São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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Papa morto, iPod e Strokes

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

A morte do papa deixou perplexa uma amiga minha de 20 e poucos anos. Quando ela nasceu, João Paulo 2º já era papa, e ela nunca tinha pensando que um dia deixaria de ser. Tirei uma onda: "Quer dizer que você não sabia que os papas também morrem?". É claro que ela sabia, mas dá pra entender por que ficou tão impressionada. É assim quando a história acontece, escancarada, bem na nossa frente.
Lembro da morte do papa Paulo 6º, em 1978. Tinha 15 anos e fiquei maluco. Lia o noticiário, decorava os nomes dos favoritos à sucessão. Mais doido ainda fiquei quando o novo papa, João Paulo 1º, morreu um mês depois. Novo conclave, novos favoritos. Escolhi até um cardeal para torcer, Pericle Felice, porque ele gostava de música. Não ganhou, mas foi ele quem anunciou, "habemus papam".
Todo mundo que acompanhava aquilo ficava um pouco mais adulto. Acho fascinante saber que um mesmo acontecimento é visto de maneira diferente por pessoas de idades diferentes. Para mim, a morte de João Paulo 2º foi um grande desafio profissional, observado com certa perspectiva histórica. Já para minha amiga, representava a novidade.
Não é muito difícil transpor esse tipo de sensação para a música. Já pensou que, daqui a alguns anos, existirá uma geração para quem os Strokes vão ser uma banda "das antigas"? Imagine um bebê que esteja nascendo agora. Daqui a uma década, ele vai ver um anúncio de um tocador de MP3 modernex dos dias de hoje, um iPod por exemplo, e dizer: "Nossa, que tosco!".
Uma estagiária aqui do trabalho estava contando que escutava Titãs. Eu, é claro, chiei: "Titãs?". Resposta: "Álvaro, você é a única pessoa que reclama de eu gostar de rock antigo." Os músicos dos Titãs devem ter mais ou menos a minha idade. Sempre achei a banda ruim e escrevi isso, mas nunca pensei que veria alguém se referir a eles como "rock antigo"...
Daqui a alguns anos, esse papa que ainda nem foi eleito vai morrer. Minha jovem amiga do primeiro parágrafo vai dizer que já viu essa história, mas alguém mais novo do que ela vai ficar fascinado. Não é bacana?

CD PLAYER

PLAY - "Too Much Love", LCD Soundsystem
É dance, punk e tecno. E o vocal me lembrou "Mexe a Cadeira", do Vinny. Simples e bacana, para quem gosta de se acabar na pista.

PAUSE - "Emigrante", Tanghetto
Tango eletrônico -argentino, é claro. Gostei do clima de trilha sonora. Mas teve gente que pegou no sono escutando. Tire a prova: www.tanguetto.com.

EJECT - Placebo aqui
Sei que é espírito de porco criticar um show internacional no Brasil. São tão poucas as bandas que vêm, a gente devia festejar. Mas Placebo não dá.


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