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Música
Geração usada
Pioneiros da cena emo, quando essa moda ainda não havia sido ridicularizada, os rapazes do The Used vêm ao Brasil
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Perspicácia; vamos
voltar a 2002 e a
2003. Vamos voltar
ao Casarão Amarelo,
ao Subjazz e ao Atari.
Vamos calçar os sapatos de
adolescentes dessa época e falar sobre The Used.
Antes de o termo "emo" se
tornar popular e pejorativo no
Brasil, antes de a Galeria do
Rock ser povoada por cabelos
negros grudados na testa e por
bonés, munhequeiras e camisetas com a letra U impressa,
ninguém havia ouvido o
primeiro CD do The Used.
Foi quando tudo começou.
"Box Full of Sharp Objects" tocou a galera mais nova
do underground da época, que
andava entre os que já freqüentavam a cena hardcore desde os
anos 80. Mais influenciados pelo pop punk, se apaixonaram
pela banda americana de Utah,
formada então por Quinn Allman, Branden Steineckert,
Jeph Howard e Bert McCracken, que ostentava um vocal
ora dolorosamente gritante ora
melódico. John Feldmann, vocalista do Goldfinger, era e continua sendo o produtor.
Com outras composições
sentimentais como "Buried
Myself Alive", "Taste of Ink" e
"Blue and Yellow", conquistaram uma legião que viria, como
sabemos, a saturar o mercado.
A verdade é que milhares de
bandas começaram a fazer a
mesma coisa e a alimentar essa
nova geração com uma visão
"sentimentalóide" do mundo.
Quando "In Love and Death"
(2004) chegou ao Brasil, muitos dos que presenciaram o início daquela transformação já
haviam crescido e enchido o saco do rótulo de "emo". E The
Used não havia se superado, como poderia ter feito. As músicas do primeiro CD continuavam sendo muito melhores.
Bert McCracken diz que as
influências não mudaram. "Ouvimos as mesmas bandas que
ouvíamos no início; Incubus,
Deftones, Glassjaw, Jimmy Eat
World", revelou ao Folhateen,
por telefone, de Londres. Questionado sobre a mudança que
sua banda desencadeou na cena underground, o cantor respondeu: "Nós definitivamente
abalamos as estruturas. Mudamos a cena no mundo inteiro".
Mas será que foi para melhor?
Não seria justo atribuir a culpa
somente a eles, porém.
O fato é que estamos em
2007 e The Used deixou de se
sobressair. "Lies For The
Liars", lançado neste ano, é um
disco sólido e divertido, mas
traz músicas que poderiam ser
do Fall Out Boy, do My Chemical Romance (seus amigos) ou
do Panic at the Disco.
Os shows que farão nesta semana, porém, devem lotar.
Porque a moda não passou, só
se ridicularizou. Vale a pena
para os nostálgicos de 2003 e
pela performance do grupo. Infelizmente, depois de uma cirurgia nas cordas vocais, Bert
não vomita mais no palco.
MAYRA DIAS GOMES, 19, é autora do romance "Fugalaça" (ed. Record)
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