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Papa morto, iPod e Strokes
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
A morte do papa deixou perplexa uma amiga minha
de 20 e poucos anos.
Quando ela nasceu, João
Paulo 2º já era papa, e ela
nunca tinha pensando que um dia deixaria de ser. Tirei uma onda: "Quer dizer
que você não sabia que os papas também
morrem?". É claro que ela sabia, mas dá
pra entender por que ficou tão impressionada. É assim quando a história acontece,
escancarada, bem na nossa frente.
Lembro da morte do papa Paulo 6º, em
1978. Tinha 15 anos e fiquei maluco. Lia o
noticiário, decorava os nomes dos favoritos à sucessão. Mais doido ainda fiquei
quando o novo papa, João Paulo 1º, morreu um mês depois. Novo conclave, novos favoritos. Escolhi até um cardeal para
torcer, Pericle Felice, porque ele gostava
de música. Não ganhou, mas foi ele quem
anunciou, "habemus papam".
Todo mundo que acompanhava aquilo
ficava um pouco mais adulto. Acho fascinante saber que um mesmo acontecimento é visto de maneira diferente por
pessoas de idades diferentes. Para mim, a
morte de João Paulo 2º foi um grande desafio profissional, observado com certa
perspectiva histórica. Já para minha amiga, representava a novidade.
Não é muito difícil transpor esse tipo de
sensação para a música. Já pensou que,
daqui a alguns anos, existirá uma geração
para quem os Strokes vão ser uma banda
"das antigas"? Imagine um bebê que esteja nascendo agora. Daqui a uma década,
ele vai ver um anúncio de um tocador de
MP3 modernex dos dias de hoje, um iPod
por exemplo, e dizer: "Nossa, que tosco!".
Uma estagiária aqui do trabalho estava
contando que escutava Titãs. Eu, é claro,
chiei: "Titãs?". Resposta: "Álvaro, você é a
única pessoa que reclama de eu gostar de
rock antigo." Os músicos dos Titãs devem ter mais ou menos a minha idade.
Sempre achei a banda ruim e escrevi isso,
mas nunca pensei que veria alguém se referir a eles como "rock antigo"...
Daqui a alguns anos, esse papa que ainda nem foi eleito vai morrer. Minha jovem amiga do primeiro parágrafo vai dizer que já viu essa história, mas alguém
mais novo do que ela vai ficar fascinado.
Não é bacana?
CD PLAYER
PLAY - "Too Much Love",
LCD Soundsystem
É dance, punk e tecno. E o vocal me lembrou
"Mexe a Cadeira", do Vinny. Simples e bacana, para quem gosta de se acabar na pista.
PAUSE - "Emigrante",
Tanghetto
Tango eletrônico -argentino, é claro. Gostei do clima de trilha sonora. Mas teve gente que pegou no sono escutando. Tire a
prova: www.tanguetto.com.
EJECT - Placebo aqui
Sei que é espírito de porco criticar um show
internacional no Brasil. São tão poucas as
bandas que vêm, a gente devia festejar.
Mas Placebo não dá.
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