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Ligações Perigosas
Ciúme demais pode fazer namoro virar escravidão; jovens contam rotina de proibições, isolamento e agressões físicas
DÉBORA YURI
PATRÍCIA PEREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois do caso Eloá,
em que a adolescente foi seqüestrada pelo ex-namorado ciumento e a
história acabou em tragédia, e
do rompimento de Luana Piovani com Dado Dolabella, que
teria agredido a atriz numa casa
noturna, uma luz vermelha
acendeu na cabeça de muitos
adolescentes: qual é o limite do
ciúme? Será que meu namorado (ou namorada) chegaria a
esse ponto? E o que eu faria
nessa situação?
Juliana*, 17, namora há um
ano e cinco meses um rapaz
muito ciumento, que já a agrediu. "Uma vez, na minha casa, a
gente teve uma discussão, ele se
irritou e me deu um tapa e um
soco no rosto. Eu só chorei,
porque não ia conseguir me defender, ele é muito mais forte."
Ela terminou o relacionamento, mas, um mês depois,
reatou com o namorado por
"gostar muito dele", apesar da
indignação das amigas, de se
sentir "idiota" e das broncas
dos pais, a quem o menino pediu desculpas pela violência.
"Jovens que se submetem a
relacionamentos possessivos
não dão a si mesmos muita importância, a tal ponto que se
subjugam a caprichos e excessos do parceiro", diz o psicólogo especializado em adolescência Miguel Perosa, da PUC-SP.
"A carência emocional é tão
complexa que ele chega a achar
fascinante ter alguém tão preocupado consigo, mesmo que
cerceie sua liberdade. A vítima
do ciúme fica cega, faz de tudo
para não ver o problema, porque ela precisa daquilo", completa a psicóloga Ana Paula
Mallet Lima, da Unifesp.
Conselho vira ordem
O ciumento além da conta
começa a mostrar sua cara com
conselhos, que mais adiante viram proibições e podem culminar em agressões verbais e até
físicas. Foi assim com Juliana.
Desde o início, o namorado
implicava com recados deixados por meninos em seu Orkut.
Passou a ficar nervoso e a iniciar brigas sempre que ela tinha vontade de sair sozinha.
Ele ainda a controla, com ligações para o seu celular. "Ele
liga o tempo todo, eu atendo e
ele pede relatório: "Onde você
tá? Com quem você tá?'", conta.
Segundo especialistas, o ciúme muitas vezes é confundido
com cuidado e visto como uma
forma de amor. "Mas é apenas a
manifestação da insegurança.
E isso é perigoso, porque as exigências tendem a aumentar de
freqüência e de intensidade,
transformando a vida do outro
numa escravidão", diz Perosa.
Quando tinha 18 anos, Fernanda*, 25, teve um namorado
possessivo. Suas amigas o apelidaram de "psycho" (psicopata). Ele a mandava trocar de
roupa, controlava com quem
ela conversava e aonde ia e tinha ciúme até da sua família.
O namoro durou três anos.
"As pessoas foram se afastando.
Fui me isolando também, só
saía com ele", lembra. O programa de sexta era sair da faculdade e comer pizza na casa dele; no sábado, cinema; domingo, almoçar com os pais dele.
"Eu estava vivendo como se
tivesse 70 anos, mas tinha 18.
Ele só admitia duas amigas que
conhecia bem; homem, nem
pensar. Eu tinha medo das reações dele. Demorei a me tocar,
pensava que as atitudes eram
por se preocupar comigo", diz.
Daniela*, 17, foi proibida pelo
ex-namorado de entrar no
MSN, fazer um perfil no Orkut
e de falar com meninos. "Eu só
podia conversar com as minhas
amigas e com os amigos dele, e
só com ele por perto", conta.
Quando ele a proibiu de sair
sem autorização, a jovem pôs
fim à relação. "Ele falava que
era normal ter ciúme, que me
adorava. Percebi que, se você
tolera, o tempo passa e o controle só piora."
Para o psicólogo Ailton Amélio, da USP, há limites que não
podem ser atingidos -como
agressão física, desrespeito verbal, invasão de celular ou e-mail, restrição da vida social.
"Tem que deixar claro o que é
intolerável. Se persistir? Termine o namoro", diz. Como fez
Luana Piovani com Dado Dolabella, e explicou: "Descontrole
nesse nível eu não aceito".
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