|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comportamento
Heróis da resistência
As dificuldades dos assumir diferenças na adolescência
é uma barra; conheça
aqui quatro exemplos
de sucesso
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Formar turmas, andar
em bando, se vestir e
falar igual aos amigos da tribo é uma
das principais características do período da adolescência. Raros são aqueles que
assumem um comportamento
ou aparência diferente da dos
colegas nessa época da vida.
Quem, no entanto, encara
sua diferença e assume uma
atitude contra a corrente dá sinais de convicção, de personalidade e de um amadurecimento
incomum nessa fase.
É o caso de Manall Sleimaan,
17, que assumiu sua vontade de
usar o lenço muçulmano. "Um
dia, simplesmente acordei e
disse à minha mãe que queria
começar a usar. Meus pais se
surpreenderam", conta a moça.
Também é o caso do carinha
que, aos 21, namora uma mulher de 55. "Acho bem tranqüilo. O importante é gostar da
pessoa", diz Arquiris Rodrigues
de Sousa. Ou a garota que elege
o albinismo como seu maior
charme. E ainda a mocinha de
traços delicados que passeia
abraçada à namorada e troca
idéia com os pais sobre suas inclinações afetivas.
Jovens que têm mais facilidade em aceitar a diversidade
são os que possivelmente já superaram as tensões mais fortes,
naturais dessa fase de vida, diz
a psicóloga Ana Bock, professora da PUC.
E isso é bom? "É ótimo, é bárbaro!", ela diz. "É um salto no
desenvolvimento pessoal. A diversidade é considerada a
maior riqueza do ser humano."
É preciso se impor
"Atravessar um estigma dá
uma dimensão maior à vida e
mostrar isso aos outros abre lugar para a pessoa dentro do
grupo", afirma o terapeuta Miguel Yalente Perosa, professor
de psicologia da PUC.
Tem coragem para assumir
suas diferenças o adolescente
que já viveu a fase crítica da
contradição e se sente mais
tranqüilo em relação à conquista de seu próprio espaço.
"O grupo de amigos faz a
transição da autoridade paterna para a autoridade social, e
por isso a turma é tão importante - ela representa para o
adolescente uma referência social", afirma Perosa. "Assumir
uma diferença é difícil nessa
idade. Pode fazer isso quem
tem a identidade mais ajustada. Depende basicamente da
aceitação e acolhimento recebidos pela família de origem."
Ele pondera que enfrentar as
diferenças com a cabeça erguida só pode acontecer numa sociedade individualista, em que
a afirmação do "eu" é muito valorizada.
"Na nossa sociedade massificada, assumir a diferença também é questão de sobrevivência da individualidade. Ou seja,
a referência continua sendo os
outros, a massa, e posicionar-se
de forma diferente seria uma
forma de perceber-se como
uma individualidade, como dizer "eu sou eu'", analisa ele.
Independentemente da motivação, fugir à normalidade
numa faixa de idade que já tem
a rebeldia como referência tem
seu preço. Por isso, quando as
críticas e as gracinhas dos colegas começam a incomodar, está
na hora de dizer: "Opa! isso está
ficando chato. Vamos parar?"
O principal conselho é se impor, se posicionar corajosamente, sem esperar piedade
dos outros. "Cabe ao jovem se
afirmar com alguma freqüência para superar a primeira fase. Depois, fica mais fácil", diz
Ana Bock.
Texto Anterior: 02 Neurônio: O fim das fotos de verão... Próximo Texto: "Eu não escondo minha relação com a Fernanda" Índice
|