o quanto antes for realizada a
cirurgia, maiores as chances de reversão
do problema e menor será o comprometimento da fertilidade no futuro.
Outra preocupação que os garotos devem ter é com o câncer de testículo. É na
adolescência e em adultos jovens que
aparece o maior número dessa doença.
A quimioterapia e a radioterapia, além
de matarem as células cancerígenas,
também exterminam as células normais
do organismo. Em alguns casos, homens
podem deixar de produzir espermatozóides por completo. "Por isso, além de
realizar exames periódicos com urologista, se houver necessidade de tratamento contra o câncer, é importante como prevenção o congelamento de sêmen", diz Pagani.
A falta ou a irregularidade constante da
menstruação é um risco para as garotas
porque pode significar a presença da
Síndrome de Ovários Policísticos (SOP),
provocada por um grande desequilíbrio
hormonal que leva à falta de ovulação e
consequente atraso e até ausência das
menstruações. "O estado de anovulação
crônica é uma das principais causas de
infertilidade feminina. É importantíssimo que as mulheres se preocupem em
corrigir o problema o quanto antes",
afirma Eduardo Motta, ginecologista e
diretor do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva.
Segundo ele, se a menstruação atrasar
por mais de três ciclos seguidos, a garota
deve procurar um médico. Uma irregularidade ocasional, como uma ou duas
vezes por ano, não é problema, pois as
adolescentes têm nas emoções um fator
que pode interferir na atividade da hipófise. Em geral, afirma o médico, o tratamento se baseia na inibição da atividade
da hipófise com a administração de pílulas anticoncepcionais ou mesmo da progesterona, com a finalidade de repor esse
equilíbrio hormonal.
Embora as cólicas sejam relativamente
comuns na adolescência, também podem ser sinais de endometriose, uma
doença que atinge 5% das garotas.
A doença provoca uma reação inflamatória que distorce a anatomia da mulher, principalmente das trompas e dos
ovários, levando a sérias dificuldades no
futuro. A endometriose, ou a presença
do endométrio -a camada que reveste
o útero por dentro- fora da sua localização original é uma alteração contínua
e progressiva que leva as meninas às cólicas menstruais incapacitantes.
Segundo Mota, se as cólicas forem
muito fortes, pode-se fazer a laparoscopia, que é o exame que diagnostica a endometriose, ou um teste terapêutico, como o uso de pílulas anticoncepcionais.
"O tratamento é importante para preservar o futuro reprodutivo", diz ele.
Outro problema que pode afetar garotos e garotas são as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Nos homens, a gonorréia e as infecções por clamídia e ureaplasma podem provocar lesões nos canais por onde passam os espermatozóides, causando obstrução.
Nas mulheres, as bactérias se instalam
nas trompas, obstruindo-as e impedindo
a passagem do óvulo.
Hábitos não-saudáveis
Além de provocar inúmeras doenças, o
cigarro também leva à infertilidade. Ele
libera substâncias tóxicas aos espermatozóides e aos óvulos. "Saiam dessa roubada", diz Motta. Maconha e haxixe também diminuem a concentração e a mobilidade dos espermatozóides.
As garotas que consomem álcool em
excesso têm uma diminuição no tamanho dos ovários, o que leva aos problemas de ovulação e, em alguns casos, à
menopausa precoce.
Para os garotos, os anabolizantes representam outro perigo. Os androgênios
(hormônios que aumentam a massa
muscular) inibem o funcionamento da
hipófise, glândula que controla a produção de espermatozóides, e provocam
atrofia do testículo.
O excesso de peso ou a magreza excessiva também fazem mal aos futuros pais:
causam desequilíbrio hormonal, afetando a fertilidade.
Cláudia Collucci é autora do livro "Quando a
Gravidez Não Vem", da editora Atheneu
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