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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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Jovens vão da tolerância ao sexo sem camisinha para provar o seu amor

Paixão a toda prova

Tuca Vieira/Folha Imagem
Carol e Bobbi tatuaram o nome uma da outra como prova de amor


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

CAROL FREDERICO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando um simples olhos nos olhos faz chover purpurina e desaparecer o ar dos pulmões, é certo que você está gamado por alguém. Mas, numa época em que beijo na boca e sexo não demonstram grande coisa -já que nem sempre estão atrelados a um afeto mais profundo-, o que as pessoas fazem para provar seu amor? Fidelidade, tolerância, sexo sem camisinha e tatuagens integram o protocolo amoroso da modernidade.
Ao mesmo tempo em que modalidades mais radicais, como forjar o sequestro da própria namorada, surgem nos noticiários como exceções na bolsa de valores das provas de amor, há jovens que preferem as demonstrações clássicas e atemporais, sempre bem cotadas: flores, faixas, músicas e declarações públicas exageradas.
Mas por que será que as pessoas insistem em pedir ou em dar provas de amor?
"Todo mundo tem muito medo de amar sozinho, mas está constantemente lidando com isso", explica Claudio Picazio, 45, psicólogo, sexólogo e consultor do Programa Nacional de DST/Aids. "Quando alguém começa a se envolver além do que está acostumado, quer saber se o outro lado está vivendo a mesma coisa. É por isso que as pessoas pedem e dão provas de amor", completa Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Projeto Sexualidade da USP (Universidade de São Paulo). "Pedir uma prova de amor é responsabilizar a outra parte pela relação e pelo que se sente."

Sexo aqui, amor lá
Para Abdo, ao longo dos últimos 40 anos, sexo e amor têm se distanciado sistematicamente. E essa é a chave das novas modalidades de provas de amor. "Hoje é raro alguém buscar no sexo uma prova de afeto. Estamos vivendo novas formas de relacionamentos sexuais e afetivos", afirma. "Nesse contexto, a prova de amor seria a fidelidade. Não ter outro parceiro."
Cansados das facilidades dos namoricos instantâneos e da entrega sem compromisso das baladas, muitos jovens buscam o regresso de valores como fidelidade e confiança nas relações amorosas.
Anne Machado, 20, pensa exatamente dessa forma. "Como beijar e transar é algo que independe de amor, a prova de amor de hoje é ser fiel a quem se ama."
Paula Roberta, 20, amargou a anti-prova de amor moderna com seu namorado de dois anos: uma traição. Em contrapartida, deu a ele uma das provas de amor mais prestigiosas de hoje: a tolerância. "Superei meu orgulho e o perdoei."
Mesmo desconfiados da monogamia, muitos jovens prezam a confiança como um dos maiores certificados de afeto. Para esses, a prova é a pior possível para os dias de hoje: transar sem camisinha.
"É a maior prova que existe. Mostra que você tem confiança na pessoa", afirma Mariana (nome fictício), 16, que transou sem camisinha com o namorado de três meses sem exames prévios.
Segundo pesquisa Ibope feita neste ano no Brasil e apresentada à Coordenação Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, enquanto o uso de camisinha com parceiros eventuais cresceu nos últimos quatro anos, apenas 20% dos brasileiros fazem questão de usar preservativo com um parceiro fixo (53% deles citaram a confiança como o principal fator para dispensarem a camisinha).
"Tudo o que é arriscado acaba sendo uma prova para o jovem, que gosta de perigo. Transar sem camisinha pode ser considerado uma prova de amor, mas, certamente, não é uma prova de amor próprio", avalia Abdo.

Loucuras e chantagens
Bobbi Prado, 23, e Carol Aboarrage, 26, estão juntas há quase três anos e escolheram como prova de amor uma marca definitiva no próprio corpo: cada uma fez uma tatuagem com o nome da outra. "Acho isso uma superprova de amor. Gosto de ver meu nome no corpo dela e o dela no meu", conta Bobbi, que já tinha o nome da namorada tatuado em japonês no braço.
"O pensamento "se você me ama, eu possuo você" é confortante. O que mais poderia expressar propriedade do que ter o nome da pessoa amada escrito na sua pele? Tatuagens de amor são a concretização das fantasias das gerações passadas", analisa Abdo.
"Se alguém não acredita no amor do outro, quem disse que um nome tatuado é sinônimo de garantia?", diz Picazio.
"Uma ex-namorada pediu que eu tatuasse o nome dela no corpo como prova de amor. Não tive coragem. Virou moda tatuar o nome da pessoa amada", conta o estudante Felipe Segura, 20.
Um pedido de prova de amor pode muito bem ser uma chantagem disfarçada de romantismo. "Se você me ama, transe comigo", "se você me ama, experimente drogas comigo", "se você me ama, vá para onde for comigo".
"Nem sempre quem pede a prova de amor está amando. Muitas vezes, essa pessoa quer apenas saber se está sendo amada", alerta Abdo.
"A prova de amor tem de ser, acima de tudo, honesta com aquilo que você sente, e não com aquilo que o outro quer", afirma Picazio.
"Amor se prova com amor, fidelidade, com fidelidade, e tesão, com tesão", diz.



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