São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Música

Geração usada

Pioneiros da cena emo, quando essa moda ainda não havia sido ridicularizada, os rapazes do The Used vêm ao Brasil

MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Perspicácia; vamos voltar a 2002 e a 2003. Vamos voltar ao Casarão Amarelo, ao Subjazz e ao Atari. Vamos calçar os sapatos de adolescentes dessa época e falar sobre The Used.
Antes de o termo "emo" se tornar popular e pejorativo no Brasil, antes de a Galeria do Rock ser povoada por cabelos negros grudados na testa e por bonés, munhequeiras e camisetas com a letra U impressa, ninguém havia ouvido o primeiro CD do The Used. Foi quando tudo começou.
"Box Full of Sharp Objects" tocou a galera mais nova do underground da época, que andava entre os que já freqüentavam a cena hardcore desde os anos 80. Mais influenciados pelo pop punk, se apaixonaram pela banda americana de Utah, formada então por Quinn Allman, Branden Steineckert, Jeph Howard e Bert McCracken, que ostentava um vocal ora dolorosamente gritante ora melódico. John Feldmann, vocalista do Goldfinger, era e continua sendo o produtor.
Com outras composições sentimentais como "Buried Myself Alive", "Taste of Ink" e "Blue and Yellow", conquistaram uma legião que viria, como sabemos, a saturar o mercado.
A verdade é que milhares de bandas começaram a fazer a mesma coisa e a alimentar essa nova geração com uma visão "sentimentalóide" do mundo.
Quando "In Love and Death" (2004) chegou ao Brasil, muitos dos que presenciaram o início daquela transformação já haviam crescido e enchido o saco do rótulo de "emo". E The Used não havia se superado, como poderia ter feito. As músicas do primeiro CD continuavam sendo muito melhores.
Bert McCracken diz que as influências não mudaram. "Ouvimos as mesmas bandas que ouvíamos no início; Incubus, Deftones, Glassjaw, Jimmy Eat World", revelou ao Folhateen, por telefone, de Londres. Questionado sobre a mudança que sua banda desencadeou na cena underground, o cantor respondeu: "Nós definitivamente abalamos as estruturas. Mudamos a cena no mundo inteiro".
Mas será que foi para melhor?
Não seria justo atribuir a culpa somente a eles, porém. O fato é que estamos em 2007 e The Used deixou de se sobressair. "Lies For The Liars", lançado neste ano, é um disco sólido e divertido, mas traz músicas que poderiam ser do Fall Out Boy, do My Chemical Romance (seus amigos) ou do Panic at the Disco. Os shows que farão nesta semana, porém, devem lotar.
Porque a moda não passou, só se ridicularizou. Vale a pena para os nostálgicos de 2003 e pela performance do grupo. Infelizmente, depois de uma cirurgia nas cordas vocais, Bert não vomita mais no palco.


MAYRA DIAS GOMES, 19, é autora do romance "Fugalaça" (ed. Record)

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