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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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SAÚDE

Doenças que comprometem a fertilidade podem aparecer durante a adolescência

Cuide-se agora para poder ter filhos no futuro

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de se preocuparem com a prevenção da gravidez, os adolescentes devem ficar atentos a problemas mais comuns que podem comprometer a fertilidade no futuro. Alguns se manifestam já na puberdade e, quanto mais rápido forem o diagnóstico e o tratamento, menos prejuízo haverá no sistema reprodutor.
Os garotos devem ficar atentos, por exemplo, à varicocele, uma doença que provoca dilatação das veias dos testículos. Com o tempo, isso prejudica a qualidade seminal. Hoje, essa doença é a principal causa de infertilidade no homem.
Um estudo feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 30 adolescentes concluiu que o problema é mais comum do que se imagina: 50% deles apresentavam a doença e, desses, 40% tinham problemas de fertilidade.
Segundo o urologista Rodrigo Pagani, os garotos devem checar se um testículo é maior do que o outro, ou se há diminuição dos mesmos, ou ainda se existem nódulos ou aumento no volume do escroto. "O primeiro e mais importante passo é descobrir se os dois testículos realmente se encontram no saco escrotal. Parece uma coisa banal, mas muitos adolescentes chegam ao consultório sem nunca terem sido examinados pelos seus pais e médicos", diz.
Para o urologista Agnaldo Cedenho, chefe do serviço de reprodução humana da Unifesp, o quanto antes for realizada a cirurgia, maiores as chances de reversão do problema e menor será o comprometimento da fertilidade no futuro.
Outra preocupação que os garotos devem ter é com o câncer de testículo. É na adolescência e em adultos jovens que aparece o maior número dessa doença.
A quimioterapia e a radioterapia, além de matarem as células cancerígenas, também exterminam as células normais do organismo. Em alguns casos, homens podem deixar de produzir espermatozóides por completo. "Por isso, além de realizar exames periódicos com urologista, se houver necessidade de tratamento contra o câncer, é importante como prevenção o congelamento de sêmen", diz Pagani.
A falta ou a irregularidade constante da menstruação é um risco para as garotas porque pode significar a presença da Síndrome de Ovários Policísticos (SOP), provocada por um grande desequilíbrio hormonal que leva à falta de ovulação e consequente atraso e até ausência das menstruações. "O estado de anovulação crônica é uma das principais causas de infertilidade feminina. É importantíssimo que as mulheres se preocupem em corrigir o problema o quanto antes", afirma Eduardo Motta, ginecologista e diretor do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva.
Segundo ele, se a menstruação atrasar por mais de três ciclos seguidos, a garota deve procurar um médico. Uma irregularidade ocasional, como uma ou duas vezes por ano, não é problema, pois as adolescentes têm nas emoções um fator que pode interferir na atividade da hipófise. Em geral, afirma o médico, o tratamento se baseia na inibição da atividade da hipófise com a administração de pílulas anticoncepcionais ou mesmo da progesterona, com a finalidade de repor esse equilíbrio hormonal.
Embora as cólicas sejam relativamente comuns na adolescência, também podem ser sinais de endometriose, uma doença que atinge 5% das garotas.
A doença provoca uma reação inflamatória que distorce a anatomia da mulher, principalmente das trompas e dos ovários, levando a sérias dificuldades no futuro. A endometriose, ou a presença do endométrio -a camada que reveste o útero por dentro- fora da sua localização original é uma alteração contínua e progressiva que leva as meninas às cólicas menstruais incapacitantes.
Segundo Mota, se as cólicas forem muito fortes, pode-se fazer a laparoscopia, que é o exame que diagnostica a endometriose, ou um teste terapêutico, como o uso de pílulas anticoncepcionais. "O tratamento é importante para preservar o futuro reprodutivo", diz ele.
Outro problema que pode afetar garotos e garotas são as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Nos homens, a gonorréia e as infecções por clamídia e ureaplasma podem provocar lesões nos canais por onde passam os espermatozóides, causando obstrução. Nas mulheres, as bactérias se instalam nas trompas, obstruindo-as e impedindo a passagem do óvulo.

Hábitos não-saudáveis
Além de provocar inúmeras doenças, o cigarro também leva à infertilidade. Ele libera substâncias tóxicas aos espermatozóides e aos óvulos. "Saiam dessa roubada", diz Motta. Maconha e haxixe também diminuem a concentração e a mobilidade dos espermatozóides.
As garotas que consomem álcool em excesso têm uma diminuição no tamanho dos ovários, o que leva aos problemas de ovulação e, em alguns casos, à menopausa precoce.
Para os garotos, os anabolizantes representam outro perigo. Os androgênios (hormônios que aumentam a massa muscular) inibem o funcionamento da hipófise, glândula que controla a produção de espermatozóides, e provocam atrofia do testículo.
O excesso de peso ou a magreza excessiva também fazem mal aos futuros pais: causam desequilíbrio hormonal, afetando a fertilidade.


Cláudia Collucci é autora do livro "Quando a Gravidez Não Vem", da editora Atheneu


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