São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Comportamento

Heróis da resistência

As dificuldades dos assumir diferenças na adolescência é uma barra; conheça aqui quatro exemplos de sucesso

DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Formar turmas, andar em bando, se vestir e falar igual aos amigos da tribo é uma das principais características do período da adolescência. Raros são aqueles que assumem um comportamento ou aparência diferente da dos colegas nessa época da vida.
Quem, no entanto, encara sua diferença e assume uma atitude contra a corrente dá sinais de convicção, de personalidade e de um amadurecimento incomum nessa fase.
É o caso de Manall Sleimaan, 17, que assumiu sua vontade de usar o lenço muçulmano. "Um dia, simplesmente acordei e disse à minha mãe que queria começar a usar. Meus pais se surpreenderam", conta a moça.
Também é o caso do carinha que, aos 21, namora uma mulher de 55. "Acho bem tranqüilo. O importante é gostar da pessoa", diz Arquiris Rodrigues de Sousa. Ou a garota que elege o albinismo como seu maior charme. E ainda a mocinha de traços delicados que passeia abraçada à namorada e troca idéia com os pais sobre suas inclinações afetivas.
Jovens que têm mais facilidade em aceitar a diversidade são os que possivelmente já superaram as tensões mais fortes, naturais dessa fase de vida, diz a psicóloga Ana Bock, professora da PUC.
E isso é bom? "É ótimo, é bárbaro!", ela diz. "É um salto no desenvolvimento pessoal. A diversidade é considerada a maior riqueza do ser humano."

É preciso se impor
"Atravessar um estigma dá uma dimensão maior à vida e mostrar isso aos outros abre lugar para a pessoa dentro do grupo", afirma o terapeuta Miguel Yalente Perosa, professor de psicologia da PUC.
Tem coragem para assumir suas diferenças o adolescente que já viveu a fase crítica da contradição e se sente mais tranqüilo em relação à conquista de seu próprio espaço.
"O grupo de amigos faz a transição da autoridade paterna para a autoridade social, e por isso a turma é tão importante - ela representa para o adolescente uma referência social", afirma Perosa. "Assumir uma diferença é difícil nessa idade. Pode fazer isso quem tem a identidade mais ajustada. Depende basicamente da aceitação e acolhimento recebidos pela família de origem."
Ele pondera que enfrentar as diferenças com a cabeça erguida só pode acontecer numa sociedade individualista, em que a afirmação do "eu" é muito valorizada.
"Na nossa sociedade massificada, assumir a diferença também é questão de sobrevivência da individualidade. Ou seja, a referência continua sendo os outros, a massa, e posicionar-se de forma diferente seria uma forma de perceber-se como uma individualidade, como dizer "eu sou eu'", analisa ele.
Independentemente da motivação, fugir à normalidade numa faixa de idade que já tem a rebeldia como referência tem seu preço. Por isso, quando as críticas e as gracinhas dos colegas começam a incomodar, está na hora de dizer: "Opa! isso está ficando chato. Vamos parar?"
O principal conselho é se impor, se posicionar corajosamente, sem esperar piedade dos outros. "Cabe ao jovem se afirmar com alguma freqüência para superar a primeira fase. Depois, fica mais fácil", diz Ana Bock.

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