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comportamento
A internet encheu o saco
Frustração e cansaço levam jovens a abandonar o computador e a viver no mundo real
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Giovanna Caboclo, 16, e seu martelo, perfeito para quebrar o computador que não larga do seu pé |
JULIANA LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Você liga o computador e se conecta.
Mal o sistema carregou, entra no Orkut,
no MSN e abre o
Soulseek. Enquanto responde a
mais de dez "olás" no MSN,
checa novos recados no Orkut e
entra no fotolog de um desconhecido que te deixou um recado. As janelas do MSN pipocam
na tela: colegas de classe perguntam sobre o trabalho que
vão fazer on-line, seu namorado te dá bronca por causa de algum scrap. Então você abre seu
blog para desabafar quando
percebe que... está zonzo. Levanta da cadeira, olha o relógio
e entra em pane. Arranca o
computador da tomada e assume: "Cansei de internet!!!".
Essa história é parecida com
a de Ricardo Barbosa, 15, que
passou mal de tanto navegar na
rede há três meses. "Comecei a
ficar tonto, levantei assustado e
falei: "Meu, o que é isso? Passei
seis horas aqui! Não acredito!'"
E, o pior, ele não fazia nada
de útil: "Foi simplesmente uma
pausa na minha vida, não aconteceu nada". Depois desse episódio, Ricardo decidiu nunca
mais deixar de jogar futebol
nem de encontrar os amigos
para ficar na net. "Foi uma lição. Tem uma hora que chega",
diz o garoto, que desconfia ainda estar viciado.
Giovanna Caboclo, 16, de
Mogi das Cruzes, tomou uma
atitude radical aos 14 anos. "Ficava o dia inteiro no MSN, uma
coisa horrível. Falar pelo MSN
é fácil, porque você monta as
palavras direitinho. Mas ao vivo eu tinha medo de falar alguma besteira. Isso me deixava
nervosa", diz a estudante que,
para resolver seu problema de
ansiedade, ficou um ano sem
entrar na internet. "Na net as
pessoas querem parecer perfeitas e ficam fuçando as vidas das
outras. Você fica meio louca,
entende?"
Estudante de cursinho, Maria Reininger, 18, abandonou
blog e flog (blog com foto). "Encheu o saco. No começo é novidade, as pessoas comentam as
baboseiras que você escreve.
Depois, você cansa de ficar andando com a máquina fotográfica embaixo do braço para tirar fotos pro seu flog. Prefiro
gastar meu tempo jogando
rugby", conta a garota.
Alice Guenther, 15, tem vergonha de seu antigo fotolog,
que fez aos 12 anos. "Eu realmente não tinha o que fazer.
Colocava imagens sem noção
que eu encontrava na net, fotos
de professores ou daqueles gatos dentro da garrafa, sabe?",
conta Alice, que prefere estudar ou ficar mais tempo na rua.
Outro "cansado", o carioca
Tiago Gehrmann, 18, mal começou a navegar na net e já pegou raiva. "Quando me mudei
para São Paulo, tentei usar a
net para ficar acessível aos
meus amigos, mas pra mim é
inútil. Amo ler, mas detesto ler
no computador", diz Tiago, que
vai prestar Filosofia na USP e é
fã do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche.
Se alguma dessas histórias
parece a sua, comemore. Seu
"sistema" interno "deu pau", e
você percebeu. Descobriu que
existe vida lá fora, onde se pode
praticar esportes, fazer um
agrado no cachorro, ir ao cinema, ler um livro divertido.
Coisas que alguns adolescentes estão percebendo pelos
mais diferentes motivos, mas
quase sempre estresse, frustração e tédio (até no Orkut há comunidades para falar mal da
internet).
Contramão
Esses depoimentos, no entanto, parecem vir na contramão de dados estatísticos.
Uma pesquisa do Ibope de
março deste ano revelou que os
internautas domiciliares brasileiros são campeões mundiais
de horas de navegação -21 horas e 30 minutos por mês, em
média- batendo até os japoneses.
"Esses jovens que acordaram
pra vida podem ser uma luz no
fim do túnel", diz Rosa Maria
Farah, coordenadora da clínica
de psicologia da PUC-SP, que
percebeu o aumento da procura de adolescentes em sua clínica por conta do uso excessivo
da internet. "As reclamações
antes só vinham de parentes",
completa.
Achar que a rede não serve
para nada também não é a solução, porque há um mundo de
coisas produtivas que ela oferece. O problema é quando as delícias da vida virtual roubam
muito tempo da vida "real".
"A internet é um campo de
ensaios de coisas boas e ruins",
diz o professor Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do
projeto Dependentes de Internet do Hospital das Clínicas.
"O que se deve é promover
um uso mais lúcido, menos
deslumbrado, com objetivos",
aconselha Farah.
Moisés Balassiano, coordenador do Núcleo de Estudos de
Carreiras da Fundação Getúlio
Vargas pesquisa jovens craques
em jogos eletrônicos e ainda
incentiva: "Jovens que se dão
bem no mundo digital podem
focar isso para a carreira eles".
Ou seja, dá pra aproveitar o
mundinho dentro e fora da net,
sem perder o rumo da vida.
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